Até 1960, o quarto maior lago do mundo era tão grande que foi chamado de Mar de Aral. Ele se estendia do norte do Cazaquistão ao sul do Uzbequistão. Mas tudo começou a mudar naquela década
O lago, que até então cobria 68 mil km quadrados, foi se enxugando. Em 2015, 3 milhões de pessoas foram afetadas pela seca no local. Agora, em 2025, um relatório sugere que apenas 8 mil km quadrados de água ainda existem no lago. O resto do espaço, do um dia fez parte de um dos maiores corpos de água do mundo, é o deserto Aralkum.
Alguns pesquisadores já vêm pesquisando as consequências da redução da água. Estudos descobriram que a arenização do espaço quase duplicou a poeira atmosférica da região entre os anos de 1984 e 2015. De 14 milhões de toneladas métricas de pó, o número chegou aos 27 milhões.
“É certamente um dos maiores desastres ambientais do mundo”, disse Ibrahim Thiaw, Secretário Executivo da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, no ano passado.
O lago é uma bacia endorreica – ou seja, não tem saída até o mar. Dois rios fluíam das montanhas até o Mar de Aral, chamados Amu Darya e Syr Darya, que forneciam respectivamente 38,6 milhões e 14,5 milhões de km cubicos de água anualmente ao lago. Eles foram redirecionados para irrigar cerca de 7 milhões de hectares de plantações de algodão da União Soviética.
A irrigação em grande escala funcionou entre 1960 e 1990. Isso reduziu rapidamente o volume de água do lago, que eventualmente se dividiu em dois e conectou suas centenas de ilhas às margens ao redor.
A concentração de salinidade na água restante superou o nível do oceano, destruindo a maior parte da vida nativa e colapsando o ecossistema local. Hoje, mais da metade das 300 espécies de plantas, 319 espécies de pássaros e 70 espécies de animais que um dia existiram no Mar acabaram migrando ou foram extintas. Isso destruiu os meios de subsistência dos moradores locais, como a pesca.
Além disso, a exposição do antigo leito do lago diminuiu a qualidade do ar das cidades que estão a até 800 km de distância do Mar, e contribuiu para a aceleração do derretimento glacial da Montanha Pamir. Plantações por perto também sofreram, pois as chuvas espalharam o sal presente no solo do lugar.
A areia do deserto Aralkum também é tóxica: ela resulta da união entre o escoamento de testes de armas químicas da URSS e agrotóxicos das práticas agrícolas que secaram o Mar de Aral.
Todos os anos, mais de $100 milhões de dólares são perdidos devido ao novo deserto. Por isso, os planos de reflorestamento da área se intensificaram na última década. Em 2017, o governo do Uzbequistão criou um projeto de “cinturão verde”, que cobriria 70 quilômetros do leito seco do lago com vegetação para conter a dispersão de sal e poeira. De acordo com o relatório, o governo pretende reflorestar toda a porção dessecada do Mar de Aral em uma década.
Fonte: abril