Cientistas de diferentes países e regiões do Brasil viajaram a Belém para participar da COP30 – em específico, do Pavilhão de Ciências Planetárias, que fica localizado na Zona Azul (Blue Zone). O espaço foi solicitado pela presidência da COP30 e é o primeiro pavilhão oficial exclusivamente dedicado à ciência em uma COP.
O pavilhão é presidido por Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático, e Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia. Na última sexta-feira (14) e nesta segunda (17), esses e outros pesquisadores resumiram as principais conclusões científicas apresentadas na última semana, e como elas deveriam servir de base para as negociações da semana 2.
Um dos tópicos mais citados é o “orçamento de carbono” (carbon budget), uma forma de quantificar o CO2 lançado na atmosfera. Essas emissões se traduzem em aumento da temperatura global. Para mantermos o termômetro abaixo de 1,5ºC, limite estabelecido no Acordo de Paris, podemos emitir, no máximo, 170 bilhões de toneladas de CO2. Esse é o “orçamento” restante se quisermos ficar abaixo de 1,5ºC.
O problema é que o planeta emitiu 38,1 bilhões de toneladas de CO2 só em 2025. Nesse ritmo, atingiremos o aumento de 1,5ºC em quatro anos, descumprindo o Acordo de Paris. O relatório Global Carbon Budget, apresentado na primeira semana da COP30, aponta um aumento de 1,1% das emissões de CO2 em 2025.
“A maior parte do orçamento de CO2 que impulsiona o aquecimento a 1,5ºC já foi emitido, majoritariamente pelas maiores economias globais”, declaram os pesquisadores. “Agora, na metade da década, quando as emissões globais já deveriam estar caindo, elas continuam a crescer. É inaceitável.”
Se ultrapassarmos o limite de 1,5ºC, como é provável que aconteça, o risco de cruzar os “pontos de não retorno” aumenta. Esses são pontos em que os ecossistemas perdem a capacidade de se regenerar, quebrando a harmonia da coisa.
Os cientistas pedem atenção especial aos recifes de corais tropicais e ao bioma amazônico. É muito provável que os corais, que abrigam um terço de toda a vida marinha, já tenham atingido o ponto de não retorno. Isso é consequência do aquecimento e acidificação do oceano, impulsionado pelas emissões de combustíveis fósseis.
Estima-se que o mundo já tenha perdido entre 30% e 50% de todos os recifes de corais. Mais de 80% dos corais restantes sofreram branqueamento severo nos últimos três anos.
Já a Amazônia sofreu uma das piores secas já registradas nos últimos dois anos. Devido às mudanças climáticas, secas severas já são 30 vezes mais prováveis. Essas condições, por sua vez, favorecem as queimadas, que resultaram em 140 mil incêndios florestais nas últimas duas décadas.
“Cada aumento de 0,1ºC na temperatura global resulta em impactos e riscos substancialmente maiores, incluindo ondas de calor mais letais, incêndios florestais mais frequentes e intensos, tempestades e precipitações extremas, com dano ainda maior a comunidades vulneráveis, economias frágeis e populações indígenas”, relatam os pesquisadores do Pavilhão.
Para se manter na trilha do Acordo de Paris, precisaríamos reduzir nossas emissões em 5% por ano. No atual cenário, no entanto, caminhamos para uma redução cumulativa de 5% ao longo dos próximos 10 anos.
O pedido dos cientistas
Os países que assinaram o Acordo de Paris, em 2015, se comprometem a manter o aquecimento do planeta abaixo de 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais. Só que não está claro como fazer isso. Faz apenas dois anos, na COP28, que os países concordaram em transicionar para longe do uso de combustíveis fósseis.
Por esse motivo, os pesquisadores do Pavilhão de Ciências Planetárias pedem aos Chefes de Delegação dos países um roteiro claro (roadmap) para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e preservação das florestas tropicais, de forma a zerar o desmatamento.
“À medida que os negociadores se encontram nos próximos dias, o desenvolvimento de caminhos para a eliminação dos combustíveis fósseis deve ser a maior prioridade. É a única opção para evitar uma crise planetária”, escrevem os cientistas. “É impossível impedir o aumento de temperaturas sem a eliminação rápida dos combustíveis fósseis. Isso é física”.
A declaração foi assinada por Carlos Nobre, do Painel Científico da Amazônia; Chris Field, da Universidade de Stanford; Fatima Denton, da Universidade das Nações Unidas; Johan Rockström, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático; Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira; Piers Forster, da Universidade de Leeds; Ricarda Winkelmann, do Instituto Max-Planck de Geoantropologia; Thelma Krug, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; e Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo.
Fonte: abril






