A Organização Meteorológica Mundial (WMO) divulgou, no começo de dezembro, que há 55% de chance do fenômeno climático La Niña ocorrer entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Os dados disponíveis até agora indicam que essa Menina, caso venha, virá fraquinha: as correntes marítimas e ventos sobre o Pacífico já deverão ter voltado ao normal quando chegar o outono.
Mesmo assim, o verão que começou em 21 de dezembro deve ser mais ameno aqui em Pindorama, sem as ondas de calor aflitivas que acometeram o centro-sul do país ao longo de 2024. Os anos de Niña também costumam ser sinônimo de mais chuvas na Amazônia e menos chuvas na Região Sul – ufa.
Porém, ainda que 2025 dê um tempo, ele não será uma volta ao normal após um ano atípico de queimadas, cheias e outros desastres. É comum que haja anos mais ou menos frios, com maior ou menor propensão para fenômenos extremos em diferentes partes do mundo. O gráfico com a temperatura média do planeta, ano a ano, é uma linha serrilhada.
O que interessa é a tendência de longo prazo: o serrilhado sobe sem parar. Anos de Niño sempre foram mais quentes que anos de Niña. Mas os Niños de hoje são mais quentes que os Niños do passado, e o mesmo vale para as Niñas. 2025 ainda será o terceiro ano mais quente da história, atrás apenas de 2024 e 2023. Por sua vez, 2024 foi o primeiro ano da história com temperatura média 1,5 ºC acima dos padrões do século 19.
Temperaturas tão altas, você já está careca de ler, aumentam o potencial destrutivo de desastres climáticos. A retrospectiva meteorológica do ano passado não é boa: houve enchentes devastadoras no Paquistão (em março), na Espanha (em outubro) e, naturalmente, no Rio Grande do Sul em maio. Também houve deslizamentos de terra com centenas de vítimas na Índia e Papua Nova Guiné, bem como os ciclones Yagi na China e Trami nas Filipinas e os furacões Helene e Beryl nos EUA e no Caribe.
Isso é só um aperitivo do que está por vir se gente do naipe de Bolsonaro ou Trump continuar assumindo países e ensaiando golpes de Estado mundo afora. Em junho de 2017, vale lembrar, o loirão topetudo anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris (o país contribui com 13,5% das emissões de dióxido de carbono do mundo).
Em termos de potencial destrutivo – e também de afronta diplomática –, essa renúncia deveria ser tratada como equivalente à Crise dos Mísseis de Cuba em 1962. A diferença é que bombas destroem cidades em instantes, não décadas. O Fórum Econômico Mundial estima 14,5 milhões de mortes causadas por desastres intensificados pelo aquecimento global até 2050, e US$ 12,5 trilhões em perdas econômicas.
Não por coincidência, uma das maiores campanhas a favor do cumprimento do Acordo de Paris, a Iniciativa pelo Tratado de não proliferação de combustíveis fósseis, foi batizada em referência ao Tratado de não proliferação de armas nucleares de 1967.
Em 1985, George Kennan, que era conselheiro do Depto. de Estado dos EUA, já havia escrito o seguinte: “Nosso mundo, no presente, se vê diante de dois perigos supremos e sem precedentes. Um é o perigo não só de uma guerra nuclear, mas de qualquer grande guerra entre as grandes potências industriais. (…) O outro é o efeito devastador da industrialização moderna e da superpopulação no meio-ambiente. Um ameaça destruir a civilização pelo egoísmo temerário de suas rivalidades militares, o outro pelo abuso massivo de seu habitat natural.”
Fonte: abril