Sophia @princesinhamt
Política

‘Quem são os privilegiados no Brasil? Entenda a disparidade de oportunidades’

2025 word2
Grupo do Whatsapp Cuiabá

A Secretaria de Comunicação do governo julgou uma ideia genial usar bonés com o lema “O Brasil é dos brasileiros” como uma espécie de contraponto aos bonés da militância trumpista nos EUA pregando o famoso mantra “Make America Great Again”. O texto escolhido pelo governo brasileiro emula mais diretamente, a rigor, outro lema de Trump, o famoso “America First”. Em resumo: para os americanos que seguem a linha de Donald Trump, os EUA devem figurar em primeiro lugar na lista de prioridades afetivas e estratégicas. Para os brasileiros, o mesmo princípio em relação ao Brasil.

Nada teria a censurar em que as autoridades brasileiras considerassem em primeira linha o bem de nossa pátria e de seus habitantes, se isso fosse verdade. Sua responsabilidade maior como governantes é mesmo para com os brasileiros, e o apreço pelos mais próximos e pelos que andam sobre o nosso próprio torrão natal é o caminho mais seguro sobre o qual se pode alicerçar a fraternidade entre todos.

O problema é que, infelizmente, os “brasileiros” a quem o Brasil pertence, na concepção de Lula e seus sequazes, constituem um grupo um tanto restrito demais. O mal do patrimonialismo, que o PT não inventou de modo algum na cultura política brasileira, mas de que se serviu profusamente, consiste na exata confusão entre o público e o privado. No figurino patrimonialista, o governante e o burocrata encastelado na estrutura estatal confundem o Estado e suas manifestações com “coisas suas”, propriedades privadas que lhes cabem por direito. O Estado e os rumos da comunidade política não são instrumentos pelos quais se expressa a vontade dos cidadãos eleitores, mas simples extensões das vontades e determinações desse pequeno grupelho. O Brasil, na verdade, seria apenas de alguns brasileiros, não de todos os compatriotas conscientes.

Para boa parte de nossa elite, os brasileiros a quem o Brasil pertence são ainda mais verdadeiramente apenas “alguns”, circunscrevendo-se aos membros do “consórcio” autoritário que ora dá as cartas. O “Brasil” — esse Brasil que decide, que pavimenta os caminhos, que determina oficialmente para onde rumamos — é dos togados, é de Alexandre de Moraes, é de Gilmar Mendes, é de Toffoli; é dos veículos de imprensa que se alimentam das vantagens de que podem desfrutar enquanto exercitarem o “puxa-saquismo” profissional ao governo; é de certos caciques do “centrão”, presenteado com votos do governo e da oposição para comandar as casas legislativas.

Ele pertence aos que decretam o que se pode ou não falar, pertence aos que fazem malabares com emendas e orçamentos. Pertence aos que decidem quais entre os brasileiros são mais iguais que os outros, afinal, determinam quando os princípios constitucionais serão ou não aplicados. Basta que se remeta à decisão do STJ do último dia 4 de fevereiro dando conta de que só existe racismo contra negros — afinal, racismo é racismo, a discriminação com base em diferenças biológicas que supostamente, sem alicerce factual algum, ensejariam superioridade ou inferioridade. Não existe uma etnia específica à qual a regra deveria ser aplicada com exclusão das demais. Os donos do Brasil, porém, atendendo a preferências ideológicas, dizem que há; então, está decidido. Não sucumbamos a ilusões. O Brasil deveria ser dos brasileiros. Infelizmente, sobretudo devido à erosão, não direi de um Estado de Direito solidificado, mas de nossas pretensões por algo que minimamente se aproximasse desse ideal, bem como à estrutura disfuncional de nossas organizações políticas (mesmo que elas operassem exatamente como foram projetadas para operar), a maioria dos cidadãos se vê constrangida a assistir a um espetáculo que se desenrola em picadeiro putrefato. Antes que o Brasil como um todo, tamanha a voracidade fiscal do atual governo, já parece pedir muito que a riqueza produzida pelos brasileiros a eles pertença.

Fonte: revistaoeste

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.