Economia

COP 30: Entenda o Vexame de R$ 5 Bilhões na Conferência do Clima

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Mesmo para o mais fervoroso apoiador da agenda do catastrofismo climático, salta aos olhos que, para o governo brasileiro, o rescaldo da conferência climática COP 30 pode ser descrito, sem má vontade, como um vexame amazônico.

Nem é preciso mencionar os múltiplos problemas da infraestrutura improvisada para o evento em uma cidade como Belém, sabidamente sem condições de sediar uma conferência internacional com mais de 50 mil pessoas — problemas que culminaram no incêndio ocorrido na chamada Blue Zone, na última sexta-feira, 21, que obrigou a evacuação das instalações e a paralisação dos trabalhos por mais de seis horas.

O maior golpe para os organizadores foi terem sido forçados a contrariar a própria proposta de estabelecer um “mapa do caminho” para a eliminação dos combustíveis fósseis, feita pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pressionada pelas grandes potências petroleiras e pelos maiores consumidores de hidrocarbonetos — Rússia, Arábia Saudita, China, Índia e outros —, a presidência da COP retirou da declaração final qualquer menção ao tema, provocando ferozes reações dos “descarbonizadores”.

De imediato, Colômbia e Holanda reuniram um grupo de 30 países para anunciar a realização de uma Conferência Internacional para a Eliminação Progressiva dos Combustíveis Fósseis, na Colômbia, em abril de 2026.

Nem mesmo o desmatamento, outro cavalo de batalha do Brasil, teve o privilégio de ser objeto de um “mapa do caminho”, apesar do discurso nacional sobre um ilusório “desmatamento zero” até 2030

Como um mambembe prêmio de consolação, o presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago, prometeu que o Brasil apresentará um “mapa” próprio para ambos os tópicos. Resta ver quem o levará a sério.

Outra desmoralização coube aos cientistas do pavilhão Ciência Planetária, liderados pelo brasileiro Carlos Nobre e pelo sueco Johan Rockström, parceiros na ONG Guardiões Planetários, cujo espaço ficou praticamente às moscas. Os dois passaram a conferência reclamando que os negociadores não os procuravam para ouvir a “palavra da ciência” e, ao final, divulgaram um documento qualificando a ausência do “guia rodoviário” como “uma traição à ciência e às pessoas”.

Sem surpresa, os ambientalistas compartilham a apoplexia e a linguagem inflamada dos cientistas. Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace, qualificou o texto como “praticamente inútil”. Já Márcio Astrini, coordenador-geral do Observatório do Clima, preferiu apontar o dedo, dizendo que a conferência deixou claras as diferenças entre “os que querem salvar o mundo e os que querem salvar o sistema”. Modesto e humilde o moço, não?

Outro fiasco esperado foi a ausência de qualquer definição sobre o “financiamento climático”, a ilusória expectativa de que os países em desenvolvimento receberiam montanhas de dinheiro a fundo perdido das nações industrializadas para financiar uma “transição energética justa”.

O documento final registra apenas a concordância em se fazerem “esforços” para triplicar o financiamento para a adaptação climática até 2035, mas sem qualquer compromisso formal quanto à origem dos valores ou seu montante.

Da mesma forma, é incerta a viabilidade do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, menina dos olhos de Lula & cia., para o qual pretendiam atrair pelo menos US$ 10 bilhões em compromissos firmes em Belém (ver a coluna da semana passada). Ao final, mesmo com a meia-volta da Alemanha, que havia decidido não participar, não se chegou nem a US$ 7 bilhões, a maior parte condicionada ao atingimento da meta original nos próximos meses, o que ainda está por se ver.

No frigir dos ovos, o desfecho denota o equívoco de condicionar a política externa brasileira à agenda encarnada por Marina Silva e sua colega Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, além da pretensão de Lula de apresentar-se como líder ambiental global.

Nem mesmo Marina, apesar de aplaudida de pé na sessão final, conseguiu disfarçar a decepção com os resultados. “Sonhávamos com mais resultados”, admitiu.

De fato, nenhum retoque retórico pode ocultar o vexame de Belém — e um vexame bastante caro, considerando os mais de R$ 5 bilhões empregados na “maquiagem” da capital do Pará para receber a conferência, que poderiam ter tido aplicações incomparavelmente mais úteis para os paraenses e para o país.

Fonte: gazetadopovo

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