SAÚDE

Estudo revela como Vacina contra fake news pode aumentar confiança nas eleições

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Em 2026, o Brasil vai sediar eleições para renovar o Congresso e escolher governadores e um presidente. A última eleição presidencial, de 2022, foi marcada por discursos de contestação do sistema eleitoral brasileiro, colocando em dúvida a segurança das urnas eletrônicas. Para não repetir a dose de desconfiança das instituições democráticas, um estudo conduzido por cientistas americanos e brasileiros traz uma sugestão: vacinação.

Não com vacinas literais, claro – o Zé Gotinha não vai aparecer na zona eleitoral de ninguém. A ideia que os pesquisadores testaram para defender a democracia é usar “vacinas” contra a desinformação, ou seja, uma explicação preventiva de argumentos fraudulentos antes mesmo que a pessoa seja exposta às mentiras sobre o sistema eleitoral.

A pesquisa se baseou na chamada “teoria da inoculação”, usada pela psicologia e pela ciência política, que usa as vacinas biológicas como metáfora para combater a desinformação. Neste método, as pessoas são informadas sobre como funciona o processo eleitoral com fontes confiáveis e avisadas de que mentiras podem circular – tudo isso antes de serem expostas à desinformação.

O estudo, publicado no periódico Science Advances, começou analisando só as eleições dos Estados Unidos, mas os pesquisadores passaram a prestar atenção no Brasil depois de 8 de janeiro de 2023, quando aconteceram os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes motivados pela ideia falsa de que a eleição teria sido roubada do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A partir de testes, os cientistas descobriram que, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a confiança das pessoas em relação às eleições aumentava quando elas “tomavam vacina” contra desinformação. Quem recebeu um alerta de que teria contato com fake news antes mesmo delas chegarem passou a confiar mais no sistema eleitoral e menos nas histórias sobre supostas fraudes.

Prevenindo golpes

A teoria da inoculação funciona a partir de dois mecanismos principais, explica a brasileira Marília Gehrke, professora da Universidade de Groningen, na Holanda, e uma das autoras do estudo. O primeiro deles é a percepção de que há uma ameaça e as pessoas estão vulneráveis a ela.

O segundo mecanismo é a “refutação preventiva” (ou “prebunking”, como chamam em inglês). Trata-se de uma mensagem que expõe os indivíduos a uma versão falsa de algum boato juntamente com a versão verdadeira do fato, antes de que a pessoa tenha tido contato com a mentira naturalmente.

Dessa forma, quando as pessoas encontrassem boatos sobre problemas na urna eletrônica, elas já teriam sido expostas a rumores do tipo e estariam preparadas para distinguir entre notícias verdadeiras ou falsas. O objetivo é apresentar a ameaça “antes que a desinformação tenha tido aderência e influenciado a percepção de alguém”, diz Gehrke.

Enquanto métodos de checagem de fatos tentam desmentir as notícias falsas depois que elas já se espalharam, a teoria da inoculação é um trabalho de prevenção contra a desinformação. Para testar essa vacina, os pesquisadores fizeram testes com pessoas no Brasil e nos Estados Unidos.

A pesquisa analisou as situações dos dois países por causa de fenômenos muito semelhantes de deslegitimação do sistema eleitoral e da democracia pelas campanhas de reeleição de Donald Trump em 2020 e Jair Bolsonaro em 2022 e, claro, as invasões violentas no Capitólio de Washington em 2021 e na Praça dos Três Poderes de Brasília em 2023.

Além da teoria da inoculação, que foi a solução mais eficaz para aumentar a confiança nas eleições no Brasil, os pesquisadores também testaram um método chamado de fontes situacionalmente confiáveis. Basicamente, essa estratégia consiste em utilizar indivíduos que falam contra seus interesses partidários e, portanto, são percebidos como confiáveis. Um membro da campanha de Joe Biden falando que a eleição de 2020 foi legítima, por exemplo, provavelmente não vai convencer um eleitor republicano desconfiado. Mas um político conservador dizendo a mesma coisa provavelmente vai ser mais aceito.

Essa estratégia também foi muito eficaz para aumentar a confiança dos eleitores. No caso dos Estados Unidos, a confiança nas eleições passou de 32,5% para 43,8% entre os participantes que foram abordados com essa técnica.

No estudo, mais de 5.500 participantes dos dois países responderam questionários online com suas opiniões sobre a credibilidade das eleições. Os participantes foram divididos em três grupos: em um deles os cientistas testaram a estratégia de refutação preventiva (a “vacina” contra as fake news); no outro, a abordagem de fontes situacionalmente confiáveis. O terceiro grupo serviu de controle.

Numa etapa posterior do estudo, focada em entender melhor como funciona a refutação preventiva e realizada só nos Estados Unidos, os pesquisadores perceberam que a vacina contra fake news tinha um efeito atenuado quando os republicanos recebiam apenas um aviso de possível desinformação, porque é comum entre os partidários do Trump considerar os checadores de fatos enviesados.

Esses resultados mostraram que o mais importante não era o aviso de que as fake news viriam, mas sim as informações factuais sobre como funcionam as eleições e como os órgãos do Estado trabalham para que ela seja segura e confiável.

Os efeitos de aumento de confiança nas instituições eram mais visíveis em pessoas que já tinham uma confiança inicial muito baixa ou que eram especialmente vulneráveis à desinformação. “Qualquer informação qualificada e precisa é melhor do que nenhuma informação”, diz Gehrke.

Nossa pesquisa mostra que educar as pessoas sobre o funcionamento do sistema eleitoral pode ser o caminho a seguir para proteger a democracia e prevenir falsas alegações.” A melhor vacina para a desinformação é a boa e velha educação.

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Fonte: abril

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