MATO GROSSO

Polícia afirma que empresário apagou mensagens no dia da operação contra esquema de desvio no TJMT

2025 word1
Grupo do Whatsapp Cuiabá
João Gustavo Ricci Volpato, empresário apontado como um dos líderes de um grupo criminoso acusado de desviar milhões da conta única do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), supostamente apagou mensagens do WhatsApp em 30 de julho, dia em que a Operação Sepulcro Caiado foi deflagrada contra ele. 

Essa informação foi revelada no relatório da Polícia Civil, que indiciou João e outras 10 pessoas por participação no esquema que teria desviado cerca de R$ 21 milhões da Conta Única do TJ.
Segundo as investigações, João Gustavo teria usado empresas sob seu controle, como a RV Empresa de Cobrança LTDA, para ajuizar execuções judiciais baseadas em dívidas inexistentes. Os processos, ainda conforme as investigações, eram patrocinados pelo escritório França & Moraes, de Wagner Vasconcelos de Moraes e sua sócia e esposa, Melissa França Praeiro.
Conforme consta no documento, a análise identificou 743 mensagens de bate-papo, incluindo WhatsApp. O aspecto mais relevante, diz o delegado, foi a descoberta de 12 conversas com status “excluídas” e 152 conversas com status “desconhecido”, sugerindo possível “ocultação intencional de evidências”. 
“Destaca-se que foram identificadas 28 conversas entre João Gustavo e sua esposa Flávia Volpato, sendo a última registrada em 29 de julho de 2025, todas com conteúdo inacessível, provavelmente excluídas deliberadamente. A esposa dele não foi indiciada por falta de provas. 
O relatório ainda destaca que “atividade significativa” no aparelho de João no dia da investigação, com acesso ao WhatsApp às 5h22 e uso da câmera entre 5h34 e 5h34 (minutos antes da deflagração da ação policial), “sugerindo possível captura de evidências ou documentos nesta data”.
Ainda de acordo com o delegado, o celular de João Volpato continha documentos significativos para a investigação, incluindo o próprio boletim de ocorrência relacionado ao caso em questão.
Também foram encontrados contratos de confissão de dívida no valor de R$ 1.350.000,00 e um requerimento de protesto no valor de R$ 2.281.639,60, além de múltiplos cheques e documentos de correção monetária.
Ele afirma que a análise do aparelho revela um padrão consistente com tentativa de ocultação de evidências digitais, evidenciado pela exclusão sistemática de conversas, “particularmente aquelas com a esposa do investigado”.
Além disso, destaca que a presença de documentos financeiros no dispositivo, combinada com a atividade recente de aplicativos, sugere que o aparelho pode ter sido utilizado para documentar ou comunicar aspectos relevantes da investigação em curso.

O delegado Pablo Carneiro, da Delegacia de Estelionato de Cuiabá, concluiu o inquérito da Operação Sepulcro e indiciou 11 pessoas por organização criminosa, estelionato e outros crimes. 
O relatório com os nomes dos indiciados foi encaminhado ao Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que deverá aceitar ou rejeitar a denúncia. 
A Polícia Civil indiciou 11 pessoas por envolvimento no esquema, incluindo João Gustavo Ricci Volpato, apontado como o principal articulador, seu irmão Augusto Frederico Ricci Volpato e a mãe deles, Luiza Rios Volpato. 
Completam a lista o servidor do Tribunal de Justiça, Mauro Ferreira Filho, e os advogados Wagner Vasconcelos de Moraes, Themis Lessa da Silva, João Miguel da Costa Neto, Rodrigo Moreira Marinho, Denise Alonso, Melissa França Praeiro Vasconcelos de Moraes e Régis Poderoso de Souza.
Na conclusão, o delegado diz que a sofisticação do esquema, aliada à participação de servidores públicos do próprio Tribunal de Justiça e à utilização sistemática de advogados para simular a defesa das vítimas, sugere que o grupo criminoso operava com elevado grau de certeza quanto à impunidade, o que certamente contribuiu para a multiplicação das fraudes ao longo dos anos. 

Outras seis pessoas escaparam do indiciamento, segundo o delegado, porque não há, no presente momento, elementos probatórios suficientes para proceder ao indiciamento formal nos autos deste inquérito policial.
Ele afirma que a análise do conjunto de provas demonstra que, embora existam indícios de possível participação desses investigados no esquema criminoso, as evidências atualmente disponíveis não alcançam o grau de certeza necessário para a imputação formal de responsabilidade criminal.
Foram inocentadas: Flávia de Oliveira Santos Volpato, Julia Maria Assis Asckar Volpato, Guilherme Porto Corral, Keyyly Gonçalves Martinez, Eva da Guia Magalhães e Cláudia Regina Dias de Amorim Del Barco Correa.

Segundo as investigações, o grupo criminoso ajuizou ações de cobrança e, sem o conhecimento das partes rés, simulava a quitação da dívida via depósito judicial, juntando aos autos comprovantes falsificados.
Com isso, um servidor do Judiciário, também alvo da operação, transferia o valor da conta única do TJMT para a conta vinculada ao processo, permitindo o resgate por meio de alvará.
Os levantamentos iniciais apontam que 17 processos protocolados entre 2018 e 2022 teriam sido usados pelo esquema. Desde 2023, com a mudança na metodologia de transferência de valores entre processos, não foram identificadas novas fraudes com o mesmo modus operandi.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revogou a prisão de todos os envolvidos. Em sua decisão que concedeu habeas corpus e libertou primeiramente João Ricci Volpato, o ministro destacou que os supostos delitos de estelionato, peculato e falsificação de documentos teriam sido consumados até março de 2023 – e não além disso.
Gilmar Mendes concedeu o habeas corpus a João com base na ausência do requisito de contemporaneidade entre os crimes alegados e a decretação da prisão.  Com isso, estendeu o habeas aos demais envolvidos, fixando medidas cautelares.
 

 

 

Fonte: Olhar Direto

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.