O termo “vegetariano” surgiu na primeira metade do século 19 e se popularizou com a fundação da Sociedade Vegetariana, em Manchester, na Inglaterra, em 1847. Muito antes de haver uma palavra para descrever a prática, várias pessoas já seguiam uma dieta sem carne. Agora, um estudo descobriu que o vegetarianismo é antigo de verdade, com evidências de hominídeos vegetarianos há 3 milhões de anos.
Um time de pesquisadores do Instituto Max Planck para Química, da Alemanha, e da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, encontrou evidências de que ancestrais dos Homo sapiens, do gênero Australopithecus, viveram no sul da África entre 3,7 milhões e 3,3 milhões de anos atrás e sobreviveram com uma dieta baseada majoritariamente em plantas.
A pesquisa sobre os vegetarianos pré-históricos foi publicada no periódico Science. A entrada da carne na dieta dos hominídeos foi um importante momento para a evolução dos humanos: comidas ricas em proteínas já foram ligadas em outros estudos ao aumento do cérebro e à habilidade de desenvolver ferramentas.
Porém, ninguém sabe exatamente quando o consumo de carne começou, ou se ele realmente teve esse efeito decisivo na evolução. Esse novo estudo ajuda a elucidar a linha do tempo das mudanças da dieta humana.
Tem um pouco de nitrogênio no seu dente
Os dados sobre dieta dos Australopithecus vem da análise dos isótopos presentes no esmalte dos dentes de alguns indivíduos encontrados numa caverna perto de Johannesburgo. Para entender o que os dados significavam, eles compararam as informações dos Australopithecus com amostras dentárias de outras espécies que coexistiam com os hominídeos, como macacos e hienas.
O esmalte dentário é o tecido mais duro do corpo dos mamíferos, e ele pode guardar a memória da dieta de um hominídeo por milhões de anos. A análise da alimentação é feita prestando atenção no nitrogênio: quanto mais alto na cadeia alimentar, mais nitrogênio pesado (15N). Nos herbívoros e nas presas dos carnívoros, são encontradas altas proporções de nitrogênio leve (14N).
O método de isótopos de nitrogênio já foi usado para estudar a dieta de animais modernos em cabelo, garras, ossos e esmalte dentário, claro. Essa é a primeira pesquisa que usa o método de análise de isótopos num fóssil tão antigo, já que antes ele era limitado a espécimes de algumas dezenas de milhares de anos.
Os níveis de isótopos de nitrogênio nos dentes dos Australopithecus variavam, mas normalmente eram muito mais baixos do que carnívoros contemporâneos, comparáveis aos herbívoros. A conclusão do estudo é que a dieta era variável, mas consistia em sua maioria (ou exclusivamente, dependendo do espécime) de plantas.
Entre os Australopithecus, então, não era comum a prática de comer carne e caçar mamíferos grandes, como se dava entre os neandertais alguns milhões de anos depois. Não dá para dizer, com certeza, que esses ancestrais dos humanos de 3 milhões de anos atrás eram vegetarianos estritos – talvez houvesse o consumo ocasional de proteína animal com ovos e insetos –, mas eles com certeza não eram churrasqueiros.
O time por trás dessa pesquisa, liderado pela cientista Tina Lüdecke, pretende continuar pesquisando os hábitos de dieta de outras espécies de hominídeos para entender quando a carne entrou no cotidiano dos nossos ancestrais e se ela teve um papel fundamental em oferecer vantagens evolutivas para algum grupo.
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Fonte: abril