Há alguns dias eu estava assistindo à história de Carlinhos de Jesus, um dos nossos maiores dançarinos, que vinha desenvolvendo suas atividades na dança normalmente, até que em 2022 veio o diagnóstico de uma doença autoimune, que lhe causava fortes dores e afetou gravemente seus movimentos e sua locomoção.
Por causa disso, Carlinhos de Jesus precisou ir para a cadeira de rodas, e isso poderia se estender por muitos anos ou pelo resto de sua vida, mas seu desejo de retornar aos salões de dança foi maior que sua dor. Contra sua vontade, lentamente foi perdendo seu movimento e agora com força de vontade, lentamente está a recuperá-lo.
Assim como esta, há muitas outras histórias de superação, mas nem sempre é uma tarefa fácil. Superação não é simplesmente refazer algo ou fazer algo maior do que se faz, é reconstruir uma vida depois que ela foi em parte desmontada. Superação é um movimento que, às vezes, surge por meio de um brado, que clama por ir além de seus limites; às vezes navega no silêncio da dor. Superação é aprender a andar sobre pedras, mesmo depois que nos arrancam os sapatos.
Todos gostaríamos de ter uma vida normal, com momentos bons e algumas vezes não tão bons; com períodos fáceis e outros com alguma dificuldade; mas jamais gostaríamos e nem imaginaríamos ter que passar por grandes obstáculos. Infelizmente esses existem e não são simples dificuldades, nem descompassos, são passos que se perderam e que precisamos fazer algo para recuperá-los ou substituí-los.
Os obstáculos certamente nos trazem dores que nos deixam cicatrizes, que gostaríamos de esquecer. Esta porém não é a realidade, não esquecemos das marcas que estão perpetuadas em nossa pele. O ideal é que possamos vê-las e senti-las sem nos incomodar com elas. A isso se chama elaboração da dor.
Assim seguimos em frente, fazemos da dor experiência de vida, transformamos o passado em aprendizado. As cicatrizes serão as marcas contadas na história da vida, de como nos ferimos, que fomos inicialmente frágeis perante a dor e que, finalmente, superamos o que antes parecia insuperável. É importante ter em mente que para superar o obstáculo, havemos antes de admiti-lo, sentir a dor do tombo e, então, encontrar forças para levantar do chão.
Devemos saber que a tristeza existe mas não podemos deixar que ela nos domine. A superação nem sempre é uma tarefa fácil, tal qual a abordamos na teoria, mas sabemos que é possível, haja vista os exemplos dos quais tomamos conhecimento. Superar é sair da inércia mesmo quando tudo nos diz que não há mais movimento, que não temos mais passos a dar, é quando tentamos ao invés de dizer que não mais conseguiremos.
Um fato importante saber é que a superação começa a existir na vida de alguém de forma solitária; na maioria das vezes, porém, ela é corroborada pelo apoio de outras pessoas que enfrentam o mesmo obstáculo ou não. Para que exista a superação na vida de alguém, há de haver humildade para reconhecer sua própria fragilidade e aceitar o apoio alheio, a mão estendida, oferecidos no momento certo.
Superar não é algo que vai nos evitar a queda, mas que nos ensina a levantar toda vez que caímos. Não somos inquebráveis, e quando quebramos, aprendemos a juntar os cacos e permanecer de pé. Vencer desafios é acumular sabedoria, é evoluir. Superar não é fingir que está bem, nem ignorar a dor, é ser humilde e usar o que tem de recursos para operar mudanças na vida.
Nem sempre é possível superar sozinho. Familiares, amigos e grupos de apoio podem ser de grande valia; muitas vezes há necessidade de ajuda de um psicólogo ou de um psiquiatra para adquirir resiliência e adaptar-se a mudanças e enfrentamento de desafios e assim fazer do seu problema mais uma história de superação. Superar é inspirar outras pessoas ao redor de si; é promover saúde mental.
Fonte: primeirapagina






