Quais as palavras certas na hora de pedir perdão? Alguém que diz “sinto muito, de verdade” sente mais do que alguém que diz “sinto muito, mesmo“?
Um estudo publicado no British Journal of Psychology, analisou como a forma das palavras influencia a percepção de arrependimento. A conclusão: quanto mais longas as palavras usadas, mais sincero o pedido de desculpas parece.
Os pesquisadores chamam isso de “iconicidade dinâmica” – um conceito que descreve como a forma de uma palavra, e não apenas seu significado, pode transmitir esforço emocional. A lógica é simples: palavras mais compridas exigem mais energia cognitiva e motora para serem produzidas. Esse esforço adicional, mesmo que mínimo, é interpretado como sinal de maior empenho em reparar o erro.
Assim, quem diz estar “genuinamente arrependido” soa mais convincente do que quem afirma estar “muito arrependido”. O sentido é quase o mesmo, mas a escolha da palavra mais longa sugere maior investimento emocional.
(É um viés, claro: dá para falar algo vazio, mas que soe de forma rebuscada. Ser prolixo, afinal, não é sinônimo de ser sincero – fique ligado.)
Na primeira parte do estudo, os autores coletaram 50 pedidos de desculpas publicados em redes sociais. Metade foi feito celebridades e metade por pessoas que não eram famosas. Os pesquisadores também consideraram dez postagens não relacionadas a desculpas de cada um dos perfis analisados, para fins de comparação.
Tanto celebridades quanto anônimos recorreram a palavras mais longas quando pediram desculpas do que em outras mensagens. O efeito foi consistente e não se devia apenas ao uso de termos como “apologize” (desculpar-se) ou “remorse”(remorso) – mesmo removendo essas palavras, a tendência de usar palavras compridas se mantinha.
Outro achado chama atenção: além de mais complexos, os pedidos de desculpas eram mais longos. Enquanto postagens comuns de celebridades tinham em média 38 palavras, suas desculpas chegavam a 191. Já entre não celebridades, os números foram de 27, para postagens comuns, contra 54 para as desculpas.
Na segunda parte do trabalho, os cientistas quiseram saber se os leitores percebiam essa diferença. Para isso, apresentaram a 49 participantes conjuntos de frases de desculpas praticamente idênticas, mas com pequenas variações na escolha de palavras curtas ou longas.
O resultado confirmou a hipótese: frases com palavras mais longas foram classificadas como de maior arrependimento. A raridade das palavras – se eram comuns ou pouco frequentes no uso cotidiano –, porém, não teve impacto na avaliação da sinceridade.
Mas, afinal: por que é tão difícil pedir desculpas?
“Mesmo entendendo que erramos, pedir desculpas continua sendo difícil porque exige admitir vulnerabilidade”, diz Tara Quinn-Cirillo, psicóloga e membro da Sociedade Britânica de Psicologia, para o jornal The Guardian.
“Historicamente, ser vulnerável não nos mantinha seguros. Por isso, criamos defesas. Usar uma linguagem mais elaborada pode ser uma forma de baixar a guarda e mostrar esforço.”
No universo das redes sociais, onde cada palavra é analisada e criticada, o estudo oferece uma pista do por quê alguns pedidos de desculpas soam frios enquanto outros parecem genuínos. A escolha entre dizer “realmente sinto muito” ou “sinto-me profundamente arrependido” pode não apenas afetar a reputação de quem erra, mas determinar se a opinião pública concede ou não o perdão.
Bom lembrar que as mensagens quase sempre retiram da equação nossa linguagem corporal e a proximidade que podemos vir a ter com quem quer se desculpar. Sem falar que, hoje, dá pra pedir ao ChatGPT para tornar um “foi mal aí” muito mais eficaz.
Por ora, talvez valha a pena testar a saída das palavras mais compridas. Mas tenha em mente que, a longo prazo, só isso não vai solucionar os problemas da comunicação digital no trabalho, com os seus amigos e nos relacionamentos. O buraco é mais embaixo.
Desculpa pela sinceridade. Ou melhor. Peço muitas desculpas pela sinceridade.
Fonte: abril