Com o fim da primeira fase do cessar-fogo entre Israel e Hamas, no sábado 1, um vácuo nas negociações começa a prevalecer. Para o articulista Seth J. Frantzman, do The Jerusalem Post, o Hamas está fortalecido em sua imagem de resistência e tem trabalhado sua propaganda da maneira que quer. Isso, no entanto, é uma tese inconsistente.
A maior prova de que o Hamas está enfraquecido e cada vez mais isolado foi o fato de aceitar entregar os corpos de quatro reféns sem aquela cerimônia perversa que o grupo terrorista vinha utilizando. Quem está com força nas negociações não aceita algo que vai contra sua agenda. Herb Keinon, também do Post, representa uma corrente oposta à de Frantzman e que conta com boa parte da opinião pública israelense.
Mesmo com a aparente indiferença do mundo em relação à morte de Shiri Bibas e de seus filhos, Ariel e Kfir, o fato é que os assassinatos destes inocentes pesaram muito contra o grupo terrorista.
Uma imagem similar à do Estado Islâmico tem sido associada ao Hamas por boa parte da opinião pública. E ninguém, em nenhuma ocasião, partiu em defesa do Estado Islâmico.
Nem Estados Unidos (EUA), nem Rússia, nem Turquia, imersos na guerra da Síria com interesses diferentes mas, quando o assunto era Estado Islâmico o objetivo era comum: eliminar o grupo terrorista.
O momento, ainda, tende a distanciar ainda mais a Rússia de seus interesses diretos no Oriente Médio, por causa da aproximação com os EUA movida pela Guerra da Ucrânia.
“Vislumbra-se que uma aliança EUA-Rússia reconfiguraria as dinâmicas no Oriente Médio”, afirma a Daphne Klajman, coordenadora acadêmcia do grupo Hilel, no Rio de Janeiro. “O foco russo se deslocaria, diminuindo a competição com os EUA e, consequentemente, o Hamas perderia o limitado, porém importante, apoio político russo, intensificando seu isolamento e, potencialmente, abrindo caminho para ações coordenadas entre EUA e Israel.”
Para ela, há uma ressalva: apesar dessas transformações, o impacto direto no Hamas seria relativamente modesto, já que seu sustentáculo financeiro (Catar) e militar e ideológico (Irã) permaneceria inalterado. A aliança EUA-Rússia, nesse contexto, representaria uma mudança mais ampla na geopolítica regional do que um golpe direto ao grupo palestino.
O pensamento de Keinon, porém, vai além. O Catar já está se aproximando dos EUA. A Base Aérea de Al Udeid está localizada em Doha e é a maior instalação militar dos EUA no Oriente Médio.
Em seu primeiro mandato, Trump conseguiu manter a diplomacia com o Catar, acusado de financiar o terrorismo, sem se distanciar da Arábia Saudita, em meio a uma crise entre os dois países.
Em 2024, com Biden na presidência, o Catar se tornou o primeiro país árabe isento de visto para os EUA. Tal proximidade será determinante para um isolamento cada vez maior do Hamas.
A primeira fase do cessar-fogo terminou no sábado, conta Keinon. Nesta fase, houve a liberação de 25 reféns israelenses, cinco tailandeses e oito corpos. libertou em troca centenas de prisioneiros palestinos, entre eles terroristas envolvidos em graves crimes.
Também se retirou da maior parte de Gaza, exceto do Corredor de Filadélfia, construído pelas Forças de Defesa de Israel (FDI), o perímetro da região e algumas áreas no norte da Faixa.
A ajuda humanitária foi intensa, com a entrada em Gaza de cerca de 25 mil caminhões. Israel se retirou do corredor de Netzarim, permitindo que centenas de milhares de gazenses retornassem ao norte. Manteve-se, no entanto, no corredor Filadelfia, estratégico.
Quadro Witkoff para o Hamas
As partes já deviam ter entrado na segunda etapa, com a retirada de Israel do Filadélfia até sábado. Mas não, foi introduzido, no lugar, o Quadro Witkoff, nomeado em alusão ao negociador norte-americano Steve Witkoff.
Neste plano, a proposta é um cessar-fogo temporário durante o Ramadã e o Pessach (Ramadã começou na noite de sexta-feira, e o Pessach vai até 20 de abril). No primeiro dia, metade dos reféns vivos e mortos seriam libertados.
Enquanto isso, as negociações continuarão. No final do prazo, se um acordo for alcançado, os reféns restantes seriam liberados ao mesmo tempo.
Enquanto esta proposta for rejeitada, pelos terroristas, a ajuda humanitária de fica paralisada. Ao contrário de Joe Biden, Donald Trump não faz qualquer tipo de objeção a Israel. Tampouco ameaça deixar de enviar armamentos.
Israel se propõe até a reiniciar a guerra. A propaganda do Hamas, neste momento, não é suficiente, segundo o jornalista. O grupo terrorista está isolado. O Irã e o Hezbollah estão enfraquecidos. Deixarão o grupo à deriva da mesma maneira que fizeram com o governo de Bashar al-Assad na Síria.
Com Trump no poder, além da Rússia, o já citado Catar e a Turquia não querem, por interesses comerciais, antagonizar os EUA. Haverá, segundo a visão de Keinon, um momento no qual o Hamas ficará sem saída. Libertar os reféns, para o grupo terrorista, será a solução menos pior.
Fonte: revistaoeste