Os alfas são figuras famosas no mundo dos primatas: machos fortes e dominantes, responsáveis por liderar e comandar um grupo, geralmente por meio da violência e da agressão. Descobertas recentes, no entanto, vêm mostrando que o papel dos machos alfa entre os símios foi exagerado. Na verdade, exemplos de dominação masculina inequívoca são raros – e casos em que as fêmeas são as líderes existem.
Um novo estudo investigou as relações de dominância entre os sexos em mais de 100 espécies de primatas. Os pesquisadores descobriram que, na maioria das espécies, não há uma relação óbvia de dominação de um sexo sobre o outro: o cenário tende a ser mais complexo. A pesquisa questiona a ideia anterior de que há uma dominação masculina generalizada na natureza.
As descobertas foram divulgadas num artigo científico publicado na revista PNAS. Com frequência, descobriu o estudo, tanto machos quanto fêmeas vencem competições de agressividade um contra o outro, e nenhum aparece como dominador inconteste.
Nas poucas espécies com dominação explícita de um dos sexos, machos e fêmeas geralmente usam estratégias de dominação diferentes. Enquanto os primatas do sexo masculino garantem seu poder com força física e coerção, as fêmeas geralmente usam estratégias reprodutivas para conquistar o controle por meio do acasalamento.
Dominação depende de contexto
Por muito tempo, a ideia de que os machos eram sempre os dominantes entre os mamíferos era majoritária na ciência – mas muito dela pode ser fruto de vieses dos pesquisadores, já que as evidências apontam para um cenário bem mais diverso. Orcas, suricatos, bonobos e lêmures-de-cauda-anelada apresentam alguma forma de dominação feminina, conforme descobriram muitos estudos nas últimas décadas.
Na nova análise das sociedades primatas, os pesquisadores liderados por Élise Huchard, da Universidade de Montpellier na França, usaram dados de 253 estudos. Eles descobriram que episódios de disputas agressivas entre machos e fêmeas eram comuns entre a maioria dos primatas. Mas os machos não apareciam como vencedores óbvios sempre.
Os pesquisadores incluíram dados de 151 populações diferentes de 84 espécies distintas. Eles perceberam que os machos ganharam em 25 populações que englobam 16 espécies, e as fêmeas ganharam em 20 grupos que também englobavam 16 espécies. No caso das 106 populações e 69 espécies restantes, os dados não eram claros o suficiente para mostrar quem eram os vencedores das disputas.
A dominação de acordo com o sexo nos primatas varia não só de espécie para espécie como de grupo para grupo. No caso dos talapoins angolanos, por exemplo, populações distintas podem apresentar dominação masculina, dominação feminina ou nenhum viés de liderança sexual.
Para explicar essa variação de dominância entre os primatas, os pesquisadores descobriram que as características físicas eram importantes para determinar os líderes – mas não só. O local onde os macacos viviam e como eles se organizavam também eram fatores muito importantes.
A dominação feminina, por exemplo, geralmente acontecia em sociedades em que elas tinham controle reprodutivo, decidindo com quem elas queriam acasalar. Espécies monogâmicas que vivem em árvores, onde as fêmeas podiam escapar dos machos, favorecem a dominação feminina. Já sociedades poligâmicas em que os machos são maiores e mais fortes favorecem a dominação masculina. O contexto é essencial para continuar estudando esses casos de dominação entre sexos e revisar análises possivelmente enviesadas do passado.
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Fonte: abril