SAÚDE

Como o Calor e os Metais Pesados Influenciam o Zumbido das Abelhas

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Luiz Galvão, poeta brasileiro que fazia parte da banda Novos Baianos, estava impressionado com a quantidade de abelhas que tinham entrado em seu apartamento. Ele ligou para João Gilberto, o pai da bossa nova, para conversar sobre elas, e o papo sobre o zumbido dos insetos rendeu um clássico da MPB: a música “Acabou Chorare“. Agora, imagina se o zumbido das abelhas diminuísse de frequência e ele não pudesse usar o som dos insetos de inspiração?

Não é uma pergunta tão esdrúxula quanto pode parecer. As abelhas estão sofrendo com as intensas transformações ambientais das últimas décadas. São milhões delas mortas todo ano só no Brasil por causa da aplicação indevida de agrotóxicos. O declínio populacional desses insetos essenciais para a produção de alimentos também é carregado pelo desmatamento, que acaba com seus habitats, e com as mudanças climáticas globais.

Agora, uma nova pesquisa mostrou que as abelhas também estão tendo a comunicação prejudicada pelas mudanças no meio ambiente. Temperaturas altas e exposição a metais pesados reduzem a frequência das vibrações de asas não relacionadas com o voo, seu famoso “zum zum”, como cantavam os Novos Baianos. Esse impacto no zumbido das abelhas pode diminuir a eficiência da comunicação entre elas e prejudicar seu papel como polinizadoras.

O estudo dos músculos de voo das abelhas foi liderado por Charlie Woodrow, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Uppsala, na Suécia. “Muitos não sabem que esses músculos são usados para outras funções além do voo”, explica Woodrow, num depoimento para a Sociedade de Biologia Experimental, que organizou a conferência em que o trabalho foi apresentado.

As vibrações das asas que não estão relacionadas ao voo podem servir para defesa, comunicação ou até “polinização por zumbido”, técnica que algumas abelhas usam para desprender o pólen das plantas usando a vibração de seus corpos, contraindo os músculos de voo cerca de 400 vezes por segundo.

Pesquisando as muitas funções dos músculos de voo das abelhas, a equipe de cientistas encontrou as causas ambientais que estão afetando esse comportamento dos insetos.

Zum zum inaudível

Os experimentos sobre o zumbido das abelhas foram realizados com insetos da espécie Bombus terrestris, muito comum na Europa. Os cientistas usaram acelerômetros para calcular a frequência das vibrações que as abelhas produzem e fizeram imagens térmicas para entender como elas lidam com o calor extra gerado enquanto fazem seu zumbido.

No experimento, eles descobriram que a temperatura tem um papel bem maior do que se imaginava nas vibrações das abelhas. Com temperaturas mais altas causadas pelas mudanças climáticas, os insetos não conseguem manter as vibrações no mesmo nível de antes, diminuindo a frequência dos zumbidos. Sem que as abelhas consigam fazer a polinização por zumbido por causa do aumento de calor, as plantas podem ter sérios problemas para se reproduzir.

Os pesquisadores também descobriram que a exposição a metais pesados reduz a frequência de contração dos músculos de voo das abelhas. Ou seja, a poluição do ambiente com esses elementos também pode impactar a comunicação desses insetos.

Entender como o zumbido – e, como consequência, a comunicação e a polinização – das abelhas é afetado por transformações no meio ambiente é mais uma ferramenta para entender a ecologia desses insetos tão essenciais para a nossa produção de alimentos.

A descoberta desse estudo abre a porta para novas possibilidades de investigar quais populações de abelhas estão em risco e precisam de algum tipo de auxílio para conservação. Medir a frequência dos zumbidos produzidos pelos insetos pode ser uma boa pista para entender a saúde de seus ecossistemas.

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Fonte: abril

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