SAÚDE

Cirurgia para Depressão: Resultados Promissores Confirmam Eficiência do Procedimento

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A medicina pode estar perto de um avanço significativo. Uma mulher foi submetida à primeira cirurgia para tratamento de depressão crônica no mundo. A operação histórica foi realizada na Colômbia e usou uma técnica de estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês).

Até agora, os resultados foram animadores.

Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a nova abordagem é “promissora”, mas com limitações de natureza ética.

O procedimento foi realizado em abril deste ano, no Hospital Internacional da Colômbia, em Bucaramanga, região de Santander. Foram implantados quatro eletrodos em áreas específicas para estimular o cérebro da paciente, a administradora de empresas Lorena Rodríguez. O procedimento levou cerca de seis horas. Ao portal G1, Lorena afirmou que o procedimento gerou uma melhora visível nos sintomas da depressão.

A DBS convencional não é nova e tem sido usada para tratar sintomas do mal de Parkinson desde os anos 1990. Ela é considerada por especialistas como a mais eficiente terapia contra a patologia, que ainda não tem cura. O paciente recebe um implante cerebral semelhante a um marca-passo, que envia pulsos elétricos para regular as atividades nervosas. Tanto na doença de Parkinson como na depressão, neurônios em desequilíbrio podem ser melhor “sincronizados” pela DBS.

Conforme noticiaram os sites locais Colombia 1 e Vanguardia, a paciente enfrenta um histórico de depressão resistente a outros tratamentos que dura mais de uma década. A mulher foi submetida à intervenção após todos os outros métodos falharem. Os sintomas, como o sentimento de culpa, enxaquecas debilitantes e pensamentos negativos tornaram sua vida praticamente inviável.

Estimulação direta

O psiquiatra do Serviço de Estimulação Magnética Transcraniana do Hospital Albert Einstein em São Paulo (SP), Rodrigo Gimenez, avalia a abordagem cirúrgica como um passo importante, já que é capaz de alcançar circuitos neuronais negligenciados pelas terapias não invasivas.

“Realizar essa estimulação mais profunda, com a implantação cirúrgica de um dispositivo no cérebro, poderia aumentar a precisão da estimulação e até ajudar a alcançar estruturas que podem não ser acessíveis pelos estimuladores externos”, explica.

A depressão, que de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) é a doença mental mais comum em todo o mundo, já foi chamada de “mal da alma”, com origens consideradas morais e até mesmo espirituais na literatura médica. Atualmente, a depressão é entendida de maneira mais objetiva, com causas determinadas na neuropsiquiatria e seus aspectos sociológicos levados em consideração para abordagem multidisciplinar nos mais modernos tratamentos.  

Equilíbrio funcional é a meta

Para o neurocirurgião do Hospital São Francisco, de Osasco (SP), André Ceballos, o objetivo da cirurgia é restaurar um “equilíbrio funcional” que permita a pacientes recuperarem uma esperança de encontrar felicidade e sua qualidade de vida.

“A DBS é para casos muito graves, uma técnica reversível, ajustável e menos invasiva, em que o dispositivo pode ser desligado ou reprogramado, o que reduz riscos permanentes. Vale destacar que, no Brasil, a DBS já é utilizada em distúrbios neurológicos como a Doença de Parkinson, e tem sido aplicada de forma experimental também no tratamento de epilepsia”, exemplificou.

No Brasil, a ainda não é possível saber quando o método estará disponível em função dos limites determinados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O órgão até o momento só regulou o implante de eletrodos mediante cirurgia para estimulação neurológica em quem sofre com o mal de Parkinson. Os princípios de ambas as terapias são bastante semelhantes, de acordo com os especialistas.

Limites éticos

Para a solução cirúrgica, os médicos citam a necessidade de levar em consideração balizas éticas do procedimento, como a capacidade do paciente, já em intenso sofrimento, consentir com uma operação. Para ambos, também é necessário esgotar todos os outros métodos possíveis antes da abordagem cirúrgica, além de diversos outros cuidados, como uma mudança de hábitos mesmo após a operação.

“A cirurgia não substitui tratamentos convencionais, como a psicoterapia e medicamentos, mas abre uma nova fronteira terapêutica. Enquanto antidepressivos e psicoterapia funcionam para a maioria, existe um grupo de pacientes que não responde a essas abordagens. Para eles, a DBS pode oferecer algo além”, diz Ceballos.

A cirurgia também não deve ser entendida como um ponto final na busca pela compreensão das causas na raiz dos problemas mentais causadores da tristeza patológica, advertem.

“Sabendo que não existe um tratamento que funcione para 100% dos pacientes, temos que permanecer constantemente insatisfeitos, buscando novas estratégias e explorando novas ideias, sempre respeitando os processos da pesquisa científica e mantendo atenção redobrada aos limites da ética”, afirmou Gimenez.

Fonte: gazetadopovo

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