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Fazenda Ipiranga: Pantanal Vivo com Pecuária, Turismo e Proteção às Onças

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No coração do Pantanal mato-grossense, a Fazenda Ipiranga, em Poconé, carrega mais de 100 anos de história e tornou-se símbolo de como produção e preservação podem caminhar juntas. A propriedade, que mantém a pecuária como base econômica, abriu espaço para o turismo há mais de três décadas, transformando parte de sua estrutura na Pousada Piuval, que recebe cerca de 10 mil visitantes por ano.

“Praticamente nasci e me criei aqui. A fazenda era do meu bisavô, passou para o meu avô e meu pai também nasceu aqui. Em 1989 ele abriu as portas para o turismo”, recorda Eduardo Matos Eubank de Campos no Senar Transforma desta semana. Ele explica que o contato com agências europeias abriu o caminho, agregando valor à fazenda e consolidando a pousada como sucesso até hoje.

O nome escolhido homenageia o ipê roxo, chamado de piúva na região. Foi de um antigo rodeio batizado como Piuval que surgiu a inspiração para nomear a pousada.

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Foto: Israel Baumann/Dia De Ajudar Mato Grosso

Tradição pantaneira e inovação sustentável

A lida do campo também atrai turistas. “Se o turista quiser vir viver um dia de homem pantaneiro, ele sela o cavalo, sai com os peões, vai ver a lida do gado. Se quiser tirar leite da vaca, ele tira. Essa é a essência do homem pantaneiro, que a gente mantém para que a tradição não acabe”, afirma Eduardo.

Hoje, a pousada representa 65% da renda, enquanto os 35% restantes vêm da pecuária, com cerca de 2 mil cabeças de gado. “Não tem como viver do turismo aqui no Pantanal sem a pecuária. Tem que ter gado porque são vários fatores. Você consegue manter as pastagens baixas, a biodiversidade com os animais, com a mata, tudo no seu devido lugar”, reforça João Losano Eubank Júnior.

A convivência com a onça-pintada, símbolo do Pantanal, também faz parte da rotina. Para reduzir perdas no rebanho, a família implantou há três anos e meio um sistema de maternidade cercada com sete fios, sendo só dois eletrificados. “Muitos pantaneiros falam que a onça acaba se alimentando dos bezerros. Mas tem forma de você conviver: a onça, o homem pantaneiro e a pecuária juntos”, afirma João ao programa do Dia de Ajudar Mato Grosso.

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Foto: Israel Baumann/Dia De Ajudar Mato Grosso

Ele explica que as vacas prestes a parir ficam no piquete protegido, onde os bezerros nascem em segurança. “O primeiro de baixo e o terceiro fio são eletrificados. A onça várias vezes já veio ao redor, mas tomou choque e não chegou mais. A diminuição de perda foi muito boa. Não tem mais perda aqui por onça nesse lugar”, relata.

Antes da implantação, a realidade era bem diferente. “O primeiro relato que nós tivemos era 86 bezerros que morreram durante o ano. Era assim, oito, nove bezerros no mês. Era muito bezerro. E com isso a gente conseguiu resolver, graças a Deus. Nós temos monitoramento com câmeras, onde já vimos várias vezes a onça tomar seu choque e não voltar mais”.

Além de prevenir perdas, o sistema contribui para a preservação da espécie ao evitar conflitos diretos. A estratégia reforça a ideia de que a pecuária pode caminhar junto à conservação da fauna pantaneira.

Outra medida adotada foi investir na recria em área mais alta, com desmame precoce e suplementação. “Nós estamos tirando o bezerro de quatro, cinco meses e levando para lá. A vaca já libera, entra no cio, ou se já está prenha, vai estar em melhores condições para parir no próximo ano. Isso é fantástico”, completa João.

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Foto: Israel Baumann/Dia De Ajudar Mato Grosso

Modernização com o Fazenda Pantaneira Sustentável

O processo de modernização ganhou reforço com o Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS), criado pelo Sistema Famato a partir de uma demanda dos produtores e viabilizado por software da Embrapa Pantanal em parceria com o programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar Mato Grosso.

“A busca que nós temos com o projeto, além de melhorar indicadores técnicos e econômicos, é provar que o produtor pantaneiro sustentável está fazendo o seu serviço de conservação e preservação do bioma”, explica o supervisor do programa Fazenda Pantaneira Sustentável, Marcelo Nogueira.

Na Fazenda Ipiranga, as mudanças já são sentidas. “Aqui eles estão além da recria, também na finalização, que é a engorda. Tivemos a oportunidade de mexer com silagem, de introduzir práticas como curral choque e inseminação artificial. Nosso objetivo é melhorar a margem bruta e o número de animais vendidos”, detalha o técnico de campo Lévender Matos.

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Foto: Israel Baumann/Dia De Ajudar Mato Grosso

O programa é estruturado em cinco pilares, conforme lembra o analista de pecuária da Famato Marcos Carvalho: assistência técnica, coleta de dados, desenvolvimento de políticas públicas, comunicação e agregação de valor. “Queremos mostrar para o mundo o que é o Pantanal, essa riqueza e essa biodiversidade, e a intenção dos nossos produtores, que é conseguir produzir com sustentabilidade, respeitando e conservando esse patrimônio mundial”.

Para Eduardo, modernizar a pecuária é essencial. “A pecuária há 20 anos atrás, há 10 anos atrás era uma. Hoje a pecuária tem que ser modernizada, tem que ser empresariada, ter gestão e tecnologia. Sempre buscamos novas práticas e vemos o FPS como uma oportunidade de avançar ainda mais”.

E o legado é motivo de orgulho. “A gente olha para trás e vê tudo o que conquistou com muito suor. Isso é para mostrar mesmo para o mundo, mostrar para a sociedade que realmente é possível. Pantanal é tudo, vamos dizer assim”, conclui Eduardo.

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Fonte: canalrural

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