A recente ‘despublicação’ de estudos que reacendem o debate sobre os riscos do glifosato trouxe à tona uma das discussões mais complexas do agronegócio moderno: como equilibrar a eficácia produtiva com a segurança sanitária e ambiental. Em entrevista esta semana, o engenheiro agrônomo Eduardo Dal Forno, que atua em Lucas do Rio Verde, ofereceu uma análise técnica ponderada, reconhecendo potenciais riscos crônicos do produto, defendendo seu papel como ferramenta agrícola essencial e traçando um caminho futuro para uma agricultura menos dependente de insumos químicos.
“Pode ser que o glifosato tenha um efeito a longo prazo crônico”, admitiu Dal Forno, ao comentar as novas pesquisas. Ele atribui parte do risco potencial a uma falha na percepção de perigo por parte dos usuários. “Os herbicidas não têm uma ação tão tóxica aguda quanto os inseticidas. Pela falta dessa intoxicação aguda, o usuário acaba facilitando ou diminuindo um pouco o uso de cuidados”, explicou. O profissional alertou que essa relaxamento nas medidas de proteção individual pode ser um fator subjacente a problemas de saúde de manifestação lenta.
Ferramenta indispensável, mas que exige cuidado
Questionado se os produtores devem abandonar o defensivo – um dos mais utilizados globalmente –, Dal Forno foi categórico: “O glifosato continua sendo um produto que todo mundo conhece… é uma ferramenta muito útil”. No entanto, o cerne de sua recomendação é uma mudança de postura. “O que devemos fazer é prestar mais atenção na forma de uso e nos cuidados com o manuseio. Os cuidados devem ser tomados assim como são para o uso de algum produto que tenha uma ação mais aguda no ser humano”.
O agrônomo também buscou contextualizar o uso de defensivos perante a sociedade. “O agricultor é ciente, porque custa, é caro. Ele não faz o uso indiscriminado porque quer; usa quando há necessidade”, afirmou, rebatendo a ideia de aplicação irresponsável. Ele reconheceu, porém, a existência de um ciclo vicioso: “O uso contínuo de agroquímicos, mesmo sendo necessário, provoca um ciclo: quanto mais se usa, mais se precisa usar”.
O futuro: bioinsumos, genética e manejo integrado
A visão de Dal Forno, contudo, não se prende ao paradigma químico. Ele enxerga uma transição em curso, ainda que gradual. “É possível que em um segundo momento o uso de agroquímico seja diminuído em detrimento do uso de biotecnologias”, projetou, citando o avanço de bioinsumos, modificações genéticas, consórcios e rotação de culturas como alternativas para restaurar o equilíbrio ambiental e reduzir a necessidade de intervenções químicas.
“Para nós mudarmos uma cultura, um status quo, precisa ser feito um trabalho de longo prazo, mas é possível”, concluiu, otimista. “É possível hoje nós utilizarmos menos agroquímicos e utilizarmos mais da natureza para fazer o próprio controle da natureza”.
A análise do especialista delineia, portanto, um triplo caminho para o setor: 1) Rigor imediato no manejo de produtos já consolidados como o glifosato; 2) Compreensão pública da necessidade racional dessas ferramentas na agricultura extensiva atual; e 3) Investimento firme em pesquisa e adoção de tecnologias que permitam uma redução sustentável da dependência de químicos no médio e longo prazos. O debate, assim, migra da simples condenação ou defesa para um terreno mais produtivo: o da gestão responsável e da inovação rumo a um sistema mais equilibrado.
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Fonte: cenariomt






