O atraso no plantio da soja em Mato Grosso e a irregularidade das chuvas nas principais regiões produtoras começam a desenhar um cenário mais desafiador para a sequência da temporada, com reflexos diretos sobre o milho segunda safra. Produtores relatam lavouras com porte atrasado, estandes falhados e dificuldades para tomar decisões de replantio diante dos custos elevados.
Mato Grosso encerrou o plantio da soja com uma das operações mais longas dos últimos anos. Conforme o presidente da Aprosoja Mato Grosso, Lucas Costa Beber, houve propriedades que levaram mais de um mês e meio para concluir a semeadura. “Foi um plantio desafiador que teve um andamento muito rápido no início e no final ficou atrasado atrás da média dos últimos cinco anos, ou seja, reflete em um dos plantios mais longos da história”, explica ao Patrulheiro Agro desta semana.
Ele lembra que, embora a semeadura tenha sido concluída, os volumes de chuva continuam abaixo da média em boa parte do estado, com localidades registrando menos de quatro milímetros diários nos últimos 30 dias. “Isso preocupa bastante. A soja ficou com um porte mais atrasado”.
As temperaturas extremas no início de novembro reforçaram o estresse das plantas, aumentando a necessidade hídrica e elevando o risco de perdas. “O ano passado o estado fechou com 66 sacas de média. Esse ano, no início, o Imea projetava 60, que seria algo mais realista. (…) Hoje nós dificilmente ultrapassamos 58 sacas por hectare no estado ou pode ser até menos”, observa o presidente da Aprosoja Mato Grosso.
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Segundo ele, a perda de potencial produtivo deve pesar na rentabilidade. “O produtor precisa de mais sacas de soja para pagar suas contas e há seis meses atrás o Imea mostrava que, considerando só a cultura da soja, o produtor que paga arrendamento estava com R$ 600 de prejuízo, quase seis sacas por hectare”.
Com lavouras mal distribuídas e falhas pontuais, muitos tiveram de decidir entre replantar ou seguir com a área comprometida — uma escolha que pode custar entre 6 e 10 sacas por hectare, somando tecnologia, dessecação, sementes e tratamento. “Isso preocupa muito. (…) Além da saca de soja perder o poder de compra, tudo tem aumentado de preço”, reforça Beber.
Paranatinga e Canarana já trabalham fora da janela do milho
O avanço tardio da soja pressiona o cronograma do milho segunda safra em diversas regiões. Em Paranatinga, o presidente do Sindicato Rural, Carlinhos Rodrigues, confirma que a janela está praticamente encerrada.
“Para milho mesmo Paranatinga praticamente já fechou a janela e para outras culturas já começa a entrar no risco depois da colheita e o plantio da segunda safra”, comenta à reportagem do Dia de Ajudar Mato Grosso. Ele destaca ainda que parte dos produtores enfrenta dificuldades com crédito e custos, o que deve deixar algumas áreas sem plantio.


A situação é semelhante em Canarana. O diretor do Sindicato Rural do município, Camilo Ramos, reforça que não há mais espaço seguro para o milho. “O milho segunda safra já fechou, não tem mais janela para plantar. O ano passado já não foi a área que Canarana tem potencial para plantar, (…) então já teve uma redução”, lembra.
No município, a cultura deve ocupar aproximadamente 120 mil hectares nesta temporada, conforme dados do Sindicato Rural. E, para Ramos, falar em “safrinha” já não condiz com o peso econômico da cultura. “Não se pode nem falar em safrinha mais, é segunda safra pelo tamanho da importância no cenário econômico que a gente vive”, frisa.
Atraso e clima elevam risco para o milho
Em Água Boa, as dificuldades enfrentadas pelos produtores tornam o cenário ainda mais cauteloso. O presidente do Sindicato Rural, Geraldo Antônio Delai, prevê redução no ritmo do plantio e até devolução de pacotes tecnológicos.
“Com os preços atuais e com as condições atuais, com as dificuldades que os agricultores estão passando, nós teremos sim uma dificuldade na nossa região de plantio de milho safrinha. Quem plantar agora já está no risco. Sabe de muitos produtores que, inclusive, já entregou, devolveu os pacotes de milho para revendas”, afirma ao Dia de Ajudar Mato Grosso.


Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que, apesar do atraso, a área destinada ao milho segunda safra em Mato Grosso deve crescer 1,83% frente ao ciclo passado, totalizando 7,39 milhões de hectares. A produtividade estimada caiu para 116,61 sacas por hectare, e a produção prevista é de 51,7 milhões de toneladas.
O cenário, porém, é de maior risco para as áreas plantadas por último. Conforme Lucas Costa Beber, o produtor tende a semear mesmo em condições adversas, já que grande parte das sementes é adquirida antecipadamente. “Fica difícil de devolver, (…) então ele vai semear, mas em um risco maior e com um investimento menor também”, pondera.
A Aprosoja Mato Grosso estima que os 60% finais do plantio do milho devem ficar fora da janela ideal, sendo que os últimos 40% podem enfrentar atrasos mais graves. “Esses sim devem ficar mais atrasados, comprometendo a safrinha do milho”, conclui o presidente da entidade.
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Fonte: canalrural






