Dexter é sinônimo de resistência, lucidez e compromisso com a palavra. Em 2025, ele celebra 35 anos de carreira e 14 de liberdade com o lançamento de “D’LUXO”, um álbum que revisita sua própria trajetória musical com novas roupagens, mas sem abrir mão de sua essência.
Ao lado do Tropkillaz, o rapper paulista atualizou os beats de clássicos que marcaram gerações e reafirmou o poder do rap como instrumento de manutenção de memória e transformação social. Em entrevista exclusiva ao POPline, Dexter falou sobre legado, parcerias e a urgência de manter viva a conexão entre arte e consciência.
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Foto: Rafa Leforte
Se revisitar o passado é um gesto delicado, Dexter faz isso com a firmeza de quem sabe o peso e o valor da própria história. Celebrando mais de três décadas de carreira, o rapper apresenta “D’LUXO”, um álbum que revisita as músicas mais marcantes da sua discografia com roupagem atualizada, produção assinada pelo Tropkillaz e inserções de mensagens inéditas que aproximam ainda mais o artista do público.
Dexter revelou que a chegada do disco aos tocadores de música é mais do que uma celebração. Ele serviu, na verdade, como um reencontro consigo mesmo, com sua caminhada e com tudo aquilo que moldou sua voz. “Tá sendo maravilhoso ouvir essas músicas e entender que muita coisa disso me trouxe até aqui. O que eu estou fazendo é cuidar bem dessas coisas que me trouxeram até aqui,” disse ele.
Mais do que um álbum comemorativo, “D’LUXO” é um exercício de memória, tanto individual quanto coletiva. Ao revisitar faixas como “Oitavo Anjo”, “Flor de Lótus” e “Fogo na Bomba”, Dexter reafirma o poder do rap como crônica de um Brasil desigual, que ainda marginaliza corpos negros e periféricos. Ao mesmo tempo, ele também aponta caminhos de superação e consciência.
Nova sonoridade, essência preservada
Para atualizar os instrumentais, Dexter convidou o duo Tropkillaz, formado pelos DJs e produtores Zegon e Laudz. A ideia era transformar sem descaracterizar, mantendo viva a pulsação original das faixas. O processo, no entanto, isso exigiu sensibilidade, como explicou o artista:
“A essência da música não pode ser abatida. A batida do coração da música não pode ter arritmia. A música tem que pulsar como pulsava antes, mesmo com uma batida diferente, mesmo com uma modernização. É possível fazer isso com respeito à obra, respeitando quem ouve, quem se identificou com aquilo lá atrás. Eu não queria só fazer um som bonito, eu queria preservar a verdade que aquelas músicas carregam. Porque se perder isso, perde tudo.”
Foto: Rafa Leforte
A metáfora com a medicina não é gratuita. Dexter trata sua obra como um organismo vivo, que pulsa com emoção, discurso e pertencimento. A nova sonoridade traz frescor ao projeto, tornando-o acessível a uma nova geração, mas sem apagar a densidade das letras originais. Apesar da evolução estética, a base continua sendo a mesma: o rap como ferramenta de denúncia, transformação e empoderamento.
Com isto, Dexter se vê como um mensageiro e não hesita ou abre mão dessa responsabilidade: “Não quero ficar sendo o tiozão chato, mas eu entendo a responsabilidade que eu tenho como rapper. Se a gente tem um microfone, tem que saber o que fazer com ele.”
Reflexões inéditas
Uma das novidades e diferencial do “D’LUXO” está nas reflexões inéditas inseridas em algumas faixas. São falas diretas de Dexter ao público; trechos que funcionam como interlúdios, mas que também têm a força de cartas abertas aos ouvintes. Ele explicou o objetivo:
“Essas falas que estão no disco são recados, são registros meus pra quem estiver ouvindo. Não são só frases soltas, são reflexões que vêm da caminhada, da dor, da conquista, da observação. Eu gravei cada uma com o coração aberto, como se estivesse trocando uma ideia direta com alguém que precisa ouvir aquilo naquele momento. Tem muito da minha vivência ali, mas também tem muito do que eu gostaria de ter escutado quando estava em outros momentos da minha vida. É sobre empatia. É sobre fortalecer.”
Dexter continuou falando sobre a origem de cada uma dessas reflexões e como elas se encaixaram no projeto como camadas adicionais de sensibilidade:
“Algumas vieram de conversas com amigos, outras de situações que eu vivi e que ficaram guardadas. Eu entendi que podia usar o espaço do disco não só pra rimar, mas pra falar de um jeito mais direto, quase como num desabafo. São palavras que não couberam numa letra, mas que fazem parte da minha história e da mensagem que quero deixar. É uma forma de me conectar ainda mais com quem escuta e de eternizar o que penso.”
Olhar para trás, planejar o futuro
Com seu novo disco, Dexter revisita a sua própria história, mas também sinaliza novos caminhos. “D’LUXO” poderá ganhar uma sequência, com releituras de parcerias marcantes da carreira do rapper. Além disso, um novo álbum de inéditas está a caminho: “Frustrações, Dogmas e Convicções” está previsto ainda para 2025.
“Esse próximo trabalho vem de um lugar muito íntimo, muito verdadeiro. ‘Frustrações, Dogmas e Convicções’ fala sobre tudo aquilo que a gente carrega, os pesos, as dúvidas, as certezas que nos movem ou nos travam. É um álbum de questionamento, mas também de afirmação. Nele, eu quero provocar reflexões, quero tirar as pessoas do lugar comum, inclusive a mim mesmo. Porque o rap é isso também: é enfrentamento interno e externo.”
Foto: Rafa Leforte
Já sobre o processo criativo, Dexter revela que o disco nasce de um mergulho interno e funciona como uma espécie de autorretrato:
“Esse disco é quase um espelho. Quando comecei a escrever, percebi que estava falando das minhas feridas, dos meus aprendizados, e também dos limites que a sociedade impõe pra gente. Os dogmas que nos prendem, as convicções que a gente precisa rever, as frustrações que acumulamos sem nem perceber. Não é um álbum pra agradar, é um álbum pra incomodar no bom sentido. Quero que quem ouça se reconheça, se questione e, se possível, se transforme.”
Fonte: portalpopline