📝RESUMO DA MATÉRIA
- Intervenções de relaxamento durante a gravidez, como musicoterapia e relaxamento muscular progressivo, reduzem bastante o estresse materno, a ansiedade e os sintomas depressivos, melhorando o peso dos recém-nascidos.
- A musicoterapia é eficaz para reduzir o estresse e a ansiedade, pois estimula emoções e imagens mentais, enquanto o relaxamento muscular progressivo melhora a circulação e a oxigenação, garantindo melhores desfechos no parto.
- Essas terapias de relaxamento otimizam as respostas fisiológicas maternas, como pressão arterial e frequência cardíaca, embora apresentem resultados mistos em fatores como idade gestacional e índice de Apgar.
- A conexão entre corpo e mente é crucial para a eficácia dessas intervenções, pois reduz a tensão muscular e otimiza as respostas fisiológicas, melhorando a saúde mental e os resultados gerais da gravidez.
- Estudos de alta qualidade são necessários para aprofundar os benefícios das intervenções de relaxamento na gravidez, já que os dados atuais sugerem efeitos promissores, mas inconsistentes em diversos resultados do parto.
🩺Por Dr. Mercola
Estresse e ansiedade durante a gravidez são muito comuns e afetam uma parcela significativa das mulheres grávidas na atualidade. Futuras mamães costumam enfrentar sentimentos persistentes de preocupação, tensão e medo, além de sintomas como pressão alta e padrões de sono alterados.
Estudos recentes mostram um cenário preocupante: no mundo todo, 15% a 25% das gestantes relatam níveis elevados de estresse e sintomas depressivos. O estresse não tratado tem consequências que vão além da saúde imediata, causando problemas de desenvolvimento no bebê a longo prazo e aumentando o risco de complicações pós-parto na mãe, segundo o Journal of Perinatal and Neonatal Nursing.
Isso enfatiza a necessidade urgente de intervenções eficazes para identificar e tratar o estresse no início da gravidez, melhorando assim os resultados obstétricos e de desenvolvimento para a mãe e o bebê.
Estresse durante a gravidez: causas, resultados e opções de tratamento convencionais
As causas do estresse na gravidez são diversas e multifacetadas. Estressores físicos, como doenças e desconfortos, estão envolvidos, assim como mudanças no estilo de vida e falta de apoio social. A gravidez não planejada e a baixa renda financeira agravam os níveis de estresse.
Além disso, alterações hormonais e fisiológicas, a expectativa para o trabalho de parto e a violência do parceiro durante e após a gravidez são fatores que intensificam o estresse. Esses fatores sobrecarregam as habilidades de enfrentamento e resiliência de uma pessoa, levando a níveis elevados de estresse.
Quando essas causas subjacentes estão presentes, elas desencadeiam uma série de respostas fisiológicas. O corpo humano armazena o estresse psicológico não tratado no sistema musculoesquelético, o que leva a contrações musculares prolongadas. Essa tensão interfere nas funções fisiológicas normais, como a regulação da pressão arterial e da frequência cardíaca.
O estresse ativa o eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HPA) e o sistema imunológico, aumentando os níveis de glicocorticoides e marcadores pró-inflamatórios. Essas alterações biológicas prejudicam as funções do sistema nervoso, resultando em problemas de saúde mental.
O estresse durante a gravidez é diagnosticado por meio de relatos autorreferidos e indicadores fisiológicos. No entanto, pode ser desafiador realizar um diagnóstico preciso, pois os relatos autorreferidos nem sempre refletem a gravidade do estresse, já que algumas pessoas relatam seus sintomas de forma incompleta devido ao estigma ou falta de conhecimento.
Por outro lado, os sintomas físicos, embora mais objetivos, podem ser influenciados por outros fatores não relacionados ao estresse, como condições médicas preexistentes ou medicamentos. Essa complexidade leva a diagnósticos equivocados ou insuficientes, deixando algumas mulheres sem o apoio e as intervenções necessárias.
Métodos convencionais para controlar o estresse na gravidez incluem aconselhamento e tratamentos farmacológicos. Entretanto, essas abordagens têm suas limitações. O aconselhamento demanda tempo e não está disponível para todos, enquanto os tratamentos farmacológicos podem trazer riscos à mãe e ao feto em desenvolvimento.
