Um dos países com mais legados arqueológicos das civilizações pré-colombianas na América do Sul, o Peru está entre os destinos mais visitados por quem busca se conectar com a história do continente antes da chegada dos europeus. E, na hora de escolher os passeios para isso, um roteiro clássico costuma aparecer sempre: Cusco e as ruínas de Machu Picchu.
O foco na cidadela inca mais famosa acaba reduzindo a atenção sobre outras opções também repletas de importância, belezas naturais e mistérios envolvendo as populações que habitavam essa parte do mundo séculos atrás. Para quem quer ir além das ruínas mais conhecidas nas montanhas cusqueñas (Machu Picchu, sozinha, recebe cerca de 1,5 milhão de visitantes por ano), vale olhar com carinho para outras alternativas que ajudam a contar a história do Peru, dos incas e até de quem veio antes deles.
1. Linhas de Nazca
Depois da própria Machu Picchu, as linhas traçadas no deserto de Nazca, no sul peruano, são provavelmente o legado mais famoso de antigas civilizações. Novos geoglifos, decifráveis apenas do céu, seguem sendo identificados com ajuda de expedições aéreas e drones. Hoje, já são mais de 700 “desenhos” catalogados na região, feitos entre os anos 400 a.C. e 500 d.C. O significado ainda é alvo de debates, embora a maioria dos estudiosos defenda que havia uma função religiosa para os geoglifos.
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A região desértica fica a cerca de 400 km de Lima, tornando esse mais um tour que exige uma viagem pelo interior do país. É possível pegar um ônibus por conta própria até cidades próximas, como Nazca ou Paracas, e então embarcar nos pequenos aviões que sobrevoam o sítio arqueológico – também há empresas que oferecem tours completos saindo e voltando de Lima até as localidades de onde partem as aeronaves.
2. Puno e Lago Titicaca
Apesar de estar muito identificado com a vizinha Bolívia, o Lago Titicaca também é parte do imaginário peruano. O lugar imperdível para vivenciar essa experiência no país é a cidade de Puno, conhecida como a “capital folclórica” do Peru.
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Para quem foi até Cusco em busca de Machu Picchu, é mais fácil chegar a Puno – existe, inclusive, uma luxuosa viagem de trem montanha acima que permite apreciar as paisagens de mais de 4,3 mil metros de altitude até chegar às lendárias margens do Titicaca.
3. Huaca Pucllana, legado pré-colombiano sem sair de Lima
Se a sua viagem está mais curta de tempo, também é possível encontrar um importante sítio arqueológico sem sequer deixar a capital. Huaca Pucllana fica em Miraflores, um bairro nobre de Lima, e é um local sagrado do período pré-incaico – as primeiras estruturas datam de 400 d.C., o que significa que as ruínas são mil anos mais antigas do que Machu Picchu.
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Além do próprio sítio arqueológico, o local também conta com um museu para conservação dos artefatos recolhidos nas escavações.
4. Arequipa e o Cânion do Colca
Que a distância não engane: apesar de estar localizada a cerca de mil quilômetros de Lima, Arequipa é considerada atualmente a segunda cidade mais populosa do Peru, com mais de 1 milhão de habitantes em sua área urbana. Além das opções dentro da própria cidade, que inclui o Monastério de Santa Catalina – convertido em um museu dedicado à arte e ao período colonial – e o Museu dos Santuários Andinos – conhecido por conservar múmias de sacrifícios humanos da época dos incas –, a “Cidade Branca” é rodeada por algumas das paisagens naturais mais impressionantes do país.
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Uma visita indispensável para quem passa por Arequipa é conhecer o Vale do Colca, que inclui o famoso cânion homônimo, famoso por sua profundidade: com mais de 4 mil metros de declive, o local é cerca de duas vezes e meia mais profundo que o Grand Canyon. Várias empresas turísticas locais oferecem o deslocamento até a região do Colca, que fica a 160 km de Arequipa – apesar da distância relativamente curta, é preciso estar preparado para gastar de 3 a 4 horas em cada trecho da estrada sinuosa que leva até a área dos desfiladeiros.
5. Salinas de Maras
No coração do Vale Sagrado dos Incas, as salinas de montanha são locais históricos de extração de sal da montanha a 3,2 mil metros de altitude. Achados arqueológicos indicam que a atividade já era exercida na região muito antes dos próprios incas aparecerem, com cerâmicas datadas de 700 a.C. É uma chance de testemunhar a história viva: o controle da área permanece nas mãos dos descendentes dos povos originários, que continuam a obter sal pela evaporação da água nas salineras, em uma atividade familiar – na visita, dá até para comprar um saquinho com o sal extraído por eles.
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Abertos para visitação, os mais de 3 mil poços ficam localizados a cerca de 45 km de Cusco (ou a 10 km da cidade de Maras), e são uma opção para conhecer outro lado da região em uma viagem que já pensa em incluir Machu Picchu no roteiro. Para usar bem a jornada, a dica é adquirir um tour saindo de Cusco que passa no mesmo dia pelas salinas e pelo sítio arqueológico de Moray, este um legado dos terraços agrícolas circulares utilizados pelos incas pouco antes da chegada dos espanhóis.
6. Choquequirao, a “outra” Machu Picchu
Para os mais aventureiros, a chamada “irmã mais nova” de Machu Picchu tem se tornado uma alternativa procurada nos últimos anos. Com cerca de 40% da estrutura ainda enterrada, o sítio arqueológico de Choquequirao só começou a ser escavado por pesquisadores em 1993 – atualmente, acredita-se que o local foi construído por volta de 1450, pode ter contado com uma população de cerca de 2 mil pessoas e talvez tenha servido como um entreposto entre Machu Picchu e regiões da Amazônia.
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Choquequirao é uma opção para quem quer fugir da concorrência dos lugares já descobertos há mais tempo pelos turistas, mas é preciso estar preparado para passar perrengue: sem infraestrutura estabelecida e em localização remota, só dá para chegar lá fazendo trekking e acampando pelo caminho. A dica é contratar um tour já em Cusco, que inclui guia, alimentos, sacos de dormir e barracas – em geral, a primeira parte do trajeto até os vilarejos mais próximos é feita de ônibus, e a partir dali começa a subida até a antiga cidadela inca.
Entre a ida e a volta a pé, é preciso reservar ao menos dois dias, mas também há tours bem mais extensos, que oferecem a possibilidade de fazer todo o trajeto entre Machu Picchu e Choquequirao em cinco dias.
Fonte: viagemeturismo