Apesar da experiência e da dezena de cursos já feitos para se especializar como churrasqueira, Suizy se deparou com uma profissão machista. “Lidamos com muito preconceito até hoje. Já tiveram eventos que a pessoa veio falar comigo como se eu fosse auxiliar, não que eu não pudesse servir a ele, já teve cliente que duvidou, comia a carne e dizia ‘nossa para uma mulher você faz um churrasco muito bom’, esse é o mais tranquilo e leve”, brinca ela.
“Muitas vezes já aconteceram situações bem desagradáveis, mas era aí que me animava, porque eu pensava: vocês vão ter que me engolir. Hoje tem mais mulheres que fazem churrascos, mas ainda é pouco”, continua a churrasqueira.
Com mais de uma década de experiência com churrascos e parrilla, a cuiabana passou a ter uma agenda disputada. Mesmo sendo mulher e lésbica, hoje Suizy ocupa um espaço importante na gastronomia mato-grossense. “Tem muita gente que me procura e pergunta se é a Suizy que vai atender, dizem até que podem em outro dia para eu estar presente”, conta a churrasqueira que hoje já tem uma equipe de 10 pessoas, incluindo três churrasqueiros.
Antes de se tornar referência em eventos e festivais, Suizy trabalhava em escritório de advocacia e cursava Ciências Contábeis, que decidiu desistir depois do conselho de uma professora para que ela fizesse o que gostava. “Já gostava do churrasco, porque sempre fazia para os meus amigos. Fui comemorar um aniversário meu, não tinha quem fizesse o churrasco, fiquei fazendo o churrasco todo”.
Depois de comandar a churrasqueira na comemoração veio a “virada de chave” para Suizy, que decidiu transformar a paixão pela brasa em profissão. Aos poucos chegaram os primeiros clientes, indicado por amigos e amigos dos amigos. 
“Na mesma época começaram a ter os festivais de churrasco, fui tomando gosto, acabei entrando no Festival Braseiro como auxiliar, no segundo que participei já entrei como chefe de estação. Já trabalhava com churrasco profissionalmente, atendia os amigos dos amigos, a família dos amigos, os amigos das famílias começaram a me chamar… Foi alavancando. Quando eu fazia churrasco para qualquer pessoa, os elogios vinham, ficava muito feliz e busquei crescer nisso”.
A cuiabana, então, decidiu se profissionalizar, fez cursos no interior de Mato Grosso, São Paulo (SP) e outras cidades do Brasil. Hoje é especialista em parrilla, que são as grelhas argentinas. “O pessoal costuma falar que é ‘moage’ ou frescura, mas não é. A grelha argentina é como uma canaleta, o líquido e a gordura da carne não cai direito, vai ficar totalmente de quando faz em uma ‘grelha moeda’, que fica pingando aquela gordura, sobe labareda e tudo mais. Isso influencia no sabor”.
Já se passaram 11 anos desde que o churrasco virou a principal renda de Suizy e, da vida de empreender, ela destaca a dureza da rotina que pode ser solitária e exaustiva. Na pandemia da covid-19, por exemplo, o negócio quase quebrou e ela precisou se reinventar.
“Estava todo mundo trancafiado em casa. Criei uma mini rotisseria na porta de casa e os clientes buscavam lá aos sábados e domingos. Tenho cliente que até hoje me pergunta quando eu vou ter venda assim de novo, mas não consigo tempo para fazer. Segunda e terça não tenho muita procura, é mais empresarial”.
De quarta-feira a domingo são dezenas de eventos, mas é no final de ano que a churrasqueira conta ter tempo só “para dormir”.
“Os clientes de novembro do ano passado já anteciparam a procura para outubro. Não dá para deixar para última hora. Tem cliente que pede que eu esteja lá, não só a equipe, isso é confiança. No final do ano eu não paro. Janeiro volta a ter evento lá pelo dia 20, mas é mais aniversário, em fevereiro o pessoal quase não faz churrasco pelo carnaval, volta ao normal lá por março. Em dezembro só tenho tempo para dormir.”
Entre as especialidades, Suizy cita a panceta, feita lentamente até atingir a pururuca perfeita, e o fogo de chão, usado para costelas e cortes maiores. “Ofereço três estilos de churrasco para o cliente: o mais simples, feito na churrasqueira da casa; o prime, na parrilla; e o de fogo de chão. Cada um tem o seu público”, explica. Os valores variam conforme o formato, com média entre R$ 95 e R$ 135 por pessoa.
Fonte: Olhar Direto






