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Ciência & Saúde

Pássaros usam pele de cobra para proteger ninho de predadores: uma estratégia inteligente de segurança.

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Existe uma variedade enorme de materiais que podem ser utilizados por pássaros na construção de seus ninhos. Muito além dos gravetos, existem espécies que usam pêlos de animais, lama, algodão e muitos tipos de fibras vegetais. Mas algumas optam por fazer seus ninhos com pele de cobra. Mais do que uma decoração inusitada, um novo estuda aponta que as prática ajuda a afastar predadores.

A técnica é mais comum entre pássaros que fazem ninhos em cavidades – cobertos e com pequenas aberturas. Os autores afirmam que a estratégia deve servir contra camundongos e pequenos mamíferos, que predam as aves mas têm medo de cobras. A descoberta foi publicada em dezembro na revista The American Naturalist.

“Acreditamos que um histórico evolutivo de interações prejudiciais entre predadores de pequeno porte de pássaros que são frequentemente comidos por cobras deve fazer com que esses predadores tenham medo da pele de cobra dentro de um ninho”, disse, em comunicado, Vanya Rohwer, principal autor da nova pesquisa. “Isso pode mudar seu processo de decisão de entrar ou não em um ninho.”

O uso de pele de cobra em ninhos de pássaros já era conhecido e observado há séculos. Segundo Rohwer, o objetivo do estudo foi tentar “entender por que as aves investem todo esse tempo e esforço para encontrar esse material bizarro.”

Os pesquisadores utilizaram grandes bancos de dados históricos sobre. Em um primeiro momento, a revisão de registros no site Birds of the World e de artigos acadêmicos que mencionavam o fenômeno já revelou bastante sobre o panorama geral.

Os dados mostravam que o comportamento está associado à ordem dos passeriformes. Dentro desse grupo, as aves que construíam ninhos com cavidades em vez de ninhos com copas abertas tinham uma probabilidade significativamente maior de usar pele de cobra.

Essas análises se repetiram quando os pesquisadores analisaram os arquivos da Western Foundation of Vertebrate Zoology (Fundação Ocidental de Zoologia de Vertebrados, em tradução literal). A instituição conserva cartões deixados por colecionadores entre 1800 e 1950, uma fase em que a coleta de ninhos e ovos estava na moda. 

Este cartão de 1893 relata a descoberta de um ninho de papa-moscas-de-crista forrado com pele de cobra
Este cartão da Western Foundation of Vertebrate Zoology, de 1893, detalha as características de um ninho de maria-cavaleira (Myiarchus crinitus). Ele estava em um buraco em um carvalho e forrado com pele de cobra “como de costume”. (Fundação Ocidental de Zoologia de Vertebrados/Reprodução)

“A proporção de ninhos que tinham pele de cobra na descrição do ninho era cerca de 6,5 vezes maior nos ninhos de cavidade em comparação com os ninhos de copa aberta”, disse Rohwer. “Isso foi muito, muito legal, e nos sugeriu que temos essas duas linhas de dados totalmente independentes que estão contando uma história muito semelhante.”

Diante dessas explicações, chegou a hora de testar qual era o possível benefício que a pele de cobra oferece para esse tipo de ninho em específico. Eram várias possibilidades além de afastar predadores: a pele de cobra poderia também ter alguma influência em parasitas nocivos do ninho, na comunidade microbiana, ou funcionar como um sinal da qualidade dos pais e aumentar o esforço dos pais para criar seus filhotes.

Os cientistas bolaram, então, um experimento: usaram ovos de codorna para simular 140 ninhos na zona rural de Ithaca, no estado de Nova York, nos EUA. Eles escolheram dois tipos diferentes de ninho: 60 deles eram em caixas-ninho, simulando os ninhos de cavidade. Os outros 80 ninhos foram ninhos inativos de tordos-americanos, que botam nas copas de árvores.

Alguns ninhos receberam peles de cobra coletadas de um criador de cobras local e outros não. Os ninhos eram verificados a cada três dias, e monitorados com câmeras. Dentre as caixas-ninho, a chance de sobrevivência era muito maior nas que possuíam pele de cobra, mas a decoração inusitada não fez muita diferença nos ninhos abertos. 

As câmeras revelaram que uma variedade maior de animais visitava os ninhos de copa aberta, enquanto apenas pequenos mamíferos – principalmente esquilos voadores – visitavam as caixas-ninho. Como os esquilos são almoço fácil de cobras, os autores concluíram que a presença da pele os afasta e protege os pássaros.

Fonte: abril

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