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Estudo aponta que desmatamento na Amazônia reduz chuvas em 75%

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“Na Amazônia, na época chuvosa chove o dia todo. Na época seca, chove todo dia.” O professor Luiz Machado, que leciona clima e meteorologia no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), contou essa velha piada em entrevista à Super. Mas com um porém: ela agora está desatualizada.

A brincadeira até funcionava nos anos 1980, quando a chuva na Amazônia era uma certeza. Hoje, a floresta tropical chega a passar dias sem chuva durante a estação seca. A sazonalidade do bioma aumentou: o que antes eram mudanças pequenas entre os períodos mais ou menos úmidos agora são diferenças bem mais marcadas, num padrão que cada vez mais se aproxima do observado no Cerrado.

Agora, uma equipe de peso de pesquisadores brasileiros, incluindo Machado, mostrou como o desmatamento e as mudanças climáticas globais transformaram o bioma amazônico nas últimas décadas, reduzindo as chuvas e aumentando as temperaturas máximas durante a estação seca. O estudo foi publicado na revista Nature Communications.

Os pesquisadores desenvolveram modelos com dados de uso do solo extraídos da plataforma MapBiomas e estatísticas de precipitação, temperatura máxima na superfície do ar, concentraçõesecada u de dióxido de carbono e de metano. Com isso, conseguiram analisar o impacto de cada um desses fatores na estação seca do bioma entre 1985 e 2020.

Os cientistas buscavam entender qual era a parcela de responsabilidade de cada um desses fatores específicos, porque não se sabia ao certo o que era culpa do desmatamento local e o que era fruto das mudanças climáticas globais. É uma discussão importante inclusive em termos práticos: o desflorestamento pode ser combatido no Brasil, mas a crise climática é uma questão global, causada principalmente por emissões de gases de efeito estufa dos países do Hemisfério Norte.

Para a investigação, os pesquisadores separaram a Amazônia Legal Brasileira em 29 blocos, de cerca de 300 km por 300 km cada, e analisaram dados de cada um deles. Os resultados mostraram que o desmatamento é o principal culpado na redução dos índices pluviométricos amazônicos. Aproximadamente 74% da diminuição das chuvas entre 1985 e 2020 aconteceu por causa do desflorestamento; os outros 25% ficam na conta das mudanças climáticas.

Menos chuva no Brasil todo

Desde 1985, os dias de mais calor na Amazônia durante a estação seca ficaram 2 °C mais quentes. Na transformação específica da temperatura, o desmatamento não é o principal culpado – as mudanças climáticas globais têm um papel maior. A perda da cobertura vegetal, porém, tem seu impacto: 16,5% do aumento de temperaturas máximas é culpa dela.

Os resultados consistem em médias da floresta toda, mas algumas áreas sofreram mais que as outras. “Regiões mais desmatadas têm, durante a estação seca, temperaturas máximas mais altas e precipitações mais baixas”, explicou Marco Franco, também professor da USP e um dos autores do estudo.

Esse impacto nos índices pluviométricos da Amazônia não fica restrito ao Norte do Brasil. A floresta devolve a água das chuvas para a atmosfera pela evapotranspiração, e esse vapor d’água desce para o interior do Brasil, irrigando a produção agrícola nacional e enchendo as represas do Sul e Sudeste. “Sem a floresta para reciclar vapor ao longo do caminho, há impactos na chuva de outras regiões”, diz Machado.

“Os nossos resultados deixam muito claro que a preservação da floresta é fundamental”, diz Franco. Às vésperas da COP30, que ocorre em novembro em Belém, o estudo mostrou que os efeitos do desmatamento na precipitação e na temperatura são mais intensos nos primeiros 10% a 40% de cobertura vegetal que são perdidos – então novas ações concretas para preservar a Amazônia precisam ser discutidas com urgência.

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Fonte: abril

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