Direto De Brasilia

Crise entre poderes coloca Lula em risco e fortalece a oposição no Congresso: entenda os desdobramentos

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A crise entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o comando das duas Casas do Congresso ganhou contornos institucionais e abriu possibilidades para a oposição agir. O rompimento de Hugo Motta e Davi Alcolumbre com líderes governistas desencadeou uma sequência de derrotas ao Executivo e antecipou movimentos decisivos, como a marcação da sabatina de Jorge Messias para 10 de dezembro — o que eleva o risco de o presidente sofrer um revés na indicação ao STF. Nesse ambiente de atrito aberto entre os poderes, líderes da direita e do Centrão veem chance de avançar em pautas estratégicas, como a anistia, enquanto o governo tenta conter a erosão de sua base em meio à escalada eleitoral rumo a 2026.

Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo observam, porém, que os desdobramentos dessa ruptura dependerão da capacidade de articulação entre o grupo mais próximo de Jair Bolsonaro (PL) e o Centrão, que ainda busca consolidar uma candidatura presidencial única de direita e centro-direita para 2026. O cálculo eleitoral passou a orientar cada movimento de governo e oposição, que miram os efeitos imediatos às suas estratégias.

Diante desse cenário, a piora do clima entre Executivo e Congresso reacendeu na direita a expectativa de avanço da proposta de anistia ou da dosimetria para condenados do 8 de janeiro — tema que ganhou urgência após a prisão preventiva de Bolsonaro, no último sábado (22), convertida em início do cumprimento da pena nesta terça-feira (25).

Líderes oposicionistas avaliam que a crise do governo abre caminho para que o Centrão capitalize o desgaste do Planalto e aceite negociar a matéria. Motta, porém, avisou que só aceita discutir a versão relatada por Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que reduz penas, e não a anistia ampla defendida pelo PL.

Mesmo após intensa mobilização dos aliados de Bolsonaro, Motta argumentou que aprovar anistia total poderia gerar confronto com o Senado e o STF. A dosimetria, nesse sentido, seria um avanço possível — inclusive para reduzir eventuais punições de Bolsonaro. Do outro lado, Alcolumbre, que se tornou a principal barreira à oposição nos últimos meses, acena apoio a esse formato moderado.

No Senado, a oposição apresentou um projeto que pode reduzir a pena imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe. A proposta do senador Carlos Viana (Podemos-MG) elimina da legislação os crimes de abolição do Estado Democrático de Direito e de golpe de Estado – os mais graves atribuídos a Bolsonaro. Se a medida for aprovada, a condenação de Bolsonaro passaria de 27 anos para cerca de seis anos e evitaria o regime fechado. Viana afirma já ter reunido as 35 assinaturas necessárias para solicitar urgência na tramitação, pedido feito pelo senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da Oposição na Casa.

Leandro Gabiati, professor de Ciência Política do Ibmec-DF, avalia que o atual distanciamento entre Executivo e Congresso tende a aprofundar a dificuldade de construir consensos. “Por sua própria natureza, os poderes são forçados a dialogar. Quando essa interação se rompe, quem perde mais é sempre o Executivo”, pondera.

Tensão eleitoral deve dominar o Congresso até 2026, diz analista

Para João Henrique Hummel, cientista político da Action Consultoria, a deterioração simultânea das relações de Lula com as duas Casas tende a produzir um fim de ano especialmente difícil para o governo e configurar o início de uma escalada que se estenderá até a eleição presidencial. “Como Lula segue sem cumprir promessas e perde tração, chegou o momento de a maioria do Congresso escolher um lado e articular seu próprio candidato”, afirma.

Hummel destaca que o Legislativo está concentrado em aprovar o Orçamento rapidamente para garantir impacto das emendas já no início de 2026. Entretanto, a pauta foi travada tanto pela crise em torno do projeto antifacção — agora no Senado — quanto pela indicação de Messias ao STF, cujo apoio se enfraqueceu.

A prisão de Bolsonaro adicionou mais pressão ao ambiente e reativou a agenda da direita em torno da anistia, ao mesmo tempo em que o escândalo das fraudes do Banco Master ampliou o desconforto da classe política.

Com múltiplos vetores de crise concentrados, Hummel avalia que a agenda legislativa será inteiramente filtrada pela disputa presidencial. Faltando 10 meses para as urnas, cada movimento no Congresso será guiado pela lógica eleitoral.

Episódios recentes deflagraram reação conjunta incomum de Câmara e Senado

A deterioração simultânea das relações de Motta e Alcolumbre com o governo teve como gatilhos dois episódios que expuseram o crescente mal-estar do Centrão, especialmente diante de críticas públicas de Lula sempre que sofre derrotas no Congresso.

O primeiro estopim ocorreu após a aprovação do projeto antifacção. Embora fosse uma iniciativa do governo, a Câmara deslocou sua relatoria para a oposição e alterou o conteúdo em pontos sensíveis, irritando o Palácio do Planalto. O segundo episódio se deu quando Lula anunciou Jorge Messias, o advogado-geral da União, como indicado à vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) sem consultar Alcolumbre — que trabalhava pela escolha do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A reação mais rápida veio do Senado. Na terça-feira (25), Alcolumbre aprovou por unanimidade o projeto que cria aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde e de combate às endemias — medida com impacto fiscal de ao menos R$ 24 bilhões em 10 anos. A “pauta-bomba” foi interpretada como retaliação direta ao Planalto.

A ausência de Motta e Alcolumbre na cerimônia de sanção da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, nesta quarta-feira (26), escancarou o tamanho da crise, apesar da tentativa de líderes governistas de minimizar o fato.

Alcolumbre, até então aliado fiel de Lula, impõe derrotas seguidas ao seu governo

Horas antes desse revés fiscal, Alcolumbre encurtou de forma drástica o calendário da indicação de Messias ao STF, marcando sua sabatina para 10 de dezembro e dificultando a obtenção dos 41 votos necessários. A decisão elevou o risco político da escolha presidencial.

Em nova ofensiva, o presidente do Senado pautou a análise dos vetos de Lula ao projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental — tema prioritário para oposição e agronegócio — além de incluir na mesma sessão a votação sobre crédito suplementar de R$ 42 bilhões para a Previdência e a ampliação de cargos do MEC.

O movimento reverteu um gesto anterior de conciliação: semanas atrás, o próprio Alcolumbre havia adiado a análise desses vetos a pedido do governo. Nem a anunciada autorização para explorar petróleo na Foz do Amazonas, de interesse direto do senador, foi suficiente para conter o desgaste.

Fonte: gazetadopovo

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