Café e carnes lideram elevação
Após um período de nove meses (quatro deles acima de 1%) seguidos de alta, os preços de alimentos e bebidas recuaram 0,18% em junho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda, no entanto, deve ser somente temporária, pois o mercado já sente outra vez as pressões que tornaram a inflação no setor uma ameaça à segurança alimentar de parte da população brasileira, em especial a que tem menor poder de compra.
O governo atribui a ligeira queda nos preços a políticas públicas como a ampliação de estoques reguladores, o apoio à agricultura familiar e o estímulo à produção local de insumos, como o milho, que influencia no custo da ração animal, além de políticas de crédito rural e investimentos em infraestrutura logística.
Os preços da comida e da bebida tiveram uma alta de 3,69% no primeiro semestre, maior que os 2,99% do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA). Nos últimos 12 meses, o índice ficou em 5,35%, acima dos 5,32% dos 12 meses imediatamente anteriores. Treze dos 15 produtos que mais aumentaram foram alimentos. As cinco maiores altas foram manga (75,1%), tomate (56,1%), café (42,9%), pepino (40,6%) e morango (39,9%).
O IBGE calcula o IPCA oficial com base na cesta de consumo das famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos, abrangendo dez regiões metropolitanas, além das cidades de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília. Apesar da deflação em junho, os preços de alimentação e bebidas ainda sobem acima da média da inflação no resultado acumulado em 12 meses: alta de 6,66% para alimentos e 5,35% para o IPCA geral.
O preço das carnes deve continuar pressionando a inflação. O pico está previsto para o terceiro trimestre, devido, entre outros fatores, ao repasse atrasado de custos. Mesmo com uma perspectiva de desaceleração no quarto trimestre, os preços devem se manter altos neste ano. O mesmo cenário se verifica para o café. Apesar de o Brasil ser o maior produtor global e autossuficiente no grão, as exportações correspondem a cerca de 60% de sua produção. Os preços internos ficam vinculados aos externos.
Tarifaço se soma a outras conjunturas
Todos os efeitos da taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, que o Portal SNA vem cobrindo extensamente, se somam a questões que já preocupavam o setor agropecuário. Exemplos disso são chuvas irregulares em importantes polos produtivos cafeeiros e os juros da taxa Selic, atualmente fixados em 15%. O mercado não espera redução desse patamar pelo menos até o final do ano, o que dificulta investimentos e aumenta os custos para o produtor, que os repassa e encarece os produtos no final da linha, onde está o consumidor.
Como a calibragem da taxa básica de juros é o principal instrumento de política monetária utilizado para controle de inflação, uma vez que em patamares elevados desestimula o crédito e o consumo, a dificuldade persiste, ainda mais com a tarifa adicional de 50% anunciada pelo presidente americano Donald Trump sobre produtos brasileiros adiciona incertezas ao cenário, podendo gerar pressão adicional sobre o câmbio.
Em nota oficial, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) destaca que as variações de preços observadas no IPCA de junho afetam os custos de produção agropecuária, em especial em razão da alta no preço da energia elétrica. Isso porque a bandeira vermelha 1 foi acionada, encarecendo atividades rurais que dependem mais de eletricidade do que outras.
Frutas podem ter queda de preço

Enquanto isso, o setor de frutas, severamente impactado pelo tarifaço, já prevê queda dos preços no mercado interno. Isso porque o país tentará absorver parte do volume excedente que não pôde ser embarcado aos Estados Unidos a tempo de evitar a taxação. O Portal SNA mostrou essa problemática, destacando o caso da manga, fruta mais exportada para os americanos.
De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), a estimativa da associação é de que 70 mil toneladas de manga tenham sido negociadas com importadores americanos nesta temporada, volume que precisará ser destinado ao mercado europeu, que nesta época do ano está abarrotado com a produção local, ou para o próprio Brasil. Com isso, as cotações internacionais, que servem de base para os preços internos, deverão experimentar alguma queda, ainda que temporária, pelo súbito aumento da oferta onde o abastecimento já está garantido. Diante desse cenário, segundo a Abrafrutas, alguns produtores cogitam não colher os frutos quando consideram os custos com a operação e o valor que potencialmente receberão pelo produto.
Outra fruta impactada pela tarifa foi o abacate, cujos embarques sequer iniciaram. O setor vinha negociando a abertura dos EUA para exportação da fruta, mas diante do atual cenário, essa possibilidade está dada como perdida. Sem alternativas, a única esperança do setor é uma potencial revisão da decisão de taxar o Brasil por parte do governo americano. As autoridades brasileiras ainda esperam uma resposta a uma carta enviada aos EUA em 16 de maio deste ano, em que foi solicitada a abertura de uma negociação com base em uma lista de produtos.
Fonte: gazetamt