PolĂ­tica

TCE busca suspender descontos abusivos em salĂĄrios e operadoras irregulares

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O presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT), conselheiro SĂ©rgio Ricardo, propĂŽs nesta quinta-feira (5) a suspensĂŁo, por 90 dias, de todos os descontos em folha que ultrapassem o limite legal de 35% da remuneração dos servidores pĂșblicos estaduais, com exceção de pensĂ”es alimentĂ­cias por decisĂŁo judicial.

A medida visa estancar o avanço do superendividamento da categoria. Além disso, o TCE-MT quer barrar o credenciamento de novas operadoras de crédito consignado e promover a exclusão progressiva das instituiçÔes financeiras sem sede ou representação em Mato Grosso.

Durante reuniĂŁo da mesa tĂ©cnica que discute soluçÔes para a crise dos emprĂ©stimos consignados do estado, nesta quinta-feira (5), o presidente afirmou que esta Ă© a Ășnica forma de “estancar a hemorragia”. “Vamos estudar imediatamente a forma de fazer essa propositura Ă  Secretaria de Planejamento e GestĂŁo (Seplag), para que nĂŁo desconte mais nada alĂ©m dos 35% que determina a lei, a nĂŁo ser em casos de pensĂŁo alimentĂ­cia por decisĂŁo judicial, a hemorragia precisa ser estancada. Para com tudo e, depois de 90 dias, o que for legal, continua e o que for ilegal cancela.”

AlĂ©m disso, reforçou que as empresas devem apresentar os contratos firmados atĂ© o dia 18. “NĂłs temos 104 mil servidores e 62 mil tĂȘm dĂ­vidas com consignados, estĂŁo devendo no cartĂŁo de crĂ©dito. O que a gente observa Ă© que hĂĄ uma necessidade urgente de estancar essa hemorragia. Eu digo que essas empresas sĂŁo verdadeiras devoradores. EntĂŁo a minha propositura Ă© no sentido de suspender a cobrança por 90 dias e que nĂŁo entre mais nenhuma.”

Sobre a exclusĂŁo gradual de instituiçÔes financeiras que nĂŁo possuem sede ou representação em Mato Grosso, SĂ©rgio Ricardo defendeu que apenas bancos oficiais e empresas com atendimento direto ao servidor sigam atuando. “A fiscalização serĂĄ feita em cima de todas as operaçÔes. Quem fraudou, quem colocou contrato falso de servidor, vai ser processado, vai ser apontado”, acrescentou. 

Proposta pelo conselheiro Guilherme Antonio Maluf, a mesa tĂ©cnica reĂșne membros do Legislativo e do Executivo, alĂ©m do MinistĂ©rio PĂșblico, Defensoria PĂșblica e representantes de sindicatos. Sob relatoria do conselheiro Campos Neto, a iniciativa foi motivada por uma sĂ©rie de denĂșncias de irregularidades na cobrança, com servidores que chegam a ter 99% de sua renda comprometida.

Para Maluf, o superendividamento Ă© resultado da ausĂȘncia de regulamentação efetiva sobre emprĂ©stimos consignados no estado. “Isso vem corroendo o salĂĄrio dos servidores e gerando consequĂȘncias graves, atĂ© casos extremos de suicĂ­dio. Com essa mesa tĂ©cnica, queremos reunir todos os interessados, construir uma regulamentação sĂ©ria e levar Ă  Assembleia uma proposta de lei que realmente proteja os servidores”, pontuou. 

A deputada Janaina Riva reforçou o compromisso do Legislativo em acompanhar a construção das soluçÔes. “Estamos falando de um movimento histĂłrico que, se bem conduzido, vai gerar frutos reais para a saĂșde financeira do funcionalismo pĂșblico. A Assembleia quer participar desde o nascimento dessas soluçÔes, porque cabe a nĂłs, como legisladores, validar essas propostas de forma legal e duradoura”, disse. 

Para o deputado Wilson Santos, a iniciativa representa um avanço no enfrentamento de abusos financeiros. “O foco agora Ă© entender o tamanho do prejuĂ­zo, identificar tudo que foi feito de forma equivocada e renegociar esses contratos. O Estado precisa assumir o protagonismo e tratar isso com seriedade, promovendo uma negociação a longuĂ­ssimo prazo com taxas justas e condiçÔes que devolvam dignidade ao servidor.”

O procurador-geral do MinistĂ©rio PĂșblico de Contas (MPC), Alisson Carvalho de Alencar, apontou falhas estruturais que levaram a situação e propĂŽs a criação de um comitĂȘ com representantes de diversos ĂłrgĂŁos para reformar o modelo de concessĂŁo de crĂ©dito. “Precisamos construir um novo sistema de gerenciamento. Um comitĂȘ interinstitucional Ă© fundamental para dar transparĂȘncia e garantir que os abusos nĂŁo se repitam.”

Representando mais de 30 sindicatos e associaçÔes, a presidente da FESSP-MT, Carmem Machado, reforçou a importĂąncia da escuta institucional aos servidores. “O que nĂłs estamos pretendendo, enquanto representantes dessa mesa tĂ©cnica de milhares de servidores, Ă© a resolutividade de todo esse massacre financeiro pelo qual passa o servidor do Estado de Mato Grosso.” TambĂ©m participaram da reuniĂŁo representantes da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), da Defensoria PĂșblica (DPE), da Controladoria-Geral do Estado (CGE), da Secretaria de Planejamento e GestĂŁo (Seplag), do Procon-MT e de entidades sindicais ligadas ao funcionalismo pĂșblico estadual, como o Sindicato dos Servidores PenitenciĂĄrios (Sindsppen).

A mesa técnica

A reuniĂŁo desta quinta-feira Ă© um desdobramento do encontro do Ășltimo dia 5 de junho, quando foi proposta a revisĂŁo do Decreto nÂș 691/2016 e a criação de um teto legal para o comprometimento da renda. A mesa tĂ©cnica Ă© coordenada pela ComissĂŁo Permanente de Normas, JurisprudĂȘncia e Consensualismo (CPNJUR), presidida pelo conselheiro Valter Albano.

As denĂșncias que motivaram a criação da mesa tĂ©cnica envolvem casos de contratação irregular de crĂ©dito por meio de aplicativos de mensagens, ausĂȘncia de documentação fĂ­sica, valores creditados abaixo do contratado e cobranças abusivas. De acordo com relatos apresentados por entidades sindicais, foram identificadas mais de 12 mil operaçÔes suspeitas.

Segundo levantamento apresentado pela Seplag durante a primeira reuniĂŁo, quase 60% dos servidores pĂșblicos estaduais possuem crĂ©dito consignado, com mĂ©dia de cinco contratos por pessoa. Mais de 20 mil comprometem acima de 35% da renda lĂ­quida com dĂ­vidas, enquanto 7,8 mil ultrapassam o limite de 70%.

Fonte: odocumento

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