Misture Ratatouille com Wall-E e temos a receita para o futuro da Terra. Ao menos esse é o cenário que dá para imaginar graças a um novo estudo, que relacionou o aumento da população de roedores em cidades ao aquecimento global.
A pesquisa, publicada na Science Advances, analisou dados de 16 cidades ao redor do mundo. Dentre elas, Amsterdã, Nova York, São Francisco, Toronto e Washington. Elas ocupam os cinco primeiros lugares no ranking de maior crescimento da população de ratinhos urbanos.
Os dados recolhidos mostram que foi possível observar aumentos de 390% em ratos Em Washington, 300% em São Francisco e 186% em Toronto, por exemplo. As 11 cidades, por sua vez, também mostraram “tendências de aumento significativo no número de ratos”, ainda que menores.
Outras cidades famosas por encontros entre pessoas e ratazanas, como Paris (cidade natal do rato Remy) e Londres, não foram incluídas, pois não possuíam os dados necessários para a comparação. Mesmo assim, os autores acreditam que os resultados encontrados possam ser espelhados para as realidades de centros urbanos ao redor do mundo.
O estudo se baseou em ligações de cidadãos feitas para o 311 (número que dá acesso a serviços municipais não emergenciais) por pelo menos sete anos (alguns lugares tinham chamadas que datavam de até 17 anos), em que reclamavam de algum tipo de contato com os animais. O aumento de ligações foi usado como estimativa para a ampliação da população de ratos.
“O que descobrimos é que, sim, o número de ratos está aumentando em cidades do mundo todo”, diz Richardson. “E as cidades que estão aquecendo mais rapidamente têm aumentos maiores no número de ratos ao longo do tempo”, disse o autor da pesquisa Jonathan Richardson, da Universidade de Richmond na Virgínia (EUA), para a National Geographic.
O novo estudo não crava o porquê das mudanças climáticas estarem relacionadas com o aumento de ratos. O autor, porém, formula algumas hipóteses. Se essas cidades forem mais quentes no início e no final do inverno (a estação gelada funciona muitas vezes como controle de peste natural), isso pode garantir com que os roedores se alimentem por mais tempo – e uma dieta mais longa pode levar a mais reprodução.
“Descobrimos que essas cidades que apresentam tendências crescentes de aquecimento nos últimos 50 anos também apresentam um número mais rápido de ratos”, disse Richardson à CBS News.
Além disso, “cidades com populações humanas mais densas e com maior urbanização também registraram maiores aumentos de ratos”, escreveram os autores no estudo. Os pesquisadores tentaram relacionar se cidades mais geladas e ricas tinham alguma relação com o declínio da população de ratos, mas não tiveram dados relevantes.
Para o jornal britânico The Guardian, Richardson disse que “o resultado mais sombrio do estudo” foi descobrir que essas correlações existiam. “Não gosto de ratos”, disse ele, “mas há algo de fascinante num organismo que foi capaz de se espalhar pelo mundo e viver tão próximo de nós com tanto sucesso”.
Alguns estudos mostram que são gastos bilhões de dólares reparando estragos feitos por ratos infiltrados em prédios a cada ano. Esses animais também podem afetar o funcionamento de ecossistemas, sendo espécies invasivas em alguns biomas. Sem falar que podem transmitir pelo menos 60 doenças para humanos.
Por isso, os autores concluem que “as cidades terão de integrar os impactos biológicos destas variáveis [o aumento de roedores] nas futuras estratégias de gestão”.
Fonte: abril