O Brasil perderá uma área florestal equivalente a cerca de 50 campos de futebol por mês, durante os próximos 25 anos, para atender à demanda por carros elétricos (EVs) na União Europeia (UE). Essa devastação corresponde a quase 14 mil hectares de floresta desmatada mensalmente.
Os dados constam em um relatório encomendado pelas organizações Fern e Rainforest Foundation Norway, lançado durante o Fórum da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre os impactos da mineração no mundo.
De acordo com o estudo, os carros elétricos são centrais para o cumprimento do Pacto Verde Europeu e para que a União Europeia alcance a neutralidade de carbono até 2050. A demanda anual da UE por minerais críticos para as baterias dos EVs — incluindo lítio, cobre, níquel, cobalto, bauxita, ferro, fosfato e manganês — deverá superar 20 milhões de toneladas por ano. A extração desses minerais causa supressão de áreas florestais com vegetação superior a 5 metros, o que resulta em desmatamento e impactos ambientais.
Esses minerais são necessários para a fabricação das baterias de carros elétricos, especialmente das baterias NMC 811, que contêm lítio, níquel e cobalto. Isso pode resultar na destruição de aproximadamente 120 mil hectares de florestas em todo o mundo até 2050. O desmatamento, nesse caso, equivale à devastação de 18 campos de futebol por dia durante os próximos 25 anos. Caso o atual cenário do mercado europeu se mantenha, essa será a área total de floresta perdida para suprir a demanda da UE por esses veículos.
As baterias dos carros elétricos
O estudo que analisou esse impacto ambiental considerou três cenários distintos para projetar o desmatamento causado pela mineração dos minerais utilizados nas baterias. No primeiro cenário, há um uso variado de tecnologias de bateria entre os veículos elétricos. No segundo, todos os veículos utilizam baterias NMC 811. Já no terceiro cenário, todos os veículos usam baterias LFP, compostas de lítio, ferro e fosfato. Cada um desses cenários gera diferentes impactos geográficos e volumes variados de desmatamento.
Em relação à distribuição geográfica do desmatamento, nos dois primeiros cenários a Indonésia é o país mais afetado: responde por 42% e 63% do total de floresta perdida, respectivamente, seguida pelo Brasil, com 18% e 11%. No terceiro cenário, o Brasil torna-se o país mais prejudicado, com 36% do desmatamento, enquanto a Indonésia não sofre impacto significativo. Em todos os cenários analisados, a Europa representa menos de 1% do desmatamento global causado pela mineração para baterias de veículos elétricos.

Mais da metade (54%) dos minérios críticos para a transição energética está em territórios indígenas ou em suas proximidades. Quando consideradas também as comunidades de agricultura familiar, esse porcentual sobe para 70%.
Os pesquisadores sugerem que o uso de tecnologias alternativas de bateria, aliado a mudanças nos hábitos de mobilidade, pode cortar significativamente a demanda por minerais críticos na transição energética.
No relatório, a projeção de áreas desmatadas cai de cerca de 120 mil para pouco mais de 20 mil hectares em um cenário que combina baterias LFP mais modernas com maior adesão a caronas, veículos compartilhados, microcarros e uma redução no total de quilômetros percorridos por passageiros.
Reportagem publicada na da Revista mostra que os carros elétricos são muito mais caros do que os carros tradicionais. Hoje, o modelo mais barato da BYD chega a custar quase R$ 150 mil. Mesmo se a montadora trouxer para as estradas brasileiras um modelo mais econômico, dificilmente conseguirá baixar o preço para menos de R$ 100 mil.
Num país como o Brasil, onde a renda média é de cerca de R$ 1,5 mil, comprar um veículo desse valor é praticamente impossível para o cidadão comum. Não só pelo preço de compra, mas pelos custos adicionais, como IPVA, manutenção e seguro, que acabam se tornando mais caros, pois são proporcionais ao valor do veículo.
Esse é um problema comum a muitos outros países. Não por acaso, o CEO da Renault, Luca de Meo, chegou a declarar que “os carros elétricos são uma revolução para os ricos. São necessárias fontes críveis que expliquem suas vantagens e seus limites”.
“No Brasil, do ponto de vista econômico, não faz muito sentido comprar um carro elétrico hoje”, observa o executivo de uma grande montadora europeia, que preferiu não se identificar. “Se colocar os custos e os benefícios na ponta do lápis, é evidente que a conta não fecha. Essa é uma tendência para moradores de grandes cidades, com poder aquisitivo elevado e consciência ambiental. Ou que querem parecer descolados.”
A mesma realidade pode ser vista na Europa, onde o preço dos carros elétricos é elevado — e as vendas só ocorrem graças a generosos incentivos fiscais. Dessa forma, os governos europeus realizam políticas economicamente regressivas, favorecendo os mais ricos.
Fonte: revistaoeste