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A Epidemia de Dança de 1518 na França: Mistério de Três Meses!

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A festa mais longa da história não foi um festival dos anos 60 e nem um techno na Alemanha. Ela aconteceu na cidade de Estrasburgo, França, no verão de 1518. Em julho daquele ano, uma mulher conhecida como Frau Troffea (senhora Troffea) começou a dançar nas ruas da cidade, sem música ou qualquer justificativa para o embalo. Ao longo dos dias (sim, dias dançando), mais pessoas se juntaram a ela, formando um baile na rua que durou três meses.

O episódio é conhecido como Praga da Dança de 1518. Algo que poderia facilmente se passar por ficção científica se não houvesse diversos relatos históricos do mesmo caso, inclusive do médico e alquimista Paracelso. O historiador John Waller, da Universidade Estadual de Michigan, escreveu um livro sobre essa que foi provavelmente a epidemia mais bizarra da história.

Segundo o autor, mais de 400 pessoas dançaram nas ruas de Estrasburgo ao longo dos três meses. Elas não pareciam ter controle da ação, visto que muitas gritavam por socorro, choravam de dor e tinham alucinações. Julho é altíssimo verão na França, e muitas pessoas desmaiaram ou caíram de exaustão após dançar sob o sol escaldante.

A situação obviamente preocupou as autoridades da cidade. A solução encontrada por eles foi incentivar mais dança, tentando vencer as pessoas pelo cansaço. Líderes civis e religiosos contrataram músicos e dançarinos para se juntar à festa macabra. O esforço, porém, só atraiu mais pessoas ao balaio. Alguns documentos póstumos apontam para a morte de um número de pessoas, mas um artigo publicado em 2016 diz que não há relatos de morte contemporâneos ao evento.

Estrasburgo não foi a primeira cidade a passar por uma epidemia de dança. Há documentos históricos sobre pessoas que dançavam descontroladamente em diversos lugares e períodos da Idade Média. O primeiro deles ocorreu na cidade alemã de Kölbigk, em 1021. O mesmo aconteceu em Erfurt, 1247. Em 1374, a compulsão pela dança se espalhou pela Alemanha e França.

“Enquanto alguns casos podem ser apócrifos, não há dúvidas de que as epidemias de 1374 e 1518 ocorreram”, escreve Waller em um artigo publicado no The Lancet. “Dezenas de crônicas confiáveis de diferentes cidades descrevem os eventos de 1374. E o desenrolar da epidemia de 1518 é detalhada minutamente com a ajuda de ordens municipais, sermões e descrições vívidas”. Há, inclusive, diferentes obras de arte que retratam a mania dançante.

Ilustração da Epidemia de dança de 1518.
(Wikimedia Commons/Reprodução)

Paracelso cunhou o termo “coreomania” para se referir à praga da dança. Na época, a dança era comumente considerada um castigo enviado por um santo, geralmente São João Batista ou São Vito. Algumas pessoas achavam que se tratava de uma possessão demoníaca. Hoje, existem teorias mais plausíveis para explicar o fenômeno.

Principais teorias

Independentemente do motivo para a dança, é provável que os bailantes estivessem vivenciando estados alterados de consciência. Uma teoria é que os cidadãos estavam com ergotismo, uma intoxicação adquirida após consumir farinha contaminada por esporão-do-centeio (​​Claviceps purpurea). Esse fungo ataca as plantações de centeio e produz alcaloides que causam alucinações. Não à toa, ele é usado para produzir LSD.

A intoxicação conjunta, causada pelo consumo do centeio contaminado, ajudaria a explicar o frenesi. Só que essa hipótese é considerada pouco provável. O ergotismo tem sintomas de uma doença, e não uma trip psicodélica. Segundo Waller, “é improvável que aqueles envenenados por ergot pudessem ter dançado por dias a fio”.

O historiador aposta que a epidemia de 1518 (e outras anteriores) foi uma histeria em massa causada por estresse. Estrasburgo passava por colheitas escassas, preços nas alturas, o surgimento da sífilis e a volta de doenças como a peste. Segundo Waller, o alto nível de estresse psicológico pode fazer as pessoas sucumbirem a um estado de transe. Nesse estado, as pessoas ficam menos conscientes da exaustão física e dores causadas pela dança incessante.

Mas por que dançar? Por que não chorar, protestar ou manifestar o estresse de outra forma? Isso ainda é um mistério. Após três meses, a epidemia de Estrasburgo acabou. No século 17, as epidemias de dança haviam parado em toda a Europa. 

Hoje é possível fazer pesquisas com base em documentos históricos e o contexto social da época para encontrar explicações sobre o fenômeno. No entanto, é possível que a causa e os detalhes da epidemia de dança nunca sejam compreendidos totalmente.

Fonte: abril

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo