Mato Grosso colheu até o dia 14 de fevereiro 50,08% da área semeada com soja na safra 2024/25. O atraso ocasionado pelos volumes de chuvas acima da média, excesso de umidade no campo e a carência de armazéns causam transtornos e lentidão no desempenho das colheitadeiras, colocando em risco a produtividade do grão no médio-norte do estado.
Em 2024, nessa mesma época, o estado contava com pouco mais de 65% da soja colhida, conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). As condições adversas na atual temporada têm levado os produtores a enfrentarem uma rotina diferente da planejada e buscarem tentar dar agilidade na colheita, uma vez que em algumas áreas já há soja passando do “ponto” de colheita.
Na propriedade do agricultor Célio Riffel a super oferta de chuvas é apontada como a principal responsável pela lentidão das máquinas. Segundo ele, desde a primeira chuva no começo de outubro já foram mais de 1,4 mil milímetros de água acumulados.
Com soja brotando no pé e com 50% da cultura para colher, o agricultor frisa ao projeto Soja Brasil, que já “se nota que a produtividade por hectare cai quando se colhe uma soja muito úmida”.
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“A gente tem que rezar para dar sol, porque senão o problema vai aumentar. Agora toda a atenção é para tirar essa soja da lavoura e também plantar a segunda safra que é o milho. É uma indústria a céu aberto. Não temos como interferir no clima. Você tem só que rezar para dar tudo certo e pedir a Deus que aconteça da melhor maneira possível”.
Para o presidente do Sindicato Rural de Sinop, Ilson José Redivo, é preciso terminar a colheita para se ter a real produtividade da soja 2024/25. Ao Dia de Ajudar, ele pontua que o produtor está realizando a colheita e que “nos últimos dias o tempo tem contribuído”.
“Mas, com toda certeza, a gente pode constatar que são melhores do que o ano passado, dadas as condições climáticas que se mostraram mais favoráveis”.
Concentração de colheita da soja preocupa
Nesta safra 2024/25 Feliz Natal e Vera cultivaram pouco mais de 330 mil hectares de soja, relata o Sindicato Rural que atende aos dois municípios. A colheita por lá está mais atrasada e a apreensão dos agricultores cresce a cada dia por dois fatores: o risco de perdas por uma possível concentração de soja pronta no campo e, também, pela baixa oferta de infraestrutura de armazenagem na região.
“Embucha todos os armazéns, basicamente. Nós temos uma capacidade de recepção de grãos muito reduzida aqui nos municípios de Vera e Feliz Natal. Três empresas grandes quebraram e fecharam as portas. Então, praticamente não temos opção de entrega de produtos. Quem não tem seu armazém próprio, está na fila enfrentando até três dias de fila com soja em cima dos caminhões”, diz Rafael Bilibio, presidente do Sindicato Rural dos dois municípios.
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Segundo ele, com a concentração registrada do plantio, os materiais utilizados possuem todos o mesmo ciclo e com isso ficaram prontos para colher ao mesmo tempo.
“Tudo secou junto e secou em uma semana que estava chovendo bastante, praticamente todo dia, e colheu úmido. Ficou úmido em cima do caminhão a soja com avaria. Tem perdas na qualidade do grão e, principalmente, perda operacional, porque muitas vezes a gente vê nas lavouras hora de sol bom para a colheita, mas o produtor está com as máquinas paradas porque não tem caminhão, não tem onde colocar o grão”.
Transporte ainda é obstáculo para a soja
A adoção de uma força-tarefa com várias colheitadeiras para aproveitar ao máximo as janelas de sol foi a solução encontrada pelo agricultor André Taffarel. Nesta safra ele cultivou 2,3 mil hectares de soja. No entanto, de acordo com ele, a dificuldade no transporte está sendo um obstáculo importante para o escoamento da produção, o que pode impactar na eficiência e sucesso da safra.
“Falta caminhão e não tem para quem procura. Pode ir atrás que não acha. Está tudo parado ou está em fila. Está difícil. E a colheita parada. Tudo pronto, soja pronta para ser colhida. É hora de aproveitar e não dá. Então fica arriscado. Pega uma chuva, dois, três quatro dias e começa a complicar. As máquinas param, colhe um pouco, para de novo. Em um ano em que os custos estão bem elevados não dá para perder soja no campo. Não dá! Tem que dar um jeito de colher. Metade do que tem para colher já está pronto”, pontua ele à reportagem do Dia de Ajudar.
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Quem está transportando a produção até tenta dar agilidade no escoamento, entretanto também esbarra na falta de armazéns disponíveis na região para atender a demanda aquecida.
O caminhoneiro Cleiton de Oliveira Souza comenta que o tempo entre chegar e descarregar depende muito do movimento e a classificação demora, visto a soja estar molhada. Ele conta ainda que “enquanto não secar, não tem como descarregar outro [caminhão]” e que ao conseguir já tem máquina cheia com soja para encher o veículo novamente esperando na lavoura.
“Tem muito produto para escoar e por causa das chuvas está difícil. Tem muita fila no armazém. No caso do armazém, ele não suporta a quantidade de caminhão que vem. É muito caminhão de uma vez só”, salienta o caminhoneiro Márcio Rogério Bi.
Conforme Márcio Rogério, a região precisa de mais armazéns para atender a demanda da produção na região que a cada dia cresce. Ele frisa que não há falta de esforço do setor do transporte para atender as necessidades do campo. “A gente descarregou e está voltando para a roça. Até umas horas da noite. O produtor está colhendo, a gente continua buscando produto”, completa.
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Silos-bolsas tentam minimizar impactos
O uso de silos-bolsas foi a alternativa encontrada pelo agricultor Maicon Rech para tentar minimizar o impacto das dificuldades logísticas, dar mais fluxo na colheita e ainda avançar no cultivo do milho segunda safra.
Segundo o agricultor, se não fosse tal esforço, as perdas na soja seriam maiores “com essa dificuldade de estrada e de armazém”.
“Se a gente não puder otimizar esses horários, começa a apodrecer a soja. E, com toda essa despesa alta não podemos perder nada da produção e até para fechar o plantio do milho vamos sair um pouco da janela. Eu queria ver se fechava até o dia 15 o plantio do milho, mas vai atrasar uns 10 dias tranquilamente por causa da chuva”.
O vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja Mato Grosso), Luiz Pedro Bier, pontua que o estado está “com boas produtividades”, mas que preocupa os produtores e a entidade são as semanas com muitas chuvas.
“As máquinas não conseguem entrar em campo. Muita soja passando do ponto de colher, soja avariando e a logística péssima, porque as chuvas estragaram a maioria das estradas de terras que dão acesso às fazendas. No final da safra a gente pode ter números não tão bons como poderíamos ter se não fosse o caos logístico, o caos de armazenagem e as chuvas que realmente estão atrapalhando a colheita”.
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Fonte: canalrural