SAÚDE

Cigarros Eletrônicos: O Que Você Precisa Saber sobre o Uso e os Riscos

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Durante décadas, o cigarro foi símbolo de charme e status, mas o glamour se dissipou diante da dura realidade: fumar é a principal causa de mortes evitáveis no mundo. O Brasil, referência mundial em campanhas antitabagistas, viu o número de fumantes adultos cair de 34,8% nos anos 1980 para 9,3% em 2023. Porém, em maio de 2025, esse índice saltou para 11,6%, aumento observado tanto entre homens (de 11,7% para 13,8%) quanto entre mulheres (de 7,2% para 9,8%). Um alerta preocupante!

O vilão da vez? Os cigarros eletrônicos, também chamados de vapes, que, com design colorido, aromas adocicados e apelo à socialização, seduzem especialmente os jovens, com estimativas apontando que aproximadamente três milhões de brasileiros já os utilizam.

Diferentemente dos cigarros tradicionais, funcionam por vaporização de líquidos com nicotina (com seu poder viciante) e aditivos tóxicos. Mesmo sem haver combustão, liberam partículas e metais que podem causar inflamação nos sistemas respiratório e cardiovascular. Ou seja, o cigarro convencional perdeu o glamour, mas o poder viciante da nicotina encontrou um novo veículo.

Na perspectiva da contenção de danos e do enfrentamento desse crescimento no consumo, estamos diante de um dilema, uma vez que alguns estudos indicam que a concentração de nicotina nos usuários de vapes pode ser superior à dos fumantes tradicionais.

Porém, outros estudos apontam que, quando oriundos de fabricantes idôneos e bem regulamentados, poderiam causar menos danos que os cigarros convencionais, além de tolher o mercado clandestino. Como na metáfora da escolha de Sofia, não há alternativa isenta de riscos — ambas apresentam consequências negativas.

Em 2024, no Brasil, a Anvisa reafirmou e ampliou a proibição total (aplicada desde 2009) da fabricação, importação e comercialização de vapes, sob a justificativa da ausência de evidências científicas sobre segurança e eficácia, além do risco já comprovado de aumento do consumo entre jovens.

Nos Estados Unidos, a FDA (agência reguladora similar à Anvisa brasileira) adota uma abordagem oposta: permite a comercialização, mas apenas após rigorosa análise científica dos produtos, dos quais, até agora, 39 foram aprovados, com sabores restritos a tabaco e mentol (sabores doces e frutados são proibidos por atraírem jovens). O objetivo é claro: mais controle e fiscalização sobre este limbo sombrio.

Regulamentar não é liberar: é controlar, fiscalizar e tributar. No Brasil, o consumo cresceu em proporções geométricas, e a proibição, claramente ineficaz, tem gerado um mercado clandestino, sem geração de empregos, sem arrecadação de impostos, com mais risco de toxicidade e sem controle sanitário.

Como bem pontua a farmacêutica Alessandra Bastos, ex-diretora da Anvisa: “No Brasil, não sabemos o que as pessoas estão consumindo e o único beneficiado é o crime organizado.” Cabe lembrar que, no próprio Brasil, o sucesso passado no enfrentamento ao consumo de cigarro se deu pela via educativa e regulatória, não pela proibição.

O país já amarga um prejuízo anual de R$ 125 bilhões com o tabagismo, dos quais R$ 50,3 bilhões referem-se a gastos médicos pelo SUS, enquanto a arrecadação com impostos sobre cigarros é de apenas R$ 15 bilhões

A conta não fecha — e o contribuinte, fumante ou não, paga a diferença.

É preciso ampliar o debate e as campanhas educativas não apenas sobre os malefícios do cigarro tradicional, mas também sobre os riscos disfarçados de modernidade, com envolvimento e atenção de pais, educadores, políticos, gestores, mídia e ciência, pois a saúde pública e a sociedade não podem ser reféns da omissão.

Ignorar o problema é, sem dúvida, a pior decisão. Cabe ao Congresso abrir espaço para um debate público qualificado, ouvindo especialistas e se inspirando na experiência de mais de 80 países que permitem a comercialização, mas com restrições — entre eles Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Suécia, Canadá, França e Nova Zelândia. É imprescindível, também, que toda a sociedade se mobilize para dar mais luz ao problema.

Jacir J. Venturi, membro do Conselho Estadual de Educação do Paraná, foi professor e gestor de escolas públicas e privadas, da UFPR, PUCPR e Universidade Positivo.

Fonte: gazetadopovo

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