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Policial de Cuiabá se apaixona por cafés especiais e encontra na bebida um momento de relaxamento

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Enquanto passava por um período em que tentava se reencontrar e descobrir novas formas de lazer, em 2021, o policial Alexandre Vieira, de 52 anos, conheceu o universo dos cafés especiais, algo que se tornou um hobby que passou a acompanhá-lo durante os anos. Entusiasta dos grãos especiais e das diversas técnicas de preparo, coar a própria bebida é sinônimo de momento de descompressão para Alexandre. 


“Comecei a comprar minhas coisas, comecei um moedor simples, de parafuso, fui aprimorando. Como gosto de estudar muito as coisas que gosto, foi assim com vinho, por exemplo, fiz o mesmo com o café, você começa a descobrir novas coisas e ir comprando novos cafés. Não parei mais. Conheço quase todas as boas cafeterias de São Paulo, já fui em três edições do São Paulo Festival Coffee, tem o de Paris, Nova Iorque e o de São Paulo, é um grande evento de café”. 
Antes de entrar na Segurança Pública, Alexandre cursou agronomia e medicina, mas não concluiu as graduações por falta de afinidade. Logo em seguida, ele se formou em biologia e, no final do curso, passou no concurso para policial. 
Desde então, se passaram 22 anos, Alexandre lembra que viveu um período da vida adulta em que tinha o trabalho como foco e os hobbies que cultiva hoje, como o café, vinhos e discos, não encontravam espaço na rotina árdua. 
“Já fui diretor, já fui da Inteligência, já fui do Caminho Integrado de Fronteira… No começo a minha rotina era mais estressante, trabalhava muito, saí da direção doente, fiz tratamento durante dois anos. Não tinha hobbies, porque o trabalho me pegava muito, o que me desafogou foi entrar no mundo dos cafés, lembrei da época da faculdade quando gostava de livros e discos”. 
Alexandre conta que, quando começou a trabalhar como professor no colégio São Gonçalo, também adquiriu o hábito de tomar café, apesar de não conseguir gostar do sabor do pó vendido comercialmente em mercados. “Tomava muito pouco e era o que tinha disponível, não entendia sobre café”. 

