Muitos clubes têm reclamado do menor peso dos seus votos em relação aos das federações para a eleição do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os clubes, no entanto, pelo menos votam. Os jogadores não têm nenhum tipo de representante na votação e muito menos poder de voto individual.
Mais do que isso: nem foram ouvidos durante o rápido processo que definiu Samir Xaud como candidato único à presidência da entidade, segundo informa a Jorge Henrique Pereira Borçato, presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf).
“Não houve nenhuma consulta formal à Fenapaf nesse âmbito desse processo eleitoral, não houve nenhuma consulta”, afirmou Borçato. Ele, no entanto, mantém a expectativa de ainda ser consultado.
“Contudo, a gente está aberto sempre ao diálogo, esperando que em futuras decisões todas as entidades representativas do futebol possam ser ouvidas. Entendemos que o fortalecimento institucional vem da construção conjunta e a inclusão de diferentes perspectivas.”
Os clubes se consideram as “células” do futebol, fundamentais para os campeonatos e a popularidade do esporte. Mas, neste sentido, os jogadores seriam os “átomos”; são eles os maiores protagonistas, os que representam os clubes nos campos e se expõem à glória ou ao fracasso.
Justamente os jogadores — as figuras centras do futebol — assistiram à sequência de idas e vindas de Ednaldo Rodrigues na presidência, às decisões de Gilmar Mendes no , às definições de calendário, como se fossem espectadores. Ou até como torcedores. Na torcida para que todo esse acúmulo de decisões burocráticas e de gabinete não os prejudique.
“O nosso posicionamento sobre reivindicações tem sido constante, nós sempre defendemos uma governança participativa, com maior inclusão dos atletas nas decisões estratégicas”, prossegue Borçato, ex-jogador, que, entre 1986 e 2002, atuou em 24 clubes, entre os quais o Vasco da Gama.
“Nossas principais pautas envolvem valorização da carreira do jogador, segurança jurídica, direito trabalhista, as oportunidades de formação para a pós-carreira. Acreditamos que uma gestão que considere esses pontos trará benefício concreto para o futebol como um todo. Melhorando o futebol todo, com certeza que vai melhorar para os atletas.”
Borçato considerou positiva a candidatura do ex-craque Ronaldo Nazario à presidência da CBF. Sem o apoio de nenhuma federação, Ronaldo desistiu de concorrer dias antes de Ednaldo ser eleito pela segunda vez, em março de 2025.
“O Ronaldo se importa com o futebol brasileiro e colocou o nome dele”, acrescenta o presidente da entidade. “E não podemos deixar de ressaltar que o nome do Ronaldo trouxe visibilidade ao processo eleitoral da CBF e mobilizou diversos setores. Trata-se de uma figura respeitada no futebol mundial. Mas com a Fenapaf não houve nenhum contato direto nesse contexto.”
No último dia 15, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou a saída de Ednaldo da presidência.
Novas eleições foram marcadas para o próximo domingo, 25, com o lançamento de uma candidatura única, de Samir, de Roraima, em consenso entre as federações.
Borçato, porém, não ficará na oposição à nova , mesmo sem ter sido consultado.
“A Fenapaf respeita o processo democrático interno da entidade que comprou o sistema desportivo brasileiro, a indicação do Samir Xaud com o apoio de grande parte das federações demonstra um alinhamento aí institucional que deve ser observado e com muita atenção.”
Mas ele afirma que a participação dos atletas será muito importante.
“O mais importante para nós, eu digo aqui para para os atletas, para a Fenapaf, é que qualquer gestão futura esteja aberta para o diálogo.”
Fonte: revistaoeste