Por que a senhora adotou a causa da demência? As pessoas não reconhecem a demência como doença. Era assim também na Suécia 25 anos atrás, quando minha mãe, Alice, ficou doente. Tive a ajuda de duas enfermeiras que haviam trabalhado antes com gente idosa. Mesmo assim, percebia que havia problemas.
Poderia citar de que tipo? Por exemplo: de repente, mamãe, que era brasileira, não conseguia mais passar de um quarto para o outro, um caminho que ela sempre percorria no palácio. Quando relatei isso a uma especialista, ela perguntou se havia tapete no caminho e qual a cor dele. Eu disse que sim, havia um tapete azul-esverdeado. Ao que ela me respondeu: “Para uma pessoa com demência, esse tapete é um buraco”. E nos orientou a trocá-lo por outro de cor vermelha, amarela, algo mais alegre.
O que isso a ensinou? Os familiares precisam entender que é nosso dever saber lidar com a demência, porque é uma doença, não aquela ideia de “a gente ficou velha e é assim mesmo”.
O que sua fundação tem feito para mudar esse cenário? Comecei com uma escola para enfermeiras e assistentes e hoje temos cursos para outros profissionais, como médicos, dentistas, motoristas e taxistas, porque eles precisam saber como lidar com um passageiro que não lembra onde mora, e até funcionários de bancos, que precisam orientar pessoas com demência que têm contas e investimentos. Tivemos o caso de um casal no qual ela tinha demência; ele, não, e fazia tudo por ela, até que a situação ficou tão complicada que precisaram de ajuda. Pensei em como facilitar a vida de quem cuida de alguém com demência. Criamos um lar com apartamentos adaptados para essa finalidade.
Por que a senhora instituiu um prêmio que reconhece enfermeiros com trabalhos inovadores? Perguntamos a eles sobre algo que melhorasse o cuidado. E coisas interessantes surgiram. Um grupo criou um cinto com air bag, acionado quando o idoso cai, que evita que ele frature os quadris. É bonito ver esse tipo de solução vinda de quem vivencia o cuidado na prática.
Publicado em VEJA de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817
Fonte: Veja