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Gungrave G.O.R.E. talvez seja um nome que passe batido pela maioria, mas tem peso e significado únicos para quem teve a oportunidade de jogar os títulos anteriores do PS2 lá de 2022 e 2004.
Os jogos originais não chegaram a ser um sucesso absoluto de crítica, mas foram suficiente para criar uma boa base de fãs. Alguns dos pontos-chave da série era ter as personagens desenhadas por Yasuhiro Nightow, que na época colhia os louros da aclamada série de animes Trigun.
Mas será que Gungrave G.O.R.E. tem o que é necessário para se manter relevante após todos esses anos? Ou melhor, será que o mundo precisava de uma nova entrada na franquia?
Segundo o trailer do jogo, com certeza! Numa passada rápida, Gungrave G.O.R.E. impressiona pelo seu visual e pelo estilo de jogo que lembra muito os clássicos hack and slash dos tempos áureos do PS2. Devil May Cry, God of War… todos esses títulos que serviram para nos divertir e que marcaram nossos corações com estórias e combates impressionantes parecem servir de base para essa nova versão da série Gungrave.
Tudo fica ainda mais legal quando se imagina que talvez Gungrave G.O.R.E. seja a oportunidade perfeita para demonstrar que o estilo clássico dos hack and slash ainda tem força e apelo perante ao público. Não seria o máximo se pudéssemos reviver aquela época com gráficos atuais e controles muito mais refinados, numa experiência ímpar e marcante?
Antes mesmo de jogar Gungrave G.O.R.E. pela primeira vez, lembro de ter pensado em como o jogo talvez fosse importante para a indústria como um todo pelos motivos citados acima. É preciso admitir que até mesmo a gigante Capcom não teve coragem de manter todos os aspectos de gameplay de Devil May Cry 5 semelhantes aos jogos da série original. Até porque muito se fala que Devil May Cry 4, lançado anos depois da trilogia original, já havia perdido glamour – o que, sinceramente, sempre imaginei ser mais em função da troca de protagonista do que pela qualidade do jogo em si.
O que quer dizer com esse preâmbulo imenso é que minhas expectativas para Gungrave G.O.R.E. estavam lá em cima, mesmo sabendo que jamais havia jogado qualquer coisa da série antes. A narrativa anterior parecia digna de um jogo de PS2 dos bons! E mau podia esperar para começar a descer o braço com combos impressionantes que não fazem nenhum sentido do ponto de vista físico, anatômico e, muitas vezes, moral.
De fato, eu esperava uma experiência baseada nos clássicos do PS2, adaptada para os dias atuais. Mas o que vi foi algo bem diferente do que imaginava e uma adaptação que me fez questionar as escolhas diretivas de Gungrave G.O.R.E..
Em termos práticos, é possível dizer que Gungrave G.O.R.E. é um jogo de PS2 sendo lançado para PS5. Talvez esta definição lhe parece simplista e leviana demais, uma vez que não quer dizer muita coisa de maneira isolada, mas acredite, ela se faz presente nos primeiros minutos de jogo.
É impossível explicar o que quero dizer sem recorrer aos antigos jogos de PS2. Naquela época, lembro que muitos jogos de ação resumiam-se a batalhas com alto apelo visual e baixa complexidade para chamar atenção. Títulos como God of War era exceção, mas em suma, a fórmula era a mesma.
Não era necessária muita habilidade para seguir em alguns desses jogos. Muitas vezes, seu destino era selado mais por sorte do que por experiência, o que significava, na maioria das vezes, em tentar posicionar seu personagem em locais específicos, para não tomar muito dano ou chamar muitos inimigos de uma vez.
Atualmente, esse tipo de “mecânica” já não cola mais. A maioria dos jogos tenta ao menos inserir algum mecanismo de defesa, para que o jogador não só tenha que prestar atenção no seu posicionamento, mas para que também possa evitar danos de maneira ativa. É quase como afirmar que acaba sendo mais uma questão de habilidade do que sorte – apesar de não ser bem assim, sempre.
Gungrave G.O.R.E. parece ter parado no tempo. Talvez tenha sido uma decisão da direção do projeto em manter a experiência o mais fiel possível aos jogos originais, algo que, convenhamos, tem seu valor pela nostalgia e apelo emocional. Mas como resultado, temos uma experiência fraca e talvez até mesmo superficial, comparado ao que poderíamos ter.
Não é apenas uma questão de simplicidade nas mecânicas de combate. É quase como se tivesse sido mal feito mesmo.
Os ataques de grave resumem-se a apertar o R2 o tempo todo enquanto se move o analógico para direta e esquerda. A mira é automática, mas você pode torná-la mais precisa ao apertar L1 e focar no inimigo mais próximo. Ainda assim, basta continuar apertando R2 que tudo se resolve.
