A invasão silenciosa e o aumento da população de porcos selvagens têm causado ainda mais prejuízos para as lavouras de milho em Mato Grosso. Em Brasnorte, noroeste do estado, há propriedades com mais de 25 hectares de milharais perdidos este ano em decorrência da praga. Cenário que causa incerteza e pode comprometer a continuidade da cultura na próxima safra.
Na Fazenda Flexa de Ouro os rastros de destruição deixados pelos porcos selvagens em meio aos quase três mil hectares de milho cultivados são visíveis nesta temporada. A estimativa, conforme o gerente técnico da propriedade Cláudio Roberto Loma, é de 10% de perda.
Ele comenta que os ataques e prejuízos causados pelos animais ocorrem desde o início do cultivo
“Ele cavoca no chão, tira a semente e conforme a cultura vai crescendo eles vem invadindo, quebrando e comendo. Ano a ano ele vem sendo um problema maior”.
O gerente da fazenda relata ao projeto Mais Milho, do Dia de Ajudar Mato Grosso, que até mesmo o controle de ervas daninhas é difícil de realizar devido aos porcos selvagens.
“Outra questão, ele derruba o milho e onde tem as reboleiras você já não consegue fazer o controle das ervas daninhas também, porque elas se sobressaem devido a incidência de luz. E tem que haver um cuidado, pois se você entrar em uma área e se deparar com um bando, você tem que estar próximo de um carro, porque senão você não tem socorro. O risco é sério”, alerta Cláudio Roberto.

Porcos selvagens causam redução de área
Produtor em Brasnorte, Douglas Pelisser em uma tentativa de evitar novos prejuízos na safra 2024/25 decidiu reduzir em 70% a área destinada ao cereal. Mesmo assim, a propriedade que sofre há anos os ataques dos animais, não escapou.
“Tem lugares que tem manchas de 10, 12, 15 hectares. Em um talhão de 200 hectares eu calculo já para cima de 25 hectares. Estamos no começo de maio, vamos colher lá para junho, julho. Então eu acredito que vamos ter mais 15 a 20 hectares a mais de danos ainda. Ano que vem não plantamos mais milho, não. Não fecha a conta. O prejuízo é muito grande e ainda é área arrendada. É melhor parar com a cultura”.
E o milho não é o único alvo dos porcos selvagens. Segundo Douglas, outras culturas também semeadas nesta temporada entraram no cardápio dos animais, aumentando ainda a apreensão do produtor.
“Esse ano na cultura da soja levou 20% e agora vai na cultura do milho. Está dando prejuízo também no feijão, que está entrando no final de ciclo e formando grão. E não tem um bando só na fazenda. Tem bando espalhado por vários cantos. Se for somar passa de 600 animais dentro da fazenda. É um animal agressivo, precisa de controle. É um trem que pega a gente, cachorro. Não é à toa que a onça não está conseguindo mais controlar ele. Não tem o que fazer. A gente trabalha dentro da lei. Mato Grosso inteiro está sofrendo”, diz ao Dia de Ajudar Mato Grosso.
A pecuária na região de Brasnorte também sofre com a visitação dos porcos selvagens, de acordo com o produtor Marcos Deiss. Ele relata à reportagem que o gado ao correr dos porcos selvagens acaba ficando enroscado na cerca.
“Temos que ficar vendo e estar sempre preparados. Onde você vai sair de um carro ou de um trator, porque eles andam em bando e vem para cima da gente. Tem que estar sempre preparado para correr. Está inviabilizando a produção. Praticamente temos que ver e ir atrás para tentar ver alguma coisa para poder amenizar esses impactos na nossa economia, principalmente na nossa produção de alimentos”.

Caso de calamidade pública
O presidente do Sindicato Rural de Brasnorte, Sandro Manosso, frisa que hoje o setor produtivo não possui nenhum tipo de amparo legislativo, tanto na esfera estadual quanto federal, no que tange aos porcos selvagens.
“O produtor está em uma situação bem delicada. Com o custo que está, o produtor perder 20%, 30% em uma lavoura de milho, inviabiliza. Devido a sua rápida procriação, está ficando um caso de calamidade pública aqui. Se não for feito algo, eu acredito que em um futuro próximo a cultura será inviável na nossa região”.
Além dos porcos selvagens, também há prejuízos sendo causados nas lavouras mato-grossenses pelo avanço do javali e do java-porco, especialmente na região de Alto Taquari. O alerta é do presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber.
Ele reforça que os javalis e java-porcos são espécies exóticas e agressivas que representam uma ameaça inédita à agricultura e à fauna local.
“Nós precisamos deixar a ideologia de lado e trabalhar com dados, números e fatos. Fazer como países mais desenvolvidos fazem. Estamos trabalhando e em contato com um dos maiores especialistas aqui no Brasil, que inclusive fez uma pesquisa encomendada pela Aprosoja Mato Grosso, no qual espalhou um número imenso de câmeras georreferenciadas, câmeras de armadilha, de capturas, que são especiais justamente para monitorar a fauna, seja nas propriedades rurais como, também, em ambiente nativo, para um levantamento aqui no estado”.
O presidente da Aprosoja Mato Grosso pontua que os dados da pesquisa já estão compilados e revelam que na região norte de Mato Grosso “está havendo uma superpopulação”. Além disso, a entidade se encontra em “tratativas com o Ibama, para que se faça algum tipo de controle que seja, claro, permitido por lei, de acordo com a nossa legislação”.
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Fonte: canalrural