O envelhecimento da população mundial é mais do que uma certeza, é uma realidade, assim como real a vida solitária nessa fase. Se o mundo todo sofre em algum grau com a solidão do idoso, há de se imaginar o sofrimento do Brasil, um país conhecido pelo calor humano, pela interação fácil de familiares e amigos, algo que diminui substancialmente na terceira idade, quando as relações escasseiam e os contatos diminuem ano após ano, à medida que o idoso envelhece cada vez mais. Hoje a proporção de idosos no Brasil já alcança a faixa dos 16% e estima-se que na segunda metade deste século, esta faixa atingirá cerca de 40% da população brasileira.
No cenário que se desenha para os próximos anos, a solidão passa a ser um desafio crítico, a ser visto com muito cuidado pelas políticas de saúde mental dos diferentes lugares do mundo, uma vez que se sabe que a vida solitária leva frequentemente ao sentimento de solidão e esta, quando prolongada, causa impacto cerebral negativo, com deterioração da capacidade cognitiva, observada pelo prejuízo da atenção e da memória e aumento do risco de desenvolvimento de quadros demenciais.
São preocupantes, também, as perdas que ocorrem de familiares e amigos contemporâneos, com reações de luto de repetição, ou luto patológico, principalmente naqueles idosos mais longevos e sem apoio para elaborar essas perdas. A depressão e ansiedade chegam a ser até quatro vezes mais frequentes nos idosos solitários. O desamparo é o sentimento mais comum na vida dessas pessoas que, junto à desesperança, aumentam o risco e a taxa de suicídio nessa população. O sono, de grande importância para a homeostase do organismo, geralmente tem redução ou outros danos na vida solitária do idoso, seja pela ansiedade, por sintomas depressivos ou, simplesmente, pelo medo de dormir sozinho.
O risco é ainda maior nos idosos viúvos e solitários, principalmente porque a perda do companheiro ou companheira diminui a rede de apoio, que muitas vezes já era pequena ou nem existia. O homem é por natureza mais dependente, mas a mulher viúva, solitária, sem apoio da família, sofre mais com a solidão. A limitação física e a lentidão motora inibem muito a vida social, favorecendo a clausura do indivíduo idoso. A baixa renda na aposentadoria restringe a possibilidade de vida social e cultural.
Não é apenas a saúde mental a parte afetada pela solidão na terceira idade; a saúde física também sofre ação da vida solitária nesse momento da vida. O estresse de forma continuada favorece o aumento da pressão arterial e o surgimento de doenças cardiovasculares; compromete também o sistema imunológico, criando assim maiores riscos de aparecimento de infecções em qualquer parte do corpo.
Além da necessidade de políticas públicas para implementar medidas de abrandamento ou de combate da solidão, seria importante que o idoso solitário se engajasse em hobbies de acordo com seu interesse pessoal; o manejo das redes sociais pode favorecer o contato por áudio ou videochamada com parentes e amigos distantes, o que não resolve, mas abranda o sentimento de desamparo.
Hoje preconiza-se os chamados programas intergerações, objetivando a troca de experiências entre idosos e pessoas mais jovens, que além do ganho cultural, traz benefício social, principalmente ao idoso. Os espaços comunitários usados, como centros de convivência da terceira idade são grandes suportes psicológicos à população da terceira idade. As políticas de saúde precisam fomentar os serviços especializados em assistência ao idoso, incluindo a psiquiatria geriátrica, juntamente com a formação de cuidadores capacitados para lidar com o idoso e aptos a identificar precocemente sinais de depressão ou riscos de suicídio.
A solidão é um fenômeno preocupante, mas com boa vontade política e social seus efeitos maléficos podem ser diminuídos. Vamos pensar nisso e correr atrás de soluções. Afinal de contas, o idoso precisa ser visto como fonte de sabedoria e não como um fardo que seremos ou que um dia iremos carregar.
Fonte: primeirapagina
