Saúde

Cientistas identificam nova espécie de abelha Lúcifer com chifres impressionantes

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Uma abelha com minúsculos chifres no rosto e aparência “diabólica” foi descoberta nos campos auríferos da Austrália Ocidental. Batizada de Megachile (Hackeriapis) lucifer, a espécie foi descrita pela bióloga Kit Prendergast, da Universidade Curtin, e pelo entomólogo Joshua Campbell, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

O estudo, publicado no Journal of Hymenoptera Research, é o primeiro a identificar um novo membro desse grupo em mais de 20 anos.

A abelha foi encontrada durante levantamentos de uma flor silvestre criticamente ameaçada, a Marianthus aquilonaris, que cresce apenas na Serra de Bremer, entre as cidades de Norseman e Hyden. A coleta ocorreu em novembro de 2019, no auge da floração da planta, quando Prendergast realizava observações de polinizadores locais.

“Descobri a espécie enquanto pesquisava uma planta rara nos campos auríferos e notei essa abelha visitando tanto a flor silvestre ameaçada quanto uma árvore mallee próxima”, relatou a pesquisadora em comunicado.

Intrigada pela aparência da fêmea, que exibia “uns chifres pequenos e incríveis no rosto”, ela decidiu descrevê-la formalmente. “Quando estava escrevendo a descrição da nova espécie, eu estava assistindo à série Lúcifer da Netflix, e o nome simplesmente combinou perfeitamente. Eu também sou uma grande fã do personagem Lúcifer, então foi uma escolha óbvia”, contou.

O artigo descreve em detalhe a anatomia do inseto. A fêmea mede cerca de 10 milímetros e possui dois chifres triangulares voltados para cima e para fora, localizados no clípeo (a parte frontal da cabeça). Cada um tem aproximadamente 0,9 milímetro, quase metade da largura do rosto. Já o macho, sem os chifres, apresenta coloração mais clara na extremidade do corpo.

Para confirmar que ambos pertenciam à mesma espécie, os cientistas recorreram ao DNA barcoding, técnica que compara sequências genéticas padronizadas com bancos de dados internacionais. O resultado mostrou que o material genético da M. lucifer não correspondia a nenhuma espécie conhecida. 

“O código de barras de DNA confirmou que o macho e a fêmea eram da mesma espécie e que não correspondiam a nenhuma abelha conhecida nos bancos de dados”, explicou Prendergast. Os espécimes de referência foram depositados no Museu da Austrália Ocidental.

Os pesquisadores não sabem ao certo para que servem os chifres, encontrados apenas nas fêmeas. Modificações semelhantes no clípeo ocorrem em outras espécies do mesmo gênero, Megachile, e podem estar relacionadas à construção de ninhos, à coleta de resina ou à defesa contra competidoras e parasitas. 

“Em outras espécies, como Osmia cornuta, as fêmeas usam o chifre para lutar contra inimigos naturais, principalmente enquanto estão no ninho”, descreve o estudo. Outra hipótese é que a estrutura ajude a manipular flores específicas, o que explicaria a associação da M. lucifer com a Marianthus aquilonaris e com o eucalipto Eucalyptus livida.

Desde 2019, a abelha só foi registrada na pequena faixa da Serra de Bremer, no interior da Austrália Ocidental. Pesquisas posteriores, realizadas em 2021 e 2024, não encontraram novos indivíduos. 

Isso levou os autores a classificá-la como potencialmente ameaçada, seguindo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). A região é afetada por mineração, queimadas e mudanças climáticas – fatores que também ameaçam a flor que a abelha visita.

“Como a nova espécie foi encontrada na mesma pequena área que a flor silvestre ameaçada de extinção, ambas podem estar em risco devido à perturbação do habitat e a outros processos ameaçadores, como as mudanças climáticas”, alertou Prendergast.

Ela enfatiza que “muitas empresas de mineração ainda não fazem levantamentos de abelhas nativas, então podemos estar deixando de identificar espécies ainda não descritas, incluindo aquelas que desempenham papéis cruciais no suporte a plantas e ecossistemas ameaçados”.

A descoberta da Megachile lucifer reforça o quadro preocupante da crise de polinização na Austrália. O país abriga mais de 1.700 espécies de abelhas nativas, mas a maioria nunca foi estudada ou sequer identificada formalmente. “Sem um nome científico, conservar polinizadores indígenas e seus serviços de polinização para flora ameaçada torna-se um desafio”, escrevem os autores no artigo.

Por isso, Prendergast defende a criação de áreas protegidas e o monitoramento sistemático de abelhas nativas. “Sem saber quais espécies existem e de quais plantas dependem, corremos o risco de perder ambas antes mesmo de percebermos que elas estão lá”, afirmou.

A pesquisadora espera que a curiosa “abelha do diabo” ajude a iluminar a importância dos pequenos polinizadores que mantêm vivas as plantas mais raras do continente.

Fonte: abril

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