Há dezenas de milhões de anos, uma mamãe dinossauro escolheu um terreno fértil no que hoje é a província de Hubei, na China, para depositar seus ovos. Muitos deles nunca chegaram a eclodir, mas continuaram enterrados e foram fossilizados com o tempo. Agora, pela primeira vez, cientistas conseguiram determinar diretamente a idade destes ovos, algo inédito na paleontologia.
A pesquisa, publicada na revista Frontiers in Earth Science, empregou uma técnica que nunca tinha sido testada antes com essa finalidade: o uso do método urânio-chumbo (U-Pb) diretamente em calcita presente nas cascas fossilizadas. A análise revelou que os ovos foram postos há 86 milhões de anos, no período Cretáceo.
Essa abordagem, que data cristais minerais das próprias cascas, pode finalmente permitir que pesquisadores descubram as idades precisas de muitos dinossauros. Hoje, as técnicas mais comuns de datação são indiretas – datam as rochas vulcânicas ao redor dos fósseis, que nem sempre estão presentes.
Funciona mais ou menos assim: cientistas usam rochas vulcânicas acima e abaixo dos fósseis para rastrear seus elementos radioativos. A decomposição gradual desses materiais funciona como um relógio. Assim, dá para chegar em uma média entre as camadas de terra analisadas e definir em que período o gigante ossudo viveu, ainda que essa não seja uma resposta exata.
O problema é que, no sítio de Qinglongshan, onde os fósseis dos ovos foram encontrados, as rochas carecem de material vulcânico. Ou seja, usar essa técnica poderia resultar em uma resposta imprecisa.
Para calcular a idade dos ovos, pesquisadores dispararam lasers em fragmentos da casca que vaporizaram os minerais depositados na sua superfície durante a fossilização. Esse vapor continha átomos de chumbo e urânio. Acontece que urânio se decompõe em chumbo por processos radioativos, e essa decomposição ocorre em uma taxa constante. Assim, analisar a proporção de chumbo e urânio no fóssil revela sua idade.
Essa técnica tem sido usada para datar rochas vulcânicas e ossos e dentes fossilizados, mas é a primeira vez que é usada em ovos de dinossauros. Como não tinham certeza se o método funcionaria, os cientistas analisaram apenas pequenas amostras de calcita de um único ovo.
O resultado abre caminho para investigações mais detalhadas. Segundo Bi Zhao, paleontólogo do Instituto de Geociências de Hubei e coautor do estudo, a equipe pretende aplicar o mesmo método em diferentes fósseis do sítio e da China para traçar uma linha do tempo evolutiva de ovos. Se confirmada em outros locais, a nova metodologia pode nos ajudar a entender melhor a história dos dinossauros.
Fonte: abril