Você já ouviu falar em dupla excepcionalidade?
Esse termo se refere a quando a superdotação coexiste com outras condições, como o TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, e este é o tema central de um estudo recente publicado na revista científica ID Internacional.
O estudo, realizado pelo Pós PhD em neurociências, Dr. Fabiano de Abreu Agrela em parceria com o veterinário e especialista em neurociências, Flávio Nunes, destaca como essas duas características, aparentemente opostas, criam uma situação complexa de potencial e vulnerabilidade.
A pesquisa mostra que, em muitos casos, o alto quociente intelectual pode mascarar os sintomas do TDAH, fazendo com que o diagnóstico correto demore ou sequer aconteça. Por outro lado, a desatenção e a impulsividade típicas do transtorno muitas vezes impedem que o potencial do indivíduo se manifeste plenamente.
“O resultado é um sentimento constante de inadequação, essas pessoas vivem divididas entre sua capacidade de entender conceitos complexos e a dificuldade de manter o foco, organizar tarefas ou controlar impulsos e essa dissonância pode gerar frustração, baixa autoestima e ansiedade”, explicam os autores.
Impacto emocional e social
o convívio social, as dificuldades se tornam ainda mais visíveis. A hiperatividade verbal e a impulsividade social podem ser mal interpretadas como desrespeito, enquanto a rapidez de raciocínio e a impaciência com interlocutores mais lentos podem afastar amigos e colegas.
O estudo aponta que o sistema educacional raramente está preparado para lidar com essa complexidade. A ausência de profissionais capacitados e currículos inflexíveis contribui para que esses indivíduos sejam rotulados erroneamente como “preguiçosos” ou “problemáticos” quando, na verdade, vivem em constante esforço para se adaptar.
A visão da psicanálise
O trabalho inova ao trazer uma análise clínico-psicanalítica da dupla excepcionalidade. Segundo os autores, a superdotação pode funcionar como defesa psíquica diante da instabilidade emocional, e o TDAH pode ser expressão de dificuldades inconscientes na simbolização e no controle do desejo.
“É como se o ego estivesse sobrecarregado, tentando integrar uma mente veloz e criativa com a dificuldade de manter o próprio funcionamento emocional em equilíbrio”, explica o estudo. Sem apoio, esse esforço pode levar a um colapso psíquico que se manifesta em comorbidades como depressão, ansiedade e transtornos de conduta.
Um chamado por atenção e empatia
A principal conclusão do estudo é a urgência de uma abordagem diagnóstica mais integrada e empática. Os autores defendem que profissionais da saúde mental e da educação sejam capacitados a reconhecer essa condição com sensibilidade, para que intervenções personalizadas possam ser desenvolvidas.
“Não se trata apenas de tratar o TDAH ou de estimular a superdotação, mas de compreender como essas duas dimensões interagem e impactam o desenvolvimento do indivíduo como um todo”, afirma o Dr. Fabiano de Abreu Agrela.
Oportunidade de florescimento
A dupla excepcionalidade representa um enorme potencial ainda negligenciado. Quando corretamente identificados e acolhidos, esses indivíduos podem se tornar líderes criativos, pensadores originais e inovadores em suas áreas. Mas, para isso, precisam de ambientes que validem sua complexidade e promovam seu equilíbrio emocional e cognitivo.
O estudo reforça a necessidade de olhares mais sensíveis e preparados diante das nuances do desenvolvimento humano, e oferece subsídios fundamentais para que pais, professores e psicoterapeutas possam atuar de forma mais eficaz.
Fonte: cenariomt