A subjetividade do estresse e de seus sintomas também dificulta o diagnóstico. Por isso, intervenções não farmacológicas, como terapias de relaxamento, estão sendo cada vez mais preferidas por apresentarem baixo risco e ampla escalabilidade.
Técnicas de relaxamento melhoram significativamente os resultados da gravidez
Um estudo recente publicado na revista PLoS One analisou o impacto de diferentes intervenções de relaxamento na saúde mental de gestantes e nos resultados do parto. Esta meta-análise abrangente incluiu 32 estudos com um total de 3.979 participantes, todas mulheres grávidas saudáveis com idades entre 18 e 40 anos.
Os pesquisadores buscaram determinar se práticas como ioga, musicoterapia e exercícios de respiração profunda poderiam reduzir o estresse e melhorar a saúde da mãe e do feto.
O estudo focou em uma população diversificada de gestantes de diferentes países e contextos socioeconômicos, garantindo que os resultados tivessem aplicabilidade alta. Os resultados mostraram que intervenções de relaxamento reduziram bastante o estresse, a ansiedade e os sintomas depressivos nas gestantes.
Além disso, foi observada uma melhora considerável no peso ao nascer, sugerindo que essas práticas beneficiam tanto o estado mental da mãe quanto a saúde do bebê.
Aprofundando-se nas descobertas, a pesquisa revelou que a terapia de relaxamento reduziu o estresse materno em uma média de 4,1 pontos e a ansiedade em 5,04 pontos. Os sintomas depressivos também diminuíram em 2,3 pontos.
Essas reduções representam melhorias substanciais no bem-estar mental das gestantes, sendo essenciais tanto para a saúde delas quanto para a de seus bebês. Ademais, o estudo constatou que o peso ao nascer aumentou em média 80 gramas, destacando um resultado positivo para os recém-nascidos.
Os autores apontam que o mecanismo por trás desses efeitos está na conexão corpo-mente. O corpo, a mente, o cérebro e o comportamento possuem uma forte conexão e influenciam um ao outro. Os pesquisadores explicam:
“O estresse psicológico leva à contração prolongada dos tecidos musculares, tornando-os tensos, com aumento da vasoconstrição, pressão arterial, frequência cardíaca e redução da circulação sanguínea até que o estresse seja tratado. Métodos de relaxamento físico, como respiração e relaxamento muscular, ajudam a contrair e relaxar os músculos para eliminar o estresse recém-induzido e o estresse patológico preexistente do corpo.
Outro mecanismo é que relaxamentos psicológicos, como meditação e musicoterapia, acalmam a mente, induzem emoções e imagens mentais e combatem sentimentos e pensamentos desagradáveis, melhorando o bem-estar mental”.
Até mesmo sessões curtas de terapia de relaxamento apresentam resultados positivos
O estudo em destaque também apontou melhorias específicas em vários indicadores físicos, fisiológicos e psicológicos. Técnicas de relaxamento ajudaram a otimizar a pressão arterial, a frequência cardíaca e a taxa respiratória entre os participantes.
Esses benefícios fisiológicos são essenciais, pois contribuem para a saúde geral da mãe e do bebê durante a gravidez. Além disso, a duração do trabalho de parto foi reduzida, tornando o processo de nascimento mais tranquilo e menos estressante para a mãe.
“As respostas físicas ao relaxamento incluem relaxamento musculoesquelético imediato e diminuição da tensão muscular; as respostas psicológicas envolvem mente calma, silêncio e paz; e as respostas fisiológicas ao relaxamento incluem melhora da pressão arterial, frequência cardíaca, respiratória e metabólica, além da redução dos hormônios do estresse e aumento da circulação sanguínea.
Por meio de um ou da combinação desses mecanismos, intervenções de relaxamento podem melhorar a saúde e o bem-estar das gestantes, o que, por sua vez, pode favorecer o crescimento fetal e o desenvolvimento da prole”, disseram os autores do estudo.
A eficácia das intervenções de relaxamento variou de acordo com o tipo de prática. A musicoterapia se destacou principalmente na redução do estresse, ansiedade e sintomas depressivos. Por outro lado, o relaxamento muscular progressivo e os exercícios de respiração profunda foram mais eficazes em aumentar o peso ao nascer.