Em alguns momentos específicos os inimigos chegam próximos demais antes que você consiga vencê-los. Para sair dessa situação, você pode esquivar, ou desferir golpes físicos utilizando o imenso caixão que Grave carrega nas costas.
A esquiva, sinceramente, é muito esquisita. Não é nem ágil o suficiente para ser uma alternativa constante no combate, nem boa o suficiente para evitar danos. É o tipo de mecânica de jogo que parece difícil de dominar não por uma questão de precisão, mas sim porque não parece combinar com o ritmo de jogo durante os combates.
A luta física utilizando o caixão prometia alguma dinâmica extra ao ato de atirar, atirar e atirar. Infelizmente, não cumpre a promessa. Os ataques parecem esquisitos, como se fossem executados em condições físicas totalmente diferentes do resto do mundo. Não encaixam bem e passam uma sensação de estranheza.
Quando um oponente leva dano o suficiente, entra em um estado de execução. Com isso, Grave pode se aproximar e finalizá-lo de maneira definitiva com auxílio do caixão. Mais uma vez, este parece ser um momento que promete algo diferente e mais visceral. E mais uma vez, não é o que acontece. Todas as execuções são iguais em movimento e apelo visual. Não tem graça e muitas vezes parecem nem ter sentido em serem utilizadas.
Mesmo levanto tiros e pancadas o tempo todo, a vida de Grave dificilmente baixa – isso pelo menos, nos níveis iniciais na dificuldade padrão. Então, é como se o jogo simplesmente pedisse que você passeasse por ai atirando em pessoas ao longo do cenário. Talvez fosse mais interessante, se o ato de atirar também não fosse tão chato.
O objetivo parece ser realizar combos em quantidade suficiente para arrecadar pontos e conseguir o rank S ao final da missão. Porém, os movimentos em geral são tão qualquer coisa que não me senti compelido à dar o melhor de mim. Nenhum movimento é realmente satisfatório de se executar e a sensação de que tem algo errado com como eles encaixam não some em momento algum.
A verdade é que Gungrave G.O.R.E. faz questão de desperdiçar toda capacidade do PS5. Não soa como um jogo de PS5, nem funciona como um. O visual, porém, parece condizente com a geração atual. Mas ainda assim a impressão que temos é que alguém fez o jogo para PS2 e simplesmente adicionou uma camada de gráficos bonitos por cima.
Mesmo com alguns cenários interessantes, Gungrave G.O.R.E. irrita muito, demais, pela escuridão desnecessária do cenário. Não consegui entender porque algumas seções são tão escuras, já que a iluminação do game não é lá essas coisas e o sombreamento não é bonito o suficiente para favorecer a imersão em cenários com pouca luz.
Há pontos positivos, entretanto. O design de personagens continua interessante mesmo tanto tempo após os conceitos originais. De certa maneira, o tiroteio desenfreado e o visual de Grave acabam lembrando Trigun. Uma pena que o combate não faça proveito de toda capacidade da geração atual, que apesar de não contar com tantos jogos do gênero, já provou ser capaz de criar experiência de combate frenético à distancia bem positivas.
Mas e aí, Gungrave G.O.R.E. vale a pena?
Gungrave G.O.R.E. é portanto, mais um jogo de 2022 que infelizmente, não posso recomendar para ninguém. Talvez você tenha uma experiência mais satisfatória caso tenha apego emocional aos jogos originais e ao estilo característico do PS2. De qualquer forma, é triste que o game não tenha aproveitado o potencial disponível, seja por escolha da direção ou por falta de orçamento. Gungrave G.O.R.E. é uma decepção e não faz jus ao legado que promete representar.
Review elaborado com uma cópia do jogo para PS5 fornecida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
Gungrave G.O.R.E funciona como sequência de uma série que conquistou uma fiel base de fãs lá no PS2. Contudo, apesar de servir como uma nova entrada reformulada à uma antiga série de sucesso, os desenvolvedores parecem ter apostado que manter as mecânicas clássicas traria melhores resultados. Não trouxe. Gungrave G.O.R.E. soa como um jogo de PS2 com gráficos atualizados, que não consegue se decidir à qual geração quer fazer parte, e se perde no meio do caminho.
Prós
- Design de personagens (protagonistas).
Contras
- Péssimo sistema de combate;
- Soa como um jogo de PS2 com gráficos melhorados;
- Não possui apelo visual relevante no combate;
- Chato e repetitivo;
- Sistema de combos não recompensa nem estimula o uso de combinações.
Fonte: terra.com.br/gameon