Há uma revolução silenciosa acontecendo no Brasil. Ela não nasce das grandes capitais ou dos gabinetes do poder, mas das casas simples, onde o cuidado é um gesto diário, feito com afeto e por meio de um trabalho invisível que percorre gerações. É nos lares – onde se acolhe uma pessoa idosa, uma mãe acamada ou alguém com dependência funcional – que começa a ser redesenhado o novo mapa do bem-estar social. O que antes era visto como caridade ou dever familiar agora é reconhecido como um direito e uma política pública.
Em outubro, mês em que se celebra o Dia Internacional do Cuidado e Apoio, o estado do Paraná reafirmou sua posição na vanguarda desse movimento. Com a criação do Programa Bolsa Cuidador Familiar, instituído por decreto do governador Carlos Massa Ratinho Junior, o estado dá um passo histórico ao colocar o cuidado no centro de sua estratégia de desenvolvimento humano, reconhecendo-o como ato de responsabilidade coletiva e eixo estruturante de uma sociedade mais justa. Receber cuidado é um direito. Cuidar é um dever compartilhado do Estado, da família e da comunidade.
Ao incentivar e apoiar quem cuida, o Estado não apenas reconhece esse trabalho, mas o insere na economia produtiva, gerando renda, autonomia e pertencimento. É política social com efeito multiplicador
Durante muito tempo, acreditou-se que o cuidado bastava por si só. Mas, quando ele não é amparado por política pública, transforma-se em sobrecarga – quase sempre feminina, invisível e exaustiva. Com a Bolsa Cuidador Familiar, o Paraná rompe esse ciclo e inaugura a fase de reconhecimento e valorização de quem cuida.
O programa concede um auxílio mensal de meio salário mínimo (R$ 759,00 em 2025) às famílias em vulnerabilidade que se dedicam ao cuidado de pessoas idosas com menor autonomia e em fragilidade clínico-funcional. Mais do que apoio financeiro, é um gesto de reconhecimento e respeito. A Bolsa Cuidador Familiar garante também acompanhamento técnico permanente aos cuidadores, assegurando que o cuidado seja exercido com qualidade, continuidade e sensibilidade humana.
Mas, no Paraná, o cuidado não é uma ação isolada. É um projeto de Estado, que compreende o envelhecimento populacional como uma transformação histórica e irreversível – e responde a ela com políticas públicas estruturadas, sustentáveis e humanas.
Essa visão se concretiza na estratégia Paraná Amigo da Pessoa Idosa, que transforma ações pontuais em uma rede de proteção e promoção articulada. Municípios, conselhos – que fortalecem o controle social –, universidades e sociedade civil formam um sistema de governança intersetorial, com gestão e financiamento integrados.
A rede ganha forma em iniciativas concretas: a Rede de Atenção à Pessoa Idosa, o Cadastro Estadual do Cuidador, o Complexo Social Cidade da Pessoa Idosa, o Programa Cuida + Paraná, os Condomínios do Idoso, as Universidades Abertas da Pessoa Idosa (UNAPIs), o Programa Viaja 60+, entre tantas outras ações que materializam o compromisso de que, aqui, ninguém deve envelhecer sozinho.
Implementar políticas de cuidado é também fortalecer a gestão local. Por isso, o Paraná aposta em capacitação técnica, diagnóstico territorial e repasses fundo a fundo – um modelo pioneiro no país, que garante autonomia aos municípios e transforma planos e intenções em políticas concretas, com resultados reais na vida das pessoas.
Nosso maior desafio é integrar as políticas setoriais – saúde, assistência, direitos humanos – em uma engrenagem única, eficiente e solidária. E, dentro de cada conquista, seja ela administrativa ou não, firmamos um novo pacto civilizatório em torno do envelhecer com dignidade. O valor econômico do cuidado é imenso, embora ainda invisível.
Ao incentivar e apoiar quem cuida, o Estado não apenas reconhece esse trabalho, mas o insere na economia produtiva, gerando renda, autonomia e pertencimento. É política social com efeito multiplicador: o cuidado transforma lares, movimenta economias e fortalece comunidades.
Em 2024, o Brasil deu um passo histórico ao aprovar a Política Nacional do Cuidado – um projeto de minha autoria como deputada federal, sancionado pelo governo federal. Agora, o desafio é torná-la política de Estado, com financiamento contínuo e gestão integrada.
E o Paraná já trilha esse caminho, destacando-se como o primeiro estado Amigo da Pessoa Idosa da América do Sul – exemplo concreto de que o cuidado pode, e deve, ser o novo eixo das políticas públicas do século XXI. Cuidar é reconhecer o outro como parte do que somos. É o gesto mais humano – e talvez o mais revolucionário – de todos. O Paraná segue dando exemplo ao Brasil, mostrando que cuidar é transformar vidas, fortalecer vínculos e construir o futuro com humanidade e justiça social.
Leandre Dal Ponte é deputada federal e secretária da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa no Estado do Paraná.
Fonte: gazetadopovo