Essa diferenciação sugere que, embora todas as técnicas de relaxamento sejam benéficas, algumas práticas são mais adequadas para abordar aspectos específicos da saúde materna e fetal.
O estudo também abordou a duração e a frequência dessas intervenções. Os participantes realizaram práticas de relaxamento que variaram de sessões breves, com cerca de 10 minutos, a rotinas mais longas, que se estenderam por até seis meses de prática diária. Essa variação indica que até mesmo técnicas de relaxamento de curto prazo geram benefícios significativos, tornando-as acessíveis e viáveis para gestantes com diferentes rotinas e compromissos.
No âmbito biológico, os mecanismos por trás dessas melhorias são multifacetados. Intervenções de relaxamento ajudam a reduzir a tensão muscular causada pelo estresse, o que, por sua vez, otimiza respostas fisiológicas, como pressão arterial e frequência cardíaca.
Ao promover um estado de calma, essas práticas estimulam a neurogênese e a sinaptogênese, melhorando a saúde mental. E também, a redução da tensão fisiológica induzida pelo estresse traz melhores resultados gerais de saúde para a mãe e o bebê.
No geral, o estudo ressalta a importância de incorporar técnicas de relaxamento nos cuidados pré-natais, ainda mais em países de baixa renda. Os pesquisadores concluíram:
“Considerando a magnitude dos problemas psicológicos e da saúde mental materna no período perinatal, a alta incidência de complicações obstétricas e a carga global de morbidade e mortalidade materna e neonatal, os resultados desta revisão indicam que uma variedade de intervenções complementares pode ajudar a abordar esses problemas.
[N]ós recomendamos que essas intervenções de relaxamento sejam avaliadas quanto à sua aceitabilidade, adequação e eficácia para melhorar os resultados de saúde materna e prole em PBRs [países de baixa renda].
A avaliação adicional dessas intervenções nesses contextos seria benéfica para entender se, em locais com insegurança alimentar severa e alta incidência de infecções, que afetam tanto a saúde materna quanto a infantil, as intervenções de relaxamento poderiam mitigar os efeitos prejudiciais dos estressores”.
Possíveis soluções para reduzir o estresse e a ansiedade durante a gravidez
Controlar o estresse durante a gravidez é essencial para o seu bem-estar e a saúde do seu bebê. Ao abordar as causas do estresse, você criará uma atmosfera mais relaxada e positiva para sua jornada de gravidez.
1. Incorpore a meditação à sua rotina diária: dedicar alguns minutos por dia à meditação reduzirá bastante seus níveis de estresse. Encontre um lugar tranquilo onde você possa sentar de maneira confortável e focar na sua respiração. Até mesmo sessões curtas de 10 minutos podem acalmar sua mente, reduzir a pressão arterial e melhorar seu humor geral. Experimente meditações guiadas ou utilize um aplicativo de meditação para te ajudar a ter consistência.
2. Pratique atenção plena ao longo do dia: a atenção plena consiste em permanecer presente e envolvido por completo no momento atual. Quer esteja comendo, caminhando ou passando tempo com pessoas queridas, preste muita atenção ao seu redor e às suas sensações. Essa prática ajuda a controlar a ansiedade, impedindo que sua mente fique presa em pensamentos negativos. Comece respirando de forma profunda e observando os detalhes da sua atividade do momento.
3. Participe de atividades divertidas que ajudem a aliviar o estresse: atividades que você gosta e que fazem você perder a noção do tempo são excelentes para aliviar o estresse. Pintar, dançar, tocar um instrumento musical ou cuidar do jardim são exemplos de atividades lúdicas que ajudam a relaxar e desviar o foco das pressões do dia a dia. Escolha atividades que lhe tragam alegria e façam você se sentir bem.
4. Utilize Técnicas de Libertação Emocional (EFT): a EFT, também conhecida como tapping, combina leves toques em pontos específicos do corpo com respiração controlada e afirmações positivas. Essa técnica ajuda a liberar bloqueios emocionais e reduzir o estresse.
Para praticar EFT, toque de maneira suave na lateral da sua mão enquanto repete uma afirmação positiva, como “Estou calma e relaxada”. Incorporar a EFT na sua rotina diária melhora sua resiliência emocional e bem-estar geral durante a gravidez.
Fonte: mercola