A inadimplência continua sendo um desafio persistente para os consumidores brasileiros. Segundo dados divulgados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mais de 83% dos consumidores negativados em maio de 2025 já haviam aparecido no cadastro de devedores nos 12 meses anteriores. Isso indica que oito em cada dez pessoas voltam a atrasar contas mesmo após regularizar dívidas anteriores.
O levantamento mostra ainda que a reincidência acontece, em média, após apenas 2,4 meses do primeiro atraso. A maior parte (62,98%) dos reincidentes é composta por pessoas que permaneceram inadimplentes por mais de um ano, enquanto 20,5% haviam conseguido sair do cadastro, mas retornaram ao endividamento. Apenas 16,52% dos negativados em maio eram considerados “novos inadimplentes”.
De acordo com o presidente da CNDL, José César da Costa, o alto índice de reincidência reflete a perda do poder de compra da população, o comprometimento do orçamento com despesas básicas e a má alocação de recursos. “Quase 60% dos consumidores quitaram dívidas de até R$ 500, o que evidencia o impacto que débitos pequenos exercem sobre o orçamento familiar”, afirmou.
Crédito caro e juros altos dificultam renegociação
Além da reincidência elevada, os dados do SPC Brasil apontam para um declínio na recuperação de crédito. Em maio de 2025, houve uma queda de 11,92% no número de brasileiros que conseguiram sair das listas de inadimplentes em comparação aos 12 meses anteriores. A redução foi mais intensa entre consumidores que levaram de quatro a cinco anos para quitar suas dívidas, com retração de 13,79% nesse grupo.
Para Roque Pellizzaro Junior, presidente do SPC Brasil, o cenário é resultado direto do ambiente macroeconômico hostil. “A Selic elevada encarece o crédito, tornando renegociações mais difíceis e desestimulando o consumo a prazo. Juros altos também aumentam o custo das dívidas renegociadas, o que explica porque tantos consumidores voltam a atrasar contas poucos meses depois de quitá-las”, explicou.
Perfil dos devedores: jovens adultos e mulheres lideram reincidência
A faixa etária com maior número de reincidentes em maio foi a de 30 a 39 anos, com 25,62% de participação. Em relação ao sexo, os números estão bem distribuídos: 54,49% são mulheres e 45,51% homens.
Entre os consumidores que conseguiram regularizar sua situação e saíram do cadastro de inadimplentes, a maioria também é formada por mulheres (51,85%) e pessoas entre 50 e 64 anos (23,81%).
Em média, os consumidores que quitaram suas dívidas pagaram R$ 2.108,70. No entanto, 59,29% deles regularizaram débitos de até R$ 500, confirmando o peso das pequenas dívidas no orçamento das famílias brasileiras.
O SPC Brasil alerta que, sem políticas coordenadas que equilibrem crédito, proteção ao consumidor e estabilidade fiscal, o país pode enfrentar uma espiral de fragilidade financeira doméstica que penaliza consumidores e compromete a recuperação econômica.
Fonte: cenariomt