País com o maior volume de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, os Estados Unidos tendem a reduzir o aporte de capital por causa da escalada da guerra comercial entre os dois países, conforme apuração do portal Poder360 publicada nesta segunda-feira, 18.
Os norte-americanos investem aproximadamente quatro vezes mais do que a Espanha, que ocupa a segunda posição no ranking do Banco Central. Em 2023, último dado disponível, o volume aplicado foi de cerca de US$ 270 bilhões, ante quase US$ 70 bilhões dos espanhóis.
Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o estoque de investimentos norte-americanos no Brasil não deve se alterar de imediato. No entanto, a tendência é de redução no fluxo de capital.
“A empresa norte-americana situada no Brasil não vai expandir o investimento enquanto houver essa pendência tarifária, isso vai afetar o investimento futuro”, afirmou. Segundo ele, companhias devem suspender novos aportes até que haja mudanças no cenário depois de “alguma negociação”.
Ainda de acordo com Barral, quando o presidente Donald Trump deixar o governo, o quadro pode ser revertido com rapidez. Apesar disso, ele avalia que os EUA devem perder a liderança no ranking anual de aportes, embora sigam como os maiores em estoque de investimentos por causa do grande número de empresas já instaladas no Brasil.
O economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo de Souza, também avalia que os efeitos da disputa comercial vão atingir os investimentos. “Temos uma conexão de cadeias produtivas entre os dois países”, explicou. “Parte produz aqui, parte lá.”
Impacto sobre os investimentos
“O conflito cria essa dificuldade de exportar o que é produzido no Brasil”, declarou Souza, que destacou ainda que a instabilidade nas relações diplomáticas gera incerteza. “O crescimento no risco gera menos investimento em qualquer área.”
Na avaliação de Ecio Costa, professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a situação tende a se agravar caso o Brasil adote . “Caso o Brasil colocasse tarifas de 50%, provavelmente Trump iria elevar as taxas para 100%”, disse.
Ele explicou que, em um cenário extremo, o congelamento de investimentos pode afetar o balanço de pagamentos do Brasil. Esse indicador reflete a soma das transações comerciais e financeiras do país com o exterior.

Atualmente, a conta-corrente brasileira é deficitária, ou seja, o país gasta mais do que arrecada em suas relações internacionais. A balança comercial, que contabiliza exportações e importações, ajuda a reduzir esse déficit.
Segundo Costa, o equilíbrio só se mantém graças ao ingresso de , que aumentam a entrada de dólares. Se as empresas dos EUA, principal fonte desses recursos, forem impedidas de investir, “o Brasil vai ter consequências sérias no balanço de pagamentos, com impacto nas reservas internacionais”.
O professor ressaltou ainda que nenhuma outra nação poderia substituir os EUA como principal investidor no país. “Eu não vejo a China ou outros grandes players assumindo essa posição dos EUA”, afirmou. “Por isso, há risco de uma forte desaceleração econômica [com a redução dos investimentos].”
Fonte: revistaoeste