SAÚDE

Estudo mostra que o ritmo das conversas é universal em todas as línguas

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Em qualquer língua, em qualquer canto do mundo, a conversa humana parece obedecer a um ritmo invisível. Entre frases, pausas e entonações, surge um compasso sutil, como se a fala tivesse um metrônomo próprio.

Essa cadência desperta curiosidade: seria possível que todos nós compartilhássemos um mesmo padrão ao nos comunicar?

Pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém investigaram essa pergunta em uma das maiores análises já feitas sobre a estrutura temporal da fala.

O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, foi conduzido por Maya Inbar, Eitan Grossman e Ayelet N. Landau.

Eles analisaram 668 gravações de fala espontânea em 48 línguas de 27 famílias linguísticas diferentes, abrangendo todos os continentes.

Para isso, desenvolveram um algoritmo capaz de identificar automaticamente as chamadas “unidades de entoação”, pequenas frases melódicas que estruturam o fluxo da fala.

Essas unidades, conhecidas há décadas pela linguística, correspondem a trechos delimitados por mudanças no tom, na intensidade e no ritmo da voz.

A novidade do estudo foi comprovar, em uma amostra sem precedentes, que essas unidades aparecem em intervalos estáveis, com início de uma nova a cada 1,6 segundo, em média.

Segundo os autores, a cadência não depende da velocidade das sílabas, que varia bastante entre línguas, mas segue um compasso mais lento e constante.

“Esses achados sugerem que a maneira como organizamos o tempo da fala não é apenas um produto cultural, mas algo profundamente enraizado na cognição e na biologia humanas”, disse Inbar em comunicado.

O ritmo identificado cumpre funções cognitivas e sociais importantes: ajuda interlocutores a acompanhar a conversa, indica os momentos de troca de fala e oferece pistas cruciais para que crianças aprendam a segmentar e compreender a linguagem.

Além disso, a frequência observada aproxima-se de padrões de atividade neural associados à memória, à atenção e à ação voluntária, sugerindo que a fala se alinha a mecanismos fundamentais do cérebro.

O estudo é considerado um marco porque, até agora, a identificação dessas unidades exigia longos processos manuais de transcrição, limitando pesquisas a poucas línguas.

Com o novo algoritmo, os autores validaram automaticamente a segmentação em idiomas tão distintos quanto hebraico, russo e totoli (falado na Indonésia), mostrando que o padrão se repete globalmente.

Os resultados indicam ainda que o compasso de 1,6 segundo pode ser um candidato raro a “universal linguístico” – um traço compartilhado por todas as línguas humanas, em contraste com a enorme diversidade de vocabulário, gramática e fonética.

“Isso pode explicar como administramos o fluxo de informações em ambientes dinâmicos, além de como criamos vínculos sociais por meio da conversa”, afirmou Landau em nota.

Além de fornecer insights sobre como linguagem e cognição se organizam no tempo, a descoberta tem possíveis aplicações práticas.

Compreender esse ritmo pode melhorar terapias para distúrbios da fala, orientar o desenvolvimento de sistemas de voz artificial mais naturais e ampliar a compreensão dos processos neurológicos envolvidos na comunicação.

Fonte: abril

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