Quando a Terra se formou, impactos de corpos celestes contra o nosso planeta eram muito mais comuns. Foi um destes, aliás, que formou a Lua, há cerca de 4,5 bilhões de anos. Como o Sistema Solar ainda estava em formação, havia muito mais detritos espaciais circulando em órbitas instáveis.
A Lua ainda carrega marcas muito visíveis desse período: sem uma atmosfera significativa, nem vento, chuva ou processos geológicos ativos, as crateras ficam muito mais preservadas. Por aqui, na Terra, a erosão, a atividade tectônica e o vulcanismo modificam e até apagam essas crateras ao longo do tempo, tornando difícil estudá-las.

Agora, em um estudo publicado na Nature Communications na última quinta (6), pesquisadores anunciaram a descoberta de uma cratera de impacto com 3,47 bilhões de anos no Cratón de Pilbara, na Austrália Ocidental. A datação faz dela a cratera de impacto mais antiga conhecida e ajuda a detalhar a história da Terra no começo de sua vida. Antes disso, o primeiro lugar ficava com a Cratera de Yarrabubba, que surgiu há 2,2 bilhões de anos e fica a 800 quilômetros ao sul da nova vencedora.
A cratera não é identificável pelo formato, como geralmente se imagina uma cratera. Ela foi descoberta graças aos “cones de estilhaçamento”, formações rochosas raras que só se formam sob a pressão intensa de um impacto de meteorito (ou nos casos ainda mais raros de explosões nucleares subterrâneas).
“Os cones de estilhaçamento são estruturas ramificadas bonitas e delicadas, não muito diferentes de uma peteca de badminton”, escreveram três dos autores do artigo em um texto no site The Conversation.

“Até agora, a ausência de crateras realmente antigas significa que elas são amplamente ignoradas pelos geólogos”, disse o professor Tim Johnson, co-líder do estudo, em comunicado. “Este estudo fornece uma peça crucial do quebra-cabeça da história de impacto da Terra e sugere que pode haver muitas outras crateras antigas que podem ser descobertas com o tempo.”
Os autores estimam que a região tenha sido atingida por um meteorito a 36 mil km/h, um impacto que deixou uma cratera de mais de 100 quilômetros de diâmetro e espalhou detritos por todo o globo. Para eles, a descoberta é um forte indício de uma teoria de décadas sobre como os primeiros continentes se formaram.
Para os autores do estudo, impactos como esse teriam sido responsáveis por derreter as rochas e produzir agregados de material vulcânico que se transformaram depois em trechos mais gordinhos da crosta terrestre, com raízes profundas no magma lá embaixo. Isso explicaria a formação dos crátions, que são massas rochosas grandes e estáveis que se tornaram a base dos continentes.
“Descobrir esse impacto e encontrar outros do mesmo período pode explicar muito sobre como a vida pode ter começado, já que as crateras de impacto criaram ambientes favoráveis à vida microbiana, como piscinas de água quente”, disse o coautor do estudo, Chris Kirkland, no mesmo comunicado.
Fonte: abril