Um grupo de pesquisadores sul-coreanos desenvolveu uma ferramenta que lembra uma pistola de cola quente, mas com uma função radicalmente diferente: imprimir enxertos ósseos diretamente sobre fraturas complexas durante cirurgias.
Tradicionalmente, implantes ósseos são feitos de metal, ossos de doadores ou materiais impressos em 3D. Essas alternativas são excelentes para uma operação pré-planejada. Em casos de uma articulação desgastada, por exemplo, essa técnica tem seu louvor – mas não para uma cirurgia de trauma de emergência.
Foi com isso em mente que um grupo de pesquisadores desenvolveu uma nova tecnologia.
“Nossa proposta oferece uma abordagem distinta ao desenvolver um sistema de impressão in situ que possibilita a fabricação em tempo real de um suporte diretamente no local cirúrgico”, explicou o engenheiro biomédico Jung Seung Lee, da Universidade Sungkyunkwan (Seul).
“Isso permite uma correspondência anatômica altamente precisa, mesmo em defeitos complexos, sem a necessidade de preparação pré-operatória como imagens, modelagem e processos de corte”. A pesquisa foi publicada na revista Device.
O dispositivo funciona com um filamento feito de hidroxiapatita — um componente natural do osso humano — combinado a um polímero biodegradável chamado PCL (policaprolactona). Esse material pode ser aquecido a apenas 60 °C, uma temperatura suficientemente baixa para evitar danos ao tecido vivo, mas ainda capaz de preencher sulcos irregulares de uma fratura.
Segundo Lee, a simplicidade também é um trunfo: “Como o dispositivo é compacto e manual, o cirurgião pode ajustar a direção, o ângulo e a profundidade da impressão em tempo real. Também demonstramos que o processo pode ser concluído em questão de minutos, o que representa uma vantagem significativa na redução do tempo operatório.”
A facilidade se dá pelo fato de que a ferramenta é feita de uma pistola de cola modificada. Os cirurgiões podem usá-la para preencher espaços vazios ósseos em questão de minutos durante a cirurgia, e as células ósseas conseguem preencher a lacuna e reparar a lesão permanentemente ao longo do tempo.
“É basicamente feito com pistolas de cola quente disponíveis comercialmente”, diz Lee para a New Scientist. “Podemos economizar tempo e dinheiro.”
Além da reconstrução estrutural, os enxertos trazem uma camada de proteção contra infecções — um risco frequente em cirurgias desse tipo. O filamento foi enriquecido com antibióticos como vancomicina e gentamicina, liberados lentamente ao longo de semanas. Em testes de laboratório, o material bloqueou o crescimento de bactérias como E. coli e S. aureus.
Nos primeiros testes, realizados em coelhos com fraturas graves no fêmur, os resultados mostraram a ausência de infecções e maior regeneração óssea após 12 semanas, em comparação com enxertos de cimento ósseo, ainda amplamente utilizados.
“O suporte foi projetado não apenas para se integrar biologicamente ao osso ao redor, mas também para se degradar gradualmente e ser substituído por tecido ósseo recém-formado”, acrescentou Lee.
Fonte: abril