Pela primeira vez, um cientista brasileiro assumiu a direção executiva da Academia Mundial de Ciências: o físico Marcelo Knobel.
A Academia (TWAS, na sigla em inglês) é uma organização internacional ligada à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) que promove a pesquisa científica de excelência para o desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento.
O brasileiro de 56 anos nasceu em Buenos Aires, na Argentina, filho de Clara Freud, psicóloga parente distante de Sigmund Freud, e de Maurício Knobel, um dos maiores nomes da psiquiatria na América Latina. Ele veio com seus pais para o Brasil aos oito anos de idade, fugindo da ditadura no país vizinho.
Ele vai substituir o físico teórico indiano Atish Dabholkar, que liderou a organização entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024. Seu posto tem validade de dois anos, mas pode ser prorrogado. A sede da TWAS, onde Knobel vai trabalhar, fica no Centro Internacional para Física Teórica, em Trieste, na Itália.
Marcelo Knobel é professor titular do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele também foi reitor da Unicamp entre 2017 e 2021 (fator decisivo para sua escolha como diretor executivo da TWAS), e atuou brevemente como presidente do Insper em 2023.
“O histórico excepcional de Marcelo Knobel como cientista, educador e defensor da comunicação científica faz dele uma adição estelar à Academia Mundial de Ciências”, afirmou a diretora-geral assistente de ciências naturais da UNESCO, a moçambicana Lidia Brito, em um anúncio da TWAS.
“Estou ansioso para ajudar a TWAS a trazer mais oportunidades para cientistas espalhados pelo Sul global, além de ajudar a mostrar como a ciência é nossa maior aliada na busca por um mundo mais justo, mais seguro e mais feliz”, afirmou Knobel no mesmo anúncio.
A TWAS recebe financiamento por meio de parcerias com governos e instituições de ensino e pesquisa. O desafio de Knobel vai ser conseguir avançar essas parcerias num contexto geopolítico hostil à colaboração internacional e com verbas escassas para pesquisa científica (especialmente nos países em desenvolvimento). A organização atua por meio de bolsas de estudo, intercâmbios e projetos de colaboração científica para fortalecer a ciência de países em desenvolvimento.
Defensor da divulgação científica
O físico brasileiro já tem uma participação antiga na organização há anos, começando como um afiliado jovem até ser eleito membro da TWAS. Ele é dedicado à ideia de comunicar o que acontece na ciência para a maior quantidade possível de pessoas. Por causa disso, ele fundou o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, colaborou com o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da mesma instituição e ganhou o prêmio José Reis de divulgação científica do CNPq.
Knobel se formou em Física pela Unicamp em 1989, e se tornou Doutor em Ciências pela mesma universidade só três anos depois. Sua pesquisa no Departamento de Física da Matéria Condensada da Unicamp é focada em estudar as propriedades físicas da matéria, especialmente magnetorresistência, por meio de experimentos com materiais magnéticos nanoestruturados (ou seja, materiais formados por estruturas minúsculas, medidas na casa dos nanômetros – mil vezes menor que um milímetro).
Em 2020, ainda à frente da Unicamp, Knobel foi o primeiro reitor de universidade pública do Brasil a parar com as atividades presenciais para impedir a disseminação de Covid-19. Na época, ele foi muito criticado pela decisão, já que o poder do Sars-CoV-2 era constantemente minimizado. No ano seguinte, ele lançou o livro A Ilusão da Lua, pela Editora Contexto, sobre combater o negacionismo científico.
“Sem ciência, nós não temos futuro”, afirmou Knobel no anúncio da direção executiva da Academia Mundial de Ciências. “É a ciência que pode nos dar as ferramentas para lutar contra as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e novas e velhas doenças.”
Fonte: abril