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Peter Jackson investe em empresa para recuperar ave gigante extinta: um projeto viável?

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Em abril deste ano, a empresa Colossal Biosciences anunciou que tinha trazido de volta da extinção o lobo-terrível (Aenocyon dirus), espécie que sumiu entre 10 e 12 mil anos atrás, no final da última era do gelo.

Mas os três filhotes do “primeiro animal desextinto com sucesso no mundo” eram, na verdade, lobos-cinzentos comuns, da espécie Canis lupus, com 20 edições genéticas a partir das amostras de DNA de fósseis do A. dirus. Não dá para chamar cientificamente de desextinção. Esse termo está mais para uma jogada de marketing, como explicamos em detalhes na nossa reportagem de capa de junho.

De qualquer forma, o discurso deu certo, e a Colossal e seu projeto de desextinção caíram na boca – e no feed – do povo. Em sua última rodada de investimentos, a empresa arrecadou US$ 200 milhões (R$1,1 bilhão) em financiamento. Antes dos lobinhos, a companhia também foi responsável por criar camundongos com lã, parecidos com os mamutes-lanosos, que a empresa também quer desextinguir. Dodôs e tigres-da-tasmânia também estão na mira dos pesquisadores e investidores da Colossal.

Agora, a empresa anunciou uma nova espécie para tentar trazer de volta: as moas, aves gigantes da Nova Zelândia que tinham até 3,6 metros de altura e pesavam 230 kg. Existiam nove espécies diferentes de moa, e todas elas provavelmente foram extintas até o meio do século 15, por causa da caça dos Māori, os nativos que chegaram nas ilhas neozelandesas no século 12.

Para ajudar na missão, a empresa vai contar com financiamento do diretor de cinema Peter Jackson, famoso pelos filmes de O Senhor dos Anéis O Hobbit. O neozelandês é dono de uma das maiores coleções particulares de ossos de moa, com cerca de 400 peças.

Mais ou menos moa

Jackson e sua parceira Fran Walsh investiram US$ 15 milhões (R$ 83 milhões) na iniciativa da Colossal Biosciences para criar um animal parecido com a moa a partir de engenharia genética. Eles pretendem fazer edições genéticas em aves grandes que ainda existem, como emus e tinamus. A ideia é fazer elas se parecerem e se comportarem como as moas extintas, da mesma forma que fizeram com os lobos-ditos-terríveis.

As moas eram aves que não voavam – na verdade, sequer tinham asas. Os emus também não voam, mas têm asas vestigiais, sem a função de voar. As moas nem isso têm: são os únicos pássaros completamente sem asas conhecidos. Hoje em dia, seus parentes evolutivos mais próximos são as aves tinamiformes, presentes nas Américas, mas as espécies divergiram há mais de 60 milhões de anos.

Para tentar ressuscitar esses pássaros gigantes sem asas, a Colossal vai trabalhar com o Centro de Pesquisa Indígena Ngāi Tahu, da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia. Além de Jackson e sua coleção, o Museu de Canterbury também vai participar da empreitada, com a maior coleção de vestígios fósseis de moa do mundo.

A ideia da Colossal é extrair amostras de DNA desses fósseis para recriar o genoma de todas as nove espécies de moas. Vai ser difícil pegar as aves tinamiformes, parentes mais próximas desses gigantes extintos, e fazer as edições genéticas necessárias para ficarem mais parecidas com moas, porque elas são muito pequenas. Por causa disso, a empresa pretende modificar geneticamente os emus-australianos (Dromaius novaehollandiae) para tentar trazer de volta as nove espécies extintas de moas.

Em entrevista à revista britânica New Scientist, o consultor científico da Colossal Andrew Pask, da Universidade de Melbourne, disse que o projeto será muito mais complexo que a suposta desextinção do lobo-terrível, com “ordens de magnitude” a mais de edições no DNA. “A diferença aqui é que vai realmente ser uma tentativa de recriar a moa de volta”, ele disse. Mas será que isso realmente é possível?

Vários cientistas duvidam da empreitada. Alterar geneticamente um parente próximo (nesse caso, nem tão próximo assim) para se parecer com o animal extinto não é exatamente ressuscitar a espécie extinto, afinal. E só o sequenciamento de todo o material genético das moas extintas já é um baita desafio.

E tem mais: não tem como garantir que todas as características da espécie vão ser “revividas”. O comportamento dessas aves gigantes, por exemplo, não era definido só pela genética, mas também pelo habitat e pela comunidade. Como reproduzir isso em outra espécie e outro milênio? É improvável que esses animais geneticamente modificados ocupassem os mesmos nichos ecológicos das moas do passado.

Talvez a Colossal consiga criar uma ave bem parecida com as moas em laboratório. Mas se você quiser ver uma moa de verdade algum dia, melhor tirar o foco da biologia e encher o saco dos físicos para criar logo uma máquina do tempo.

O tempo está passando mais rápido?

Fonte: abril

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