Não faltam opções para quem deseja evitar e prevenir gravidez – anticoncepcionais orais ou injetáveis, implantes, DIUs, e outros tantos – mas a imensa maioria fica sob responsabilidade única das mulheres.
Para as pessoas do sexo masculino que não desejem engravidar ninguém, sobra o uso de preservativo e a vasectomia, um procedimento cirúrgico que nem sempre é reversível.
Os estudos de anticoncepcionais masculinos geralmente esbarram nos efeitos colaterais das medicações hormonais – efeitos com que as mulheres já sofrem, diga-se de passagem. Por isso, novos estudos buscam formas não-hormonais de reduzir a fertilidade masculina.
Mais cedo neste mês, a empresa norte-americana YourChoice Therapeutics anunciou o sucesso da primeira fase dos testes clínicos de uma medicação sem hormônios capaz de impedir a produção de espermatozoides, chamada YCT-529.
Agora, uma empresa australiana, Contraline, anuncia um feito semelhante. A empresa desenvolve um anticoncepcional chamado ADAM, que não é uma pílula, mas um gel implantado nos dutos que transportam os espermatozoides.
É um princípio parecido com o da vasectomia, que, com um corte nos canais deferentes, impede o transporte das células reprodutivas até o esperma. No caso do ADAM, os canais não são cortados, mas obstruídos com um hidrogel biocompatível. O procedimento ocorre com anestesia local e leva menos de dez minutos.
Passadas as fases de testes in vitro e em animais, a empresa começou os testes clínicos em voluntários australianos em 2023. Agora, eles comemoram a marca de 24 meses de eficácia – os dois primeiros voluntários estão há dois anos em condição de azoospermia, ou seja: sem espermatozoides na ejaculação.
O estudo tem outros 23 voluntários que estão sob efeito do implante há menos tempo. Segundo a empresa, os únicos efeitos colaterais relatados foram semelhantes aos de uma vasectomia, como dor, inchaço e desconforto temporários no escroto. A diferença é que o ADAM é completamente reversível, já que o hidrogel foi projetado para se dissolver com o tempo.
“Continuamos otimistas quanto à segurança, eficácia e reversibilidade [da ADAM] e quanto ao seu potencial de proporcionar aos homens e casais maior controle reprodutivo”, disse Alexander Pastuszak, diretor médico da Contraline, em comunicado.
Os resultados do ensaio clínico do Adam ainda não foram publicados em um periódico revisado por pares e não incluem dados sobre a reversibilidade do implante. Segundo a empresa, os dados devem ser apresentados no encontro da Associação Americana de Urologia no dia 26 de abril deste ano.
Com a segurança do produto assegurada, a empresa recebeu aprovação das autoridades regulatórias australianas para iniciar estudos de fase 2, em que receberá mais voluntários e poderá testar diferentes dosagens e métodos. Se a fase 2 for bem, o estudo ainda precisará passar por mais uma fase de testes antes de solicitar a aprovação pelas autoridades regulatórias, como a Anvisa no Brasil e a FDA nos EUA.
Não é o primeiro primeiro contraceptivo masculino em desenvolvimento que age bloqueando os canais deferentes, mas nem todos são feitos de materiais que se decompõem no corpo.
Fonte: abril