Muitas comparações podem ser traçadas entre abelhas e humanos: há quem ressalte como são organizadas, resilientes ou trabalhadoras. Agora, um novo estudo aponta que a analogia pode ir bem mais fundo – até o nível genético e molecular.
O estudo foi publicado hoje na revista científica PLOS Biology e aponta que alguns mecanismos genéticos responsáveis pelo comportamento social das abelhas são os mesmos encontrados em humanos.
Em espécies sociais – como humanos, elefantes e formigas –, a sociabilidade naturalmente varia entre os indivíduos. Alguns são altamente sociais, bem conectados com parceiros, e outros preferem menos interação. Muitas coisas podem explicar isso: status social, experiências anteriores, humor e genética.
Mas essa parte de como os mecanismos genéticos e moleculares podem alterar a sociabilidade ainda é pouco compreendida. O novo estudo parece ter encontrado uma resposta (ou, pelo menos, o começo dela).
A sociabilidade é uma característica complexa, controlada por muitos genes, mas essas características genômicas compartilhadas sugerem que existem blocos moleculares antigos da vida social que foram conservados ao longo de milhões de anos de evolução.
Os pesquisadores usaram uma combinação de sequenciamento do genoma, análise da expressão gênica do cérebro e observações comportamentais para investigar os mecanismos genéticos subjacentes à variação no comportamento social das abelhas-europeias (Apis mellifera).
“Os insetos sociais são ideais para o rastreamento comportamental de toda a colônia, e a tecnologia que temos é suficiente para monitorar o que cada abelha está fazendo durante a maior parte de sua vida”, afirma o pesquisador e primeiro autor do artigo Ian Traniello, em comunicado.
A análise revelou 18 variantes genéticas associadas à tendência de trofalaxia – um comportamento social de compartilhar líquidos nutritivos com companheiros de colmeia.
Segundo os autores, várias dessas variantes estavam localizadas em dois genes, neuroligina-2 e nmdar2, que compartilham uma sequência semelhante a genes que já foram associados ao transtorno do espectro autista em humanos.
O sequenciamento também revelou mais de 900 genes cuja expressão cerebral aumentava conforme uma abelha interagia com suas companheiras de ninho.
Os resultados destacam semelhanças nos mecanismos genéticos que sustentam o comportamento social em humanos e abelhas. Pode não parecer, mas nós compartilhamos um ancestral em comum com todos os animais do mundo. No caso das abelhas, esse antecessor existiu há mais de 600 milhões de anos.
A evolução e a seleção natural fazem com que, aos poucos, as espécies desenvolvam traços adaptativos que, quando acumulados, diferenciam uma espécie de outra. Na filogenética, dá para visualizar a evolução no formato de uma árvore, como se os grupos de animais fossem ramificações de um mesmo tronco – o ancestral comum.
Há mais ou menos 600 milhões de anos, o animal que era nosso ancestral em comum com as abelhas se diferenciou em outras espécies. Cada tronco foi para o seu lado, algumas características permaneceram em comum e outras mudaram muito.
Os achados em comum entre humanos e abelhas nos lembram que, no final, somos mesmo primos distantes dos outros animais.
Fonte: abril