O que colocou o policial no mundo do café, segundo ele, foi ter conhecido O Chapeleiro Café e Sebo, que fica na Praça da Mandioca, em Cuiabá. Alexandre recorda que o espaço o fez retomar a ligação que tinha com a cultura através dos discos e livros, algo que se perdeu por conta da rotina de trabalho e questões da vida. 
“Quando abriu, vi que era um sebo e antiquário, decidi conhecer. Resolvi tomar um café, se não me engano era um café colombiano, na hora vi que não era o café que estava acostumado a tomar, hoje sou apaixonado por café. Falo que meus hobbies são: café, tatuagem e vinho. O Chapeleiro me mostrou o que é café, hoje me considero amigo do Fábio e da Adriana [donos da cafeteria]”. 
O Chapeleiro se tornou um dos espaços preferidos de Alexandre, mesmo que ele já tenha conhecido dezenas de cafeterias com baristas premiados pelo Brasil. Ele conta que, no local, tem seu próprio livro que deixa para ler quando vai tomar um dos cafés do cardápio. 
“Quando comecei a ter mais tempo e Cuiabá voltou a oferecer uma vida cultural e gastronômica que não tinha antes, comecei a criar o hábito. Por exemplo, o hábito de leitura e música que tinha parado também, tudo voltou com o Chapeleiro”. 
Foi na cafeteria, em alguns dos bate-papos com os proprietários, que Alexandre começou a descobrir que o mundo dos cafés extrapola as marcas comerciais que ele estava acostumado a ver nas prateleiras dos mercados. 
“Esses cafés são por defeitos, o café especial não tem defeito nenhum, se você pega um tradicional, tem tantos defeitos por quantidade de grãos, você vai ver pedacinho de madeira, grãos quebrados… Não é que não é café, é um café com manejo comercial, mas sempre falo que é difícil em uma realidade brasileira pagar R$ 100 em 200 gramas de café”. 
Alexandre explica que o primeiro contato com cafés especiais e os métodos de extração — coador, prensa francesa ou V60, por exemplo, pode gerar estranheza, já que a bebida não tem a cor preta e o gosto amargo, que exige o uso de açúcar. 
“Às vezes a primeira impressão é achar o café aguado, mas tento explicar o porquê da cor do café, da diferença no sabor. Geralmente pego um café tradicional de mercado, como o Brasileiro, faço igual e sem açúcar, quando a pessoa toma um e depois o outro, a diferença fica gritante. Esses cafés comerciais não são possíveis de beber sem açúcar”. 
Como o mergulho no mundo dos cafés especiais ficou cada vez mais profundo, o policial conheceu os microlotes e nanolotes, que garantem a pureza e o sabor da bebida após a extração. 
“Microlotes você só pode trabalhar com 15 sacas de café e o nanolote só cinco. Tem alguns que são colheita manual, selecionada, então tem todo um trabalho para produzir esse café. Ele só bate de 88 pontos para cima”. 
Nos grupos de amigos, Alexandre já se tornou o entusiasta dos cafés especiais e filtrados. Em uma maleta, ele costuma carregar alguns grãos e os equipamentos que precisa para oferecer aos conhecidos bebidas que garantem uma explosão de sabores através de notas frutadas e cítricas, por exemplo. O Café mais raro e caro do Mundo – Kopi Luwak – custa US$ 600.00 por meio kilo. 
“Acontece isso, me ligam e falam: Alê, vem fazer café aqui. Eu vou reunir a turma e faço o café. É um hobby e uma coisa que não cobro, não é barato, mas não cobro, porque é uma coisa que eu gosto. Não pretendo fazer eventos grandes, porque não sou barista”. 
Apesar do hobby poder se tornar algo caro, Alexandre pondera que é possível começar a entrar no universo dos cafés especiais de maneira acessível. “Uma balança legal custa R$ 600, um moedor pode chegar a R$ 3 mil… Mas tem como, é o que falo, comecei com o moedor de parafuso, a primeira coisa que oriento é comprar um moedor, se não dá para comprar o de R$ 1 mil, tem de R$ 300 que são muito bons e tem o de parafuso, que comprei por R$ 80”. 

Além de ter sido parte importante da construção da paixão por cafés na vida de Alexandre, O Chapeleiro também foi palco de uma história de amor. Em 2021, mesmo ano em que ele conheceu a cafeteria, ele conheceu a arquiteta ᴀɴᴀ ᴄʀɪsᴛɪɴᴀ ʜɪʟʟᴇsʜᴇɪᴍ, que faleceu em 2021, após tratamento contra câncer de pele. 
“Quando separei em 2021, depois de uns oito meses, estava decidido a não ter mais relacionamentos por um tempo. Duas amigas falaram que eu tinha que conhecer alguém, eu brincava para me deixarem quieto, um dia me disseram para fazer um Tinder. Uma delas pegou meu celular e fez, criou o perfil”. 
“A Ana fazia quimioterapia, ela não podia tomar vacina da covid-19, porque estava com a imunidade muito baixa, a psicóloga dela disse para fazer uma rede social para conversar e distrair. A Ana foi uma das mulheres abandonadas por conta do câncer”, lembra Alexandre. 
Em um dos cômodos do Chapeleiro, o policial mostra a caixinha de música, que se tornou a favorita da arquiteta. Durante o relacionamento de quatro anos, a cafeteria também foi um lugar especial para o casal, que costumava ir ao local para provar os cafés especiais. 
“Ela adorava aqui também, ela conheceu café comigo também. Quando ela fazia quimio na Oncocenter aqui perto, eu pegava capuccino aqui e levava para ela. Quero fazer um projeto sobre isso, sobre a importância de estar junto e ser parceiro. Vivemos bem durante 1 ano e meio, depois foi muito hospital, ela teve câncer de pele, teve melanoma, fez o tratamento, fizemos o pet-scan não tinha mais nada. Passou três meses, inchou o tornozelo, deu metástase óssea, depois disso foi um ano”.

 

Fonte: Olhar Direto